Ainda não se estreou, mas já faz história na Udinese. O clube italiano, que garantiu a continuidade entre os maiores do futebol transalpino na última jornada, deixou meio mundo boquiaberto ao apostar na contratação de Julio Velázquez, antigo treinador do Belenenses que na última época garantiu a permanência da AD Alcorcón na... segunda divisão espanhola e que vai tornar-se no primeiro treinador nascido nos anos 80 a treinar no principal escalão do futebol italiano.
Três dias depois de ter deixado a AD Alcorcón, apesar de ter contrato até 2019, o técnico espanhol, de 36 anos, foi escolhido pela família Pozzo, proprietária da Udinese, para dirigir os destinos da equipa na próxima temporada, em substituição do croata Igor Tudor, surpreendendo tudo e todos, tendo em conta que terminou a última temporada na 13.ª posição da Segunda liga espanhola. O facto foi notícia nos quatro cantos do mundo depois de nos últimos anos a Udinese ter apostado em treinadores como Lugi Del Neri, Massimo Oddo ou Igor Tudor.
Velázquez havia chegado a Alcorcón em 2016, em substituição do romeno Cosmin Contra, tendo alcançado duas permanências consecutivas no escalão secundário do país vizinho. Mas é recordado sobretudo por ter alcançado os quartos-de final da Taça do Rei, o seu principal cartão de visita, em janeiro de 2017. Antes de rumar a Espanha, Julio Velázquez treinou o Belenenses. Substituiu Sá Pinto no comando técnico dos azuis a 16 de dezembro de 2015, um dia depois de o treinador português ter apresentado a demissão. Em 24 jogos, obteve oito triunfos tendo acabado na nona posição da liga portuguesa. Ainda começou a época 2016/17, mas acabou por sair após sete jornadas em conflito com Rui Pedro Soares, o líder da SAD do clube do Restelo. "Houve disparidade de critérios em diferentes decisões que a direção tomou sem fazer qualquer consulta prévia nem ter em conta a minha opinião. Por uma questão de princípios e dignidade profissional, considerei que tinha de tomar esta decisão”, afirmou, na altura, acrescentando: "Saio de consciência tranquila mas muito triste. Havia um grupo humano muito bom, trabalhador, profissional e humilde. Tínhamos muitas expectativas com o que se estava a construir. Vou querer sempre o melhor para o Belenenses”.
O novo técnico da Udinese tem um percurso deveras curioso, tendo em atenção que não seguiu o tradicional caminho de um treinador, que habitulmente começa por ser jogador. Com Julio Velázquez não foi assim, ao ponto de aos... 15 anos já ser... treinador. É verdade. "A minha paixão é o futebol. Se tivesse tido capacidade para ser jogador, jogaria, mas aos 15 anos já via que o meu caminho no futebol passava por ser treinador", conta o ainda jovem técnico, de 36 anos, sublinhando: "Sempre tive essa inquietação de treinar e foi a isso que me dediquei." Maturana e Cantatore, que chegou a treinar o Sporting, foram referências para Velázquez. "Ia para os anexos do Valhadolid ver treinar Maturana e Cantatore. Escapava-me da escola quando podia e passava a manhã a vê-los trabalhar."
Ao longo dos anos, Julio Velázquez diz que aprendeu a viver com a pressão. "Quando treinava nos regionais é que tinha pressão. Tinha de calcular os preços no supermercado para ver se o dinheiro chegava até ao fim do mês. Agora, sou um privilegiado."
Admirador do futebol de ataque, Velázquez prefere adaptar-se aos jogadores que tem ao dispor do que adaptar os jogadores a um sistema de jogo. "O futebol é dos jogadores e não dos treinadores", costuma dizer.
