Grande Futebol
Igli Tare, o nacionalista albanês que é líder da revolução Laziale
2018-04-01 18:20:00
Desde que Igli Tare assumiu a posição de diretor desportivo da Lazio o clube romano retornou ao topo do futebol italiano

30 jogos. 17 vitórias. 57 pontos. Quinto lugar. Com 73 golos marcados já esta temporada na liga italiana – só este fim de semana foram seis ao Benevento -, a Lazio é por esta altura o melhor ataque da prova. Simone Inzaghi vai fazendo omeletes com ovos de qualidade, tornando a Lazio numa das propostas de futebol ofensivo mais entusiasmantes da Europa e se isso é possível deve-se a um nome em particular: Igli Tare. O albanês, antigo jogador laziale, é por esta altura um dos diretores desportivos mais respeitados do Mundo e há um antes e um depois no Olímpico de Roma desde a chegada de Igli Tare ao cargo em 2009. Tare é o rosto da revolução Laziale e esta é a história de como um albanês transformou um clube histórico e o retornou ao convívio com os grandes italianos na metade alta da tabela do Calcio.

Quando Igli Tare chegou a diretor desportivo da Lazio em abril de 2009, poucos meses após ter terminado a carreira ao serviço do emblema romano no final da temporada 2007/08 (e apenas três golos em dois anos em mais de cinquenta presenças pelo clube) a Lazio atravessava um dos períodos mais conturbados, a nível desportivo, da sua história. Entre 2004 e 2010, só por uma ocasião a Lazio terminou a temporada no Top-10 italiano. Quem estava habituado a ver a Lazio integrar o conjunto de clubes candidatos ao Scudetto numa altura em que a Serie A italiana era rainha no futebol europeu; quem estava habituado a ver a Lazio chegar longe e até vencer as competições europeias, certamente estranhou. Tudo mudou, porém, quando Igli Tare se tornou diretor desportivo Laziale e até à chegada de Monchi, esta temporada, à AS Roma, muitos eram aqueles que já consideravam Tare o melhor diretor desportivo a trabalhar no país.

“Não sei quando Milinkovic-Savic possa valer e nem sequer quero falar sobre isso. É certamente um valor superior a 80 ou 90 milhões de euros de qualquer maneira”. Se Milinkovic-Savic não é por esta altura o melhor jogador da Serie A italiana, Igli Tare acredita que o valor do jovem médio sérvio está, pelo menos, ao nível dos melhores. Milinkovic-Savic, é um dos rostos principais do trabalho de Igli Tare e tal como Candreva ou Hernanes pode possibilitar à Lazio uma venda estratosférica depois de ter chegado ao clube por valores relativamente modestos. Sim, certo que Milinkovic-Savic e Hernanes chegaram ao clube por mais de dez milhões de euros, mas nem por isso o clube italiano acabou por garantir um lucro significativo com a venda do brasileiro ou de Candreva e nem por isso a Lazio irá encaixar um valor ainda mais significativo com a mais que provável venda do sérvio este verão.

Milinkovic Savic, Miroslav Klose, Stefan de Vrij, Keita Baldé, Lucas Biglia, Ciro Immobile, Wesley Hoedt, Luis Alberto, Parolo, Felipe Anderson… Entre outros, todos estes nomes têm em comum o facto de terem chegado à Lazio pela mão de Igli Tare. O albanês tem sido o responsável pela revolução laziale e por ter ajudado ao regresso do emblema italiano ao topo do futebol do país. Curiosamente, apesar de todos estes nomes, é Lucas Leiva que recolhe o título de melhor contratação da carreira para o próprio Igli Tare. A verdade, é que apesar da Lazio não se a equipa mais segura defensivamente, a colocação de Leiva à frente da defesa permite que a equipa seja tão forte ofensivamente e que Ciro Immobile seja por esta altura o melhor marcador do campeonato italiano e Luis Alberto tenha renascido para o futebol no Olímpico de Roma. Igli Tare até pode ter o sonho de um dia treinar a seleção albanesa, mas é como diretor desportivo da Lazio que vai criando a sua obra prima.

Depois de ter terminado 2016/17 em quinto lugar na Serie A, a perda de Biglia e Keita pareceu meio caminho andado para que a Lazio perdesse terreno na frente da competição. Tal não aconteceu. A Lazio manteve-se na posição e ainda se tornou na ofensiva mais letal da competição. Desde que Igli Tare chegou à Lazio, só na temporada de estreia a equipa romana não terminou a Serie A na metade superior da tabela e, mais do que isso, só em duas ocasiões (fora a temporada de estreia), a Lazio ficou abaixo do sétimo lugar. Além disso, a Lazio passou a chegar regularmente aos quartos de final da Taça de Itália – desde 2012 que tal acontece – e venceu mesmo a competição em 2013, chegando ainda à final em 2015 e 2017. Leiva e Luis Alberto cresceram e as ausências de Biglia e Balde já nem são sentidas no Olímpico de Roma.

Nascido em Vlorë, cidade albanesa onde foi assinada a declaração de independência da Albânia, Tare mantém o sonho de um dia treinar a seleção albanesa. “Se um dia me tornar treinador, gostava de orientar o meu país e não um clube. Já recebi diversas ofertas de vários clubes, mas não me imagino longe da Lazio que é uma criatura que tenho ajudado a crescer durante 13 anos e está bem enraizada no meu coração”, assumiu à imprensa italiana. O amor pelo seu país não é surpresa. Tare é um conhecido nacionalista albanês, tendo ajudado vários refugiados albaneses com dinheiro e alojamento durante a mais recente Guerra do Kosovo, tendo sido bastante vocal no apoio ao Exército de Libertação Kosovar. Por agora, porém, é líder de outra revolução. A revolução laziale.