Grande Futebol
Hervé Renard: pinta de Hollywood, louco e com toque de Midas (Vídeo)
2017-11-13 12:20:00
Treinador francês levou Marrocos ao Mundial, 20 anos depois.

“Em África, ele pode pegar em 13 pigmeus do mato e torná-los vencedores da CAN, dois anos depois. Ele tem um feitiço incrível”

Hervé Renard tem pinta de galã de Hollywood – sempre com o bronze do sol de África, a camisa branca impecável e o penteado moderno –, mas é no futebol que faz as suas conquistas. É injusto atribuir a este treinador todo o mérito do apuramento de Marrocos para o Mundial 2018? Talvez. Mas o facto é que este francês, de 49 anos, já mostrou ter um toque de Midas. Na mitologia, Midas transformava coisas banais em ouro. No futebol, Renard transforma as sempre desorganizadas seleções africanas em equipas de troféus.

Primeiro, um pouco de história. Renard é, até hoje, o único treinador a ter vencido a CAN com duas seleções diferentes. Fê-lo em 2012, com a surpreendente e “underdog” seleção da Zâmbia, e repetiu a proeza em 2015, pela poderosa Costa do Marfim. Mas este sucesso contrasta com a habilidade para treinar clubes.

O extraordinário feito conseguido pela Zâmbia, em 2012, chamou a atenção de clubes da Liga Francesa. O Sochaux contratou Renard, em 2013/14, para salvar a equipa da descida, mas, aí, não houve toque de Midas. O técnico não conseguiu que a equipa da zona Este de França evitasse a descida à segunda divisão. Depois de ter vencido a CAN com a Costa do Marfim, recuperando parte da aura perdida em França, voltou a ser aposta de um clube da Ligue 1, em 2015/16, e… voltou a falhar. Foi despedido do Lille, logo em novembro, devido aos maus resultados.

O “francês especial” e… louco

Deixemos a história e passemos à loucura. Em África, Renard ganhou a alcunha de “francês especial”, por aquilo que foi conseguindo pelas seleções africanas (passou pela equipa de Angola, mas sem sucesso, ainda assim).

Mas nem só de talento para treinar se faz Renard. Este treinador já várias vezes deu provas de ter toques de louco, perdendo as estribeiras com vários jogadores. Trazemos-lhe dois exemplos. Ao famoso “tu vas où? Reste là! [onde vais? Fica lá]”, para Serge Aurier, já se juntou o mais grosseiro “putain de merde”, com Wilfried Kanon.

Para além da loucura e emoção que passa para os jogadores, Renard tem conquistado o continente do Kilimanjaro com a já referida capacidade de organizar as tradicionalmente anárquicas seleções africanas. Mustapha Hadji, ex-jogador do Sporting, explica o que mudou com Renard: “Ele tem feito um grande trabalho. É facilmente percetível o ambiente vivido pela equipa. Há mais paixão dos jogadores, além de ter trazido uma abordagem mais profissional à equipa. O espírito de equipa é soberbo e isso faz uma grande diferença”.

Um jogador banal que foi apanhar lixo

O ar de galã, para Renard, pouco significa. O treinador chegou a dizer, dias antes de vencer a sua primeira CAN, que a sua vida deu uma volta gigante. “Apanhei lixo durante oito anos e agora vou treinar na final do Campeonato Africano das Nações. O futebol é mágico, não é?”, disse, lembrando que, depois de terminar a carreira de jogador, teve uma empresa de recolha de lixo.

Agora, o ex-lixeiro levou Marrocos a um Mundial de futebol batendo a…Costa do Marfim. A “traição” aos seus antigos “meninos” marfinenses significa, para Marrocos, que Renard faz os “leões do Atlas” regressarem a um Mundial, algo que não acontecia desde 1998.

Agora, vem a viagem à Rússia. Nela, Hervé Renard espera encontra a França, logo na fase de grupos. “Não quero evitar ninguém. Pessoalmente, adoraria defrontar a França. Seria uma grande honra estar no mesmo grupo da França”, disse, após o jogo deste sábado.