Grande Futebol
Nem o típico "desenrascanço" português ajudaria Jorge Almirón ou a UD Las Palmas
2017-12-06 22:05:00
Em Portugal contorna-se a inexperiência dos treinadores inscrevendo-os como adjuntos, contudo, nem isso ajudaria Almirón

Petit, Pepa e Sérgio Vieira foram ontem multados pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol. Por darem indicações de pé a partir do banco de suplentes, os três treinadores foram obrigados a pagar coimas no valor de 230 euros para Petit e Sérgio Vieira, e de 383 euros para Pepa. Tudo porque nenhum dos três técnicos tem o quarto nível do curso de treinadores, exigência curricular mínima para serem treinadores das duas primeiras divisões portuguesas. Petit, Pepa e Sérgio Vieira surgem, assim, na ficha de jogo, como treinadores adjuntos, razão pela qual não podem estar de pé a dar indicações constantes aos jogadores, algo que fizeram durante a jornada passada da liga portuguesa. Em Espanha, porém, a polémica com técnicos inexperientes é outra. Que o diga Jorge Almirón, que apesar de meses de grande sucesso pela América do Sul, não obteve licença para treinar na primeira divisão espanhola. Se em Portugal se arranjou forma de contornar a questão da inexperiência, nem o típico "desenrascanço" português serviria a Jorge Almirón.  

A época não está fácil para a UD Las Palmas. Depois de uma temporada que, sob o comando técnico de Quique Setién, alcançou a 14ª posição depois de passar meia época no top dez da liga espanhola recolhendo elogios de adversários e imprensa, só a saída do experiente técnico espanhol para Sevilha permitiu perceber-se o nível do feito da equipa das Ilhas Canárias. Em 2017/18 o Las Palmas não atina. Catorze jornadas volvidas, três vitórias e um empate, apenas, deixam o emblema insular na décima oitava posição da liga espanhola. Há duas semanas o cenário era ainda pior, uma vez que o empate perante a Real Sociedad e a vitória frente ao Betis nas jornadas mais recentes permitiram ao Las Palmas fugir ao último lugar da tabela e estabelecer-se agora no ante-penúltimo. Posição de despromoção, ainda assim. Pior que isso, os resultados registados pelo Las Palmas esta temporada já fizeram, até, duas vítimas. Manolo Márquez, que assumiu o comando técnico da equipa após a saída de Quique Setién, durou seis semanas de competição no cargo, enquanto Pako Ayestarán não resistiu a seis derrotas consecutivas na liga espanhola abandonando o cargo no final do mês de novembro. O sucessor, garantiu o Las Palmas, vinha da Argentina. As regras da Liga Espanhola – ao abrigo da legislação europeia -, porém, impediram-no. Mesmo que o sucessor de Manolo e de Ayestarán até seja um dos mais bem-sucedidos técnicos sul-americanos dos últimos tempos: Jorge Almirón. 

Aos 46 anos e com quase uma década de carreira como treinador no futebol profissional, poucos técnicos nos últimos meses registaram uma ascensão tão repentina quanto a de Jorge Almirón. Desde 2016, em particular, ano em que chegou ao Lanús, a carreira de Jorge Almirón tem sido pautada pelo sucesso. Em 2016, o técnico argentino teve um ano glorioso que só não teve seguimento em 2017 porque o Grémio não deixou. Depois do título argentino conquistado ao serviço do Lanús na primeira divisão argentina em 2016, título que permitiu ao Lanús a presença na Copa Libertadores 2017 e, ainda, que a equipa argentina disputasse, e vencesse, a Copa Bicentenário e a Supertaça argentina também em 2016, por pouco Almirón não escreveu um capitulo ainda mais impressionante ao serviço do clube argentino depois de liderar o Lanús a uma presença inédita na final da principal prova de clubes da América do Sul. Na final, porém, logo após uma remontada histórica perante o River Plate nas meias finais, o Lanús acabou duplamente derrotado pelo Grémio. Mesmo perante a derrota na final da competição internacional, nunca um treinador vencera tantos títulos ao serviço do Lanús.  

Jorge Almirón sentiu ter cumprido o seu dever por Lanús e abandonou o clube. Se a ideia passava por ingressar no futebol europeu e, em particular, no Las Palmas, o plano pode ter sofrido um duro revés. É que, apesar de Almirón ter já treinado clubes tanto no México, como na Argentina, não é certo que o argentino recolha o tempo necessário para poder treinar numa liga europeia. Tudo porque a UEFA, e por consequência a federação espanhola, exigem que um técnico estrangeiro, para treinar na Europa, necessite ter cinco anos de experiência como treinador principal de uma equipa de primeira divisão. Uma exigência que já no ano passado impossibilitou Guillermo Barros Schelotto de treinar em Itália e, em particular, a USC Palermo, tendo, na altura, a UEFA, proibido a inscrição do atual técnico do Boca Juniors. 

O namoro entre o Las Palmas e Almirón já não é novo e quem o assume é o próprio presidente do emblema canário. À rádio do clube, Miguel Ángel Ramírez confirmou ter chegado a um acordo total com Almirón, aguardando apenas a autorização de inscrição por parte da UEFA. Ramirez assumiu, ainda, que já no verão passado Almirón era a escolha prioritária para a sucessão a Quique Setién. "Realizámos um grande esforço financeiro para trazer Almirón para o clube. Já o quiseramos trazer no Verão, porém, foi-nos impossível fazê-lo devido ao seu compromisso com o Lanús".  

Certo, é que segundo a imprensa espanhola o Las Palmas está já a preparar um plano alternativo caso a UEFA chumbe Almirón e o técnico tenha ainda de se manter mais uns meses pela América do Sul. Hoje mesmo, publicações como a Marca dão conta do interesse mútuo entre Las Palmas e Paco Jémez, ex técnico do Rayo Vallecano que passou os últimos meses da carreira no México ao serviço do Cruz Azul onde será sucedido por Pedro Caixinha. A Marca define mesmo que "a chegada de Almirón ao Las Palmas é cada vez mais improvável". Mas, até aí, há problemas. Jémez só aceita o cargo se for... depois de janeiro. "O Las Palmas tem de entender que passei um ano longe de casa. São quase seis meses sem ver a minha mulher e a minha filha e necessito passar algum tempo com elas. Passar o Natal com elas", referiu à Marca, Paco Jémez que aproveitou mesmo para fazer uma declaração de amor ao clube insular. "Não tenho qualquer dúvida que um dia treinarei o Las Palmas. Não sei quando, mas sei que acontecerá". 

O futebol atual não parece estar, assim, para os inexperientes. Mesmo que nomes como Pepa ou Petit tenham um passado rico ao nível das seleções nacionais e carreira passada ao nível das principais divisões nacionais, quer como jogadores, quer como treinadores, certas exigências impossibilitam que, ao dia de hoje, tenham total liberdade para exercer os cargos para os quais foram contratados, algo que pode resultar em castigos tão caricatos quanto aqueles a que foram sujeitos nas últimas horas – em entrevista ao jornal Expresso, Silas também criticou a atual legislação presente no futebol português relativa a esta questão. Certo, é que nem o típico "desenrascanço" português permitiria que Almirón treinasse na Europa.