Grande Futebol
Mário Fernandes: bêbado, cãozinho e com enorme ajuda de Putin
2018-06-21 16:00:00
Em cinco minutos, tinha o passaporte na mão.

Um dos melhores jogadores da surpreendente seleção russa chama-se Mário Fernandes. Sim, tem nome de tuga, não é? Trata-se de um rapaz brasileiro, naturalizado russo, que conseguiu a nacionalidade com ajuda direta de Vladimir Putin. Em cinco minutos, tinha o passaporte na mão. Já lá vamos a esta história. A esta e à dos problemas com a bebida.

Antes, falemos do percurso estranho de Mário Fernandes. Este lateral-direito – que pode jogar a central – recusou jogar pelo Brasil, depois chegou a jogar pelo Brasil e, depois, recusou… jogar pelo Brasil. Confuso?

Em 2011, o então jogador do Grémio foi chamado à seleção brasileira. Recusou. Alegou falta de condições mentais para cumprir a função, algo que, mais tarde, assumiu ter sido por problemas com álcool. Bebia bastante, em discotecas e em casa, algo que até o levou a falhar treinos. Ficou logo com rótulo de indisciplinado, claro está. É que é preciso “peito” para recusar jogar pelo Brasil. Recentemente, o jogador assumiu-se arrependido pelo que fez para recusar essa chamada. “Se fosse hoje, naquela oportunidade, apresentar-me-ia, certamente. Eram problemas meus. Arrependo-me do que eu fiz.”

Em 2014, já como jogador do CSKA, foi chamado por Dunga à seleção, que considerou que todos merecem uma segunda oportunidade. Jogou num particular frente ao Japão, em Singapura, e não voltou a ser chamado.

Em 2018, após a lesão de Daniel Alves, foi convidado para integrar a seleção brasileira. Recusou. Já levava na mala uns quantos particulares pela Rússia, país que o acolheu, há seis anos, e lhe deu nacionalidade em 2017.

Por falar nisso…

Ser amigo de Putin tem vantagens

A forma como Mário Fernandes conseguiu ser cidadão russo é bizarra. Vladimir Putin, presidente da Rússia, é adepto confesso do CSKA. Mais: é fã das qualidades de Mário Fernandes e achou que este jogador seria uma boa adição a uma seleção russa pouco convincente e que organizaria o Mundial meses depois.

A partir daqui, foi fácil: consta que Putin chamou o jogador e, em cinco minutos, Máro Fernandes tinha o passaporte na mão, por decreto presidencial. Sem responder à habitual prova com uma catrefada de perguntas difíceis sobre a Rússia e sem precisar de falar e escrever em russo. Nada. Ser amigo de Putin tem vantagens.

E por falar em escrever em russo…

Um “cão” que entende, mas não fala

Mário Fernandes continua a falar tanto em russo como no dia em que Putin lhe deu a nacionalidade: zero. Apesar de estar em Moscovo há seis anos, o jogador assume que aprender russo é muito complicado. Ainda assim, diz que vai voltar às aulas em breve, “para o selecionador não ficar bravo”.

Para já, Mário Fernandes está safo. É que Cherchesov, selecionador russo, aceita, por enquanto, que o jogador não fale russo. “Ele é como um cão. Entende tudo o que nós dizemos, mas não fala nada. Mas desde que jogue bem…”, disse Cherchesov.

Mesmo sobre o hino nacional russo, Fernandes é claro: “Tenho de o aprender. É muito importante em qualquer país e, aqui, ainda mais. Se bem que nem o hino brasileiro eu sei cantar…”.

Tudo isto leva a alguma desconfiança dos sempre acerrimamente patriotas adeptos russos. Uma sondagem feita pela ESPN mostrou que os russos estão divididos quanto ao agrado de ver este brasileiro jogar pela Rússia.

FC Porto e Mourinho estiveram de olho nele

Voltemos à carreira de Mário Fernandes. Em 2012, o jovem promissor do Grémio foi comprado pelo CSKA. 15 milhões de euros tornaram-no o mais caro da história do clube de Moscovo e, claro, mereceu a desconfiança dos adeptos.

Ainda assim, créditos não lhe faltavam: um jogador já chamado à seleção brasileira e muito cobiçado por clubes europeus. Vejamos: chegou a ser apontado ao FC Porto e à Juventus e Mourinho, então treinador do Real Madrid, também quis levá-lo para Espanha. Consta que Florentino Peréz recusou dar tanto dinheiro por um desconhecido.

Desconhecido ou não, ele deu conta do recado, depois de decidir ir para o frio da Rússia. Começou como central, no Brasil, mas foi como lateral que impressionou a Europa a trazê-lo para o velho continente.

Na Rússia, mostrou que tem tudo: a defender, faz uso da altura, do jogo aéreo (forte a defender zonas interiores) e, sobretudo, da velocidade considerável para a altura que tem. A atacar, tem uma potência assinalável, qualidade técnica e cruza cada vez melhor. Em suma: um dos laterais mais completos do futebol europeu e que, não fosse a gratidão com o povo russo, se calhar já teria aceitado sair do CSKA. “Sou russo e agradeço o carinho de todos no país. Gostam muito de mim e eu só tenho de corresponder dentro de campo (…) só sairei quando o clube prescindir dos meus serviços”.

Voltando ao futebol, Mário Fernandes é ainda um jogador de uma utilidade tremenda. Pode ser lateral numa defesa a quatro, mas também pode ser um ala numa defesa a três, sendo um autêntico comboio no lado direito (faz lembrar um Lietchesteiner, mas com mais técnica). Pode ainda ser central numa defesa a 3, algo que, muitas vezes, acontece no CSKA.