Grande Futebol
Luís Pimenta, Rei do Norte, à conquista da Escandinávia
2018-04-16 16:00:00
Depois de um percurso épico na Noruega, Luís Pimenta procura agora fazer história na Suécia ao comando do Brommapojkarna

Estocolmo, Suécia. Apesar de ser a capital do país, Estocolmo festejou até hoje “somente” 13 títulos suecos. Títulos dispersos pelos três maiores clubes da cidade, o AIK, o Djurgardens e o Hammarby. Treze títulos que colocam Estocolmo na quarta posição das cidades suecas que mais títulos de futebol festejaram. É em Estocolmo que também encontramos Luís Pimenta e o IF Brommapojkarna, BP para os amigos. O objetivo do clube com sede na zona ocidental da capital sueca não passa tanto pelos títulos como passa pela formação de jogadores. É uma das melhores de toda a Escandinávia, diz-nos Luís Pimenta, hoje técnico principal da equipa sueca. Esta, é uma relação simbiótica: ambos estão a fazer história pela Escandinávia, ambos são dos projetos mais promissores que o futebol europeu pode oferecer neste momento.

A história do futebol sueco é rica no que à oportunidade dada a jovens e inovadores treinadores diz respeito. Veja-se o caso recente de Graham Potter no Östersunds, por exemplo, uma história que Luís Pimenta certamente gostaria de replicar no Brommapojkarna, clube que tão rapidamente caiu da primeira divisão à terceira, como se reergueu em seguida. A lenda do futebol sueco Olof Mellberg foi o responsável pela dupla promoção do BP e é agora com o clube estabelecido na primeira divisão sueca que Luís Pimenta chega também ao futebol do país. Destacado pela conceituada revista Four Four Two como um dos técnicos mais promissores do futebol mundial, ao Bancada, o jovem técnico português de 36 anos assegura que não sentiu qualquer pressão em suceder a Mellberg e que o trabalho realizado pelo antecessor só o pode ajudar a fazer um bom trabalho por Estocolmo.

“Apenas sucedi ao Olof devido ao trabalho desenvolvido e aos resultados obtidos no clube anterior. O nosso percurso é bastante similar: ele conseguiu duas promoções e uma meia final da taca em dois anos; eu uma promoção, uma final de playoff para segunda promoção consecutiva e chegámos à final da taca, também em duas épocas. O Olof fez um grande trabalho e, na minha opinião isso apenas ajuda: os jogadores têm uma preparação de base melhor do que se tivessem tido um treinador menos bom”, diz-nos.

A ascensão de Luís Pimenta é tão entusiasmante quanto a do seu novo clube. Depois de uma passagem pelo Honefoss da Noruega como adjunto, Pimenta pegou no Kongsvinger do mesmo país e em dois anos roçou o épico. Com o clube arredado da primeira divisão norueguesa desde 2010 e enterrado na terceira divisão quando Pimenta lhe pegou, em dois anos o português deixou o centenário emblema à beira do regresso ao convívio com os grandes da Noruega levando-o mesmo à final da Taça que perdeu para o gigante Rosenborg. 90 minutos foi tudo o que separou o Kongsvinger do regresso à Eliteserien, com a equipa de Luís Pimenta a perder a final do playoff de promoção para o FK Jerv. O percurso meteórico de Luís Pimenta não passou despercebido na Escandinávia e depois da saída de Olofo Mellberg do Brommapojkarna, o clube sueco fez Pimenta chegar à Allsvenskan. O segredo? Muito trabalho e, para o futuro, os objetivos são ambiciosos.

“O segredo foi estarmos dias e noites no escritório a trabalhar. Tanto eu como o Gonçalo Pereira (treinador adjunto) somos humildes ao ponto de perceber que, em qualquer liga, a quantidade de trabalho efetuado é determinante. Se, após isso, uma equipa técnica conseguir acrescentar a qualidade, através de uma constante melhoria dos processos, estará mais perto de obter resultados. Mas a quantidade de horas dedicadas será sempre fundamental”, explica-nos Luís Pimenta antes de traçar objetivos para esta temporada.  

“O objetivo do BP (Brommapojkarna) é de estabilizar na primeira divisão. É, na sua raiz, um clube formador, tendo um domínio claro de presenças na seleção sueca em todos os escalões. O ano passado voltou a ser considerada a melhor academia na Suécia e luta para ser a melhor na Escandinávia. Contudo, tem um projeto claro para estabilizar na primeira divisão, tendo nós para este ano estabelecido o objetivo de fazer a melhor época na historia do clube (34 pontos)”, diz-nos. Até ver, tudo dentro dos conformes. Apesar de ter ficado pela fase de grupos na Taça da Suécia onde venceu dois jogos perante o Dalkurd FF e o Gefle IF, apenas perdeu para o gigante Malmö, o clube mais bem-sucedido da Suécia (e na Taça da Suécia apenas passa o primeiro classificado de cada grupo), que fez três vitórias em três jogos na competição chegando mesmo a um final perante o Djurgarden que irá ser disputada em maio. Já no campeonato, com duas jornadas disputadas, venceu o BK Hacken e perdeu perante o IFK Norrköping, também ele, um dos emblemas mais bem-sucedidos na história do futebol sueco.

O percurso de Luís Pimenta é bastante peculiar e garantimos que não é a reencarnação de Roy Hodgson. Estudou em Liverpool, seguiu para a Noruega e está agora na Suécia. Como é que isto aconteceu? “Aconteceu devido a ter conhecido um treinador norueguês durante os meus anos em Liverpool. Quando ele assumiu um clube da primeira divisão norueguesa convidou-me para a equipa técnica e, devido a partilharmos formas de pensar semelhantes, achei que seria adequado. Correu muito bem e obtivemos a melhor classificação da história do clube. Após duas épocas ele teve proposta para assumir os Sub-21 da seleção e aí decidi assumir o Kongsvinger enquanto treinador principal. Acabaram por ser mais duas épocas com resultados muito bons e, entre outras oportunidades, surgiu este convite da primeira divisão sueca”, explica-nos.

Poliglota, formado em metodologia de treino e psicologia desportiva, Luís Pimenta é um verdadeiro camaleão cultural. Choques culturais não são para ele. Está a viver no sexto país desde que nasceu e fala fluentemente sete idiomas. Tudo com o objetivo de ser o melhor treinador possível. “Como decidi ser treinador bastante cedo, quis aprender vários idiomas para poder ter um contacto direto com os jogadores que, em qualquer plantel de primeira divisão, têm uma variedade tremenda nas origens. É uma estratégia de liderança, mas também de gestão de carreira, por me abrir muitos mercados. Hoje em dia estou confortável com o Português, Inglês, Francês, Espanhol, Alemão, Norueguês e Sueco (sueco apenas em compreensão, ainda não falado). Contudo não penso ficar por aqui e, quando o tempo me permite, vou aprendendo italiano por conta própria. A Noruega e a Suécia foram o quinto e sexto país em que vivi. Tenho 36 anos, mas muito hábito de me mudar e adaptar. Cultura local, hábitos, idioma, clima, alimentação... não senti dificuldade em nenhuma área. Isso permitiu-me também ajudar o Gonçalo quando se juntou a mim na Noruega e o Miguel Barata (preparador físico), que se juntou a nós agora neste projeto na Suécia”.

“O meu background é metodologia de treino (pela Faculdade de Motricidade Humana), mas sempre tive prazer em estudar aspetos relativos à psicologia do desporto, como por exemplo a liderança. Por isso decidi, de forma complementar, tirar mais uma licenciatura e fi-lo em Liverpool devido ao reconhecimento que têm nessa área. Contudo, o objetivo sempre foi ser treinador. Apenas defini um plano de desenvolvimento pessoal (teórico e prático) e essas duas etapas eram fundamentais na teoria. Enquanto estive em Inglaterra também trabalhei para o Bolton Wanderers e depois para o Liverpool FC - estas etapas tinham, por sua vez, um objetivo de desenvolvimento prático”, explica-nos ainda Luís Pimenta.

O percurso de carreira de Luís Pimenta tornam-no num dos mais promissores treinadores portugueses a trabalhar no estrangeiro. Um percurso que não passou despercebido, sequer, a publicações como a Four Four Two que na semana passada destacou Luís Pimenta como um dos dez treinadores desconhecidos a ter em conta, numa lista também presenciada por Miguel Cardoso do Rio Ave. Uma distinção que Luís Pimenta recebeu “de forma natural”. “É sempre bom ver o trabalho ser apreciado, quanto mais numa lista que inclui treinadores que estão em clubes de dimensão bastante grande e em ligas com maior destaque. O facto de ser um dos mais jovens da lista também é motivador. Contudo, o meu objetivo é ser melhor treinador em 2019 do que sou em 2018 e assim sucessivamente. E, com reconhecimento ou não, neste processo de desenvolvimento pessoal só eu estou em controlo”, assegura ao Bancada.

Qual o futuro de Luís Pimenta só o tempo poderá responder, mas uma coisa nos deixa certa: “A única historia de interesse é a que está por escrever”. Ficamos à espera, Luís.