Parece anedota, mas não é. Ismaily… soa-lhe a algo? E se lhe pedir para dizer a palavra inglesa “smiley” com sotaque do português do Brasil? Ora bem. Ismaily passou por Portugal, vai fazendo em 2017/18 a sétima temporada ao serviço do Shakhtar Donetsk pela Ucrânia e aos 28 anos alcançou um sonho pessoal e um objetivo de carreira: pela primeira vez chegou à seleção do seu país. O nome com que foi batizado há 28 anos não é particularmente comum e isso tem uma explicação: um filme de 1956 cuja personagem principal se chamava, lá está, Smiley.
“O Rapaz e a Bicicleta”, é-lhe familiar? Estreou a 11 de abril de 1957 em Portugal e talvez já o tenha apanhado por aí numa qualquer sessão de revivalismo cinematográfico. Com Colin Petersen como personagem principal, o então jovem ator não cresceu sendo uma figura conhecida de Hollywood. Além de Smiley, Petersen protagonizou somente mais três filmes. A interpretação como Smiley Greevins n”O Rapaz e a Bicicleta”, porém foi tão marcante que os pais de Ismaily Gonçalves dos Santos, há 28 anos, batizaram o filho em homenagem à personagem interpretada por Colin Petersen.
Tudo isto, segundo o pai do antigo lateral de Estoril Praia, Olhanense e SC Braga, porque a personagem principal do filme "Smiley" de 1956, interpretado por Colin Petersen, emocionou o casal Gonçalves dos Santos quando a mãe estava grávida de Ismaily. Tão emocionados ficaram, que nem a falta de conhecimento de inglês invalidou que, pelo menos foneticamente, o nome de Ismaily se assemelhasse ao da personagem de “O Rapaz e a Bicicleta”.
Quem não foi em filmes foi Tite. Apesar da chamada inédita de Ismaily se ter dado devido às lesões de Alex Sandro, Alex Teles e Felipe Luís, o selecionador brasileiro assegurou que “Ismaily está jogando muito”, e que “a gente o acompanhou no Shakhtar”. A verdade, é que o lateral do Shakhtar vai protagonizando a temporada mais prolífica da carreira com quatro golos apontados em 32 jogos pela equipa de Paulo Fonseca, algo que até aqui nunca tinha conseguido. Só em 2015/16, Ismaily conseguira chegar aos três golos na mesma temporada. Tudo isto, depois de uma passagem quase despercebida por Portugal. Recordam-no melhor os adeptos de Estoril, Olhanense e SC Braga, clubes pelos quais, ao todo, Ismaily realizou 113 jogos em solo nacional.
A convocação de Ismaily é um sonho que o lateral há muito perseguia. “Sonho com isso, mas entendo o quanto é difícil. Fico feliz que muitos jogadores do Shakhtar recentemente tenham sido chamados para a Seleção. Precisamos trabalhar, desenvolver e possivelmente um dia isso vai acontecer”, referiu em novembro passado, não rejeitando a possibilidade de um dia, caso não conseguisse chegar à seleção canarinha, representar a seleção da Ucrânia. “Propuseram-me jogar pela seleção ucraniana. Não vejo nenhum problema. Sou apaixonado pela Ucrânia e estou pronto para defender as suas cores”, afirmou o lateral, que só não poderá defender a equipa ucraniana se disputar uma competição oficial com a camisola do Brasil.
Ou seja, mesmo que Ismaily defronte algum dos adversários do Brasil durante estes jogos amigáveis, tal não significa que o antigo lateral arsenalista não possa vir a representar a Ucrânia mais tarde. Afinal, a concorrência é feroz e não fossem as lesões quase epidémicas dos laterais esquerdos brasileiros e dificilmente Ismaily teria chegado à seleção brasileira. Por muito bem que o lateral até possa estar a jogar na Ucrânia como justificou Tite. Tite, que com as convocações inéditas de Ismaily e Willian José, superou Dunga no total de jogadores diferentes convocados durante a fase preparatória para um campeonato do Mundo.
Tite surpreendeu, esqueceu Wendell, Jorge ou Guilherme Arana e deu a Ismaily a sensação de poder vir um dia a representar a seleção do seu país. Repita connosco e sorria: Is-Mai-Ly. Eis o mais recente rookie da seleção brasileira, cujo nome tem origem num filme de 1956. Parece anedótico, mas não é.
