Já é oficial e confirmado: Luis Enrique substitui Hierro e é o novo treinador da equipa nacional de Espanha, um conjunto que tem sido vítima de bastante turbulência ao longo do último mês. Antigo craque de Real Madrid e FC Barcelona, foi no clube da Catalunha que Luis Enrique chegou ao estatuto que o permite hoje ser selecionador nacional. E, mesmo sendo asturiano, ficou tão ligado ao FC Barcelona que já veio a público mostrar que escolheu um lado na rivalidade com o Real Madrid. Internacional 62 vezes pela seleção de Espanha, agora é a vez de tomar ele próprio o comando de uma equipa que, depois de dominar o planeta futebolístico, tem tido prestações abaixo do esperado em grandes competições.
Quando chegou ao FC Barcelona, em 2014, Luis Enrique não tinha uma tarefa fácil. Os catalães vinham de uma época com Tata Martino e o estilo de jogo não estava a resultar. Apesar de dominar a posse de bola em todos os jogos, os adversários iam-se surpreendendo cada vez menos com a estratégia do FC Barcelona, pelo que o trabalho de Luis Enrique permitiu dar uma nova vida ao ataque da equipa. Messi, Suárez e Neymar eram maiores referências e funcionaram às mil maravilhas com o técnico. Logo na temporada de estreia ganhou a Liga dos Campeões, a Liga Espanhola e a Taça do Rei. Esteve mais duas temporadas no clube, tendo ainda conquistado um Mundial de Clubes, uma Supertaça Europeia, outra Liga Espanhola, mais duas Taças do Rei e ainda uma Supertaça de Espanha.
Antes de chegar ao comando técnico da equipa principal do FC Barcelona, o treinador de 48 anos já havia liderado a equipa B do clube (de 2008 a 2011), a AS Roma (2011/12) e o Celta de Vigo (2013/14). Mas onde Luis Enrique mais brilhou foi mesmo nos relvados, dentro das quatro linhas. Formado no Sporting Gijón, não sendo ele oriundo das Astúrias, Luis Enrique assinou pelo Real Madrid ainda muito jovem. Esteve cinco épocas nos 'merengues', somou mais 200 jogos e conquistou os primeiros títulos da carreira. Em 1996, Luis Enrique tornou-se no terceiro jogador da história a trocar o Real Madrid pelo rival FC Barcelona e pegou de estaca nos 'blaugrana'. Foi ao serviço do FC Barcelona que se destacou como goleador (108 golos em 300 jogos e três épocas com mais de 15 golos) e onde ficou até ao fim da carreira, em 2004.
Depois disso, é o que se sabe. Luis Enrique passou para os bancos de suplentes quatro anos depois, mas continuou a praticar exercício físico. Na verdade, o antigo futebolista continuou a ser um atleta. Correu uma maratona em menos de três horas em 2007, em Florença, e participou também no Ironman de Frankfurt, um percurso que exige quase quatro quilómetros de natação, 180 de bicicleta e uma maratona. Luis Enrique completou a prova em dez horas e 19 minutos. Completou ainda as maratonas de Nova Iorque, Amsterdão e do Saara, sendo também surfista. Não admira, por isso, que o antigo jogador que foi incluído por Pelé na lista dos 100 melhores futebolistas do século XX puxe pelo físico dos jogadores que agora orienta.
Ao serviço de Espanha no Mundial de 2002 (Christophe Simon/EPA)
Utilizando tecnologia de ponta, Luis Enrique controla ao detalhe a preparação física dos seus plantéis. Utiliza GPS nos treinos e estuda os dados para perceber em que pé estão os jogadores, tem como hábito gerir a equipa com rotação para evitar lesões e é obcecado pelo controlo do peso. O 'Mundo Deportivo' diz mesmo que "controlava diariamente o peso dos jogadores e os dados chegavam no momento aos seus dispositivos pessoais como forma de conhecer ao detalhe o estado do futebolista". É também conhecido por dar muita importância aos lances de bola parada, tanto no ataque como na defesa. Livres e faltas são dois dos lances preferidos de Luis Enrique para chegar ao golo.
Outra das características bem conhecidas de Luis Enrique é a personalidade forte que, por vezes, faz com que as declarações do treinador sejam polémicas. Em novembro de 2014, antes de defrontar o Real Madrid pela primeira vez como treinador dos 'culés', Enrique disse que "para um jogador do FC Barcelona é sempre gratificante sentir os assobios no Santiago Bernabéu". Na mesma conferência de imprensa, Luis Enrique explicou que, quando vê os seus cromos do tempo em que era jogador, se sente "estranho" de branco. "O azul-grená assenta-me bastante melhor", completou. Luis Enrique também costuma criticar os árbitros quando assim o entende e não tem problemas em responder de forma menos simpática aos jornalistas quando não concorda com alguma coisa. Mas também consegue estar bem disposto e, em setembro de 2014, numa das primeiras conferências de imprensa como treinador do FC Barcelona, um jornalista bocejou e Luis Enrique respondeu prontamente. "Quem bocejou? Eu sei que as minhas conferências são aborrecidas, mas não me deixem isso tão claro", brincou.
Mas uma das frases mais conhecidas de Luis Enrique aconteceu já em 2017. Depois de Piqué ter dito que não gostava do Real Madrid nem "dos valores que transmite", Luis Enrique foi convidado a comentar e não deixou ninguém indiferente. "Os valores do Real Madrid? Sou mais radical que Piqué. Interpretem como quiserem", atirou. Assim sendo, é normal que a contratação para substituir Hierro no comando da seleção nacional de Espanha deixe mais satisfeitos os adeptos do FC Barcelona que os do Real Madrid.
