Grande Futebol
Hamburger SV: um histórico à beira da despromoção e desta talvez não haja fuga
2018-03-06 16:00:00
Qual felino, o Hamburger SV parece ter sete vidas. 2017/18, porém, parece mesmo ser a temporada da despromoção.

Em Hamburgo o relógio não pára de contar. 55 anos e a contar. É o orgulho da cidade e, em especial, do Hamburger SV, o principal clube da mesma, para grande desgosto dos rivais FC St. Pauli. Na bancada do Volksparkstadion, como desde o dia em que foi construído, contam-se os minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, consecutivos em que o Hamburger faz parte da elite do futebol alemão. Como nenhum outro clube no país. O Hamburger SV é, afinal, o único emblema germânico que participou em todas as edições da Bundesliga desde que o campeonato alemão se reorganizou em 1962. O Bayern Munique até pode ser o clube mais bem-sucedido da competição, porém, só o Hamburger participou em todas as edições da prova e dela nunca caiu. Contudo, depois de vários anos a enganar o destino e a morte, os tempos de um Hamburger primodivisionário parecem mesmo estar a acabar. Vinte e cinco jornada cumpridas, o Hamburger é 17º classificado e a manutenção está já a sete pontos de distância. Tic tac…

É quase como um Big Ben futebolístico. Marca ao segundo o tempo em que o Hamburger se estabeleceu como clube da elite germânica. Se o Volksparkstadion ganhou o formato que hoje apresenta, deixando cair o velho e cada vez mais impopular recinto, em 2000, foi em 2001 que um relógio gigante no canto noroeste do estádio foi adicionado ao Volksparkstadion. Então como monumento que celebrava o estatuto de único clube alemão a ter participado em todas as edições da Bundesliga, desde então o relógio do Volksparkstadion parece ser mais motivo de pressão que de orgulho. Afinal, em 2001, poucos esperavam que anos mais tarde o histórico e gigante alemão fosse um clube em crise.

Karlsruher, 2015. Junho. Depois de um empate a um golo em Hamburgo, noventa minutos iriam decidir quem, em 2015/16, se iria juntar à elite do futebol alemão. Se o Hamburgo, que havia terminado a Bundesliga na 16ª posição pela segunda temporada consecutiva, ou o Karlsruher SC que não visitava a primeira divisão alemã desde 2009 e esteve, até, na terceira divisão em 2012/13. Tudo parecia encaminhado para o Karlsruher e para que, à terceira, fosse de vez para o Hamburger. O relógio do Volksparkstadion, por momentos, quase parou. Reinhold Yabo, aos 78 minutos, colocou o Karlsruhe com um pé na Bundesliga. Mas o Hamburger, como os gatos, tem sete vidas. Marcelo Diáz, já em período de compensação final, um minuto depois da hora, empatou tudo e levou o Hamburger para o prolongamento. Um prolongamento dramático naquele que foi um dos jogos mais memoráveis de sempre do futebol alemão. Tudo se parecia encaminhar para uma decisão nas grandes penalidades. Vinte e cinco minutos jogados no prolongamento e nada. Até que… Nicolai Müller, aos 115 minutos, voltou a enganar o destino. 2-1. O Hamburger estava na frente. Tudo resolvido? Nem perto disso. Minuto 120. Grande penalidade para o Karlsruher. Mão na bola dentro da área. Rouwen Hennings pega na bola. Quer ser herói e acaba vilão. René Adler sim. Herói. Defende a grande penalidade de Hennings e pelo segundo ano consecutivo o Hamburger engana a morte e o destino. Tem sete vidas este Hamburgo. Se não caiu da Bundesliga naquele jogo, alguma vez acontecerá?

2015/16 foi uma temporada atípica no histórico emblema germânico. Sob o comando técnico de Bruno Labbadia, pela única vez nos últimos anos, o Hamburger não pareceu realmente perto de perder o estatuto histórico de clube primodivisionário que retém pela Alemanha. A equipa nunca caiu do 13º lugar ao longo de toda a temporada, terminando-a numa segura décima posição depois de uma vitória por 3-1 na última jornada perante o FC Augsburgo. A queda do histórico alemão, onde Uwe Seeler durante anos foi rei e senhor, porém, começou anos antes. O aviso foi dado em 2011/12 quando pouco depois de duas semifinais europeias consecutivas o Hamburger terminou a Bundesliga num perigoso 15º lugar. A sétima posição em 2013 terá enganado os responsáveis do clube e feito com que os sinais não fossem levados a sério. O Hamburger, porém, estava em crise.

Com exceção da temporada 2015/16, nos últimos anos, o Hamburger tem lutado sempre pela despromoção e colocado seriamente em risco o seu lugar junto da elite do futebol alemão. O histórico germânico tem enganado o destino e a morte, mas até quando? Nas últimas quatro temporadas, em duas delas o Hamburger apenas salvou o seu estatuto no último encontro da temporada. Ou melhor, só salvou o seu estatuto já depois da temporada terminar, com vitórias consecutivas nos play-off de promoção/despromoção contra o terceiro classificado da segunda liga alemã, quer em 2014, quer em 2015. Não só o Hamburger se manteve na Bundesliga nessas temporadas, como evitou que Greuther Fürth e Karlsruher SC regressassem ao convívio com a elite alemã. Fê-lo, o Hamburger, como nos filmes. Tal como o relógio do Volksparkstadion. Ao segundo.

O antigo campeão europeu parece, agora, resumido a lutar pela promoção e a ser salvo pelo tocar do sino. Qual final de Round. Quando em maio de 2017, Luca Waldschmidt, fez o golo da vitória do Hamburger frente ao VfL Wolfburgo na última jornada da liga alemã da temporada passada, aos 88 minutos, mais uma vez o Hamburgo se salvou à última da hora. Só uma vitória evitava que o histórico alemão terminasse a temporada pela terceira vez em quatro anos a ter de disputar o play-off de manutenção. Os adeptos festejaram como se de um título se tratasse. Não faltou uma invasão de campo e gente sentada nas traves da baliza do Volksparkstadion. Waldschmidt, um pouco utilizado avançado, que até tinha entrado em campo somente dois minutos antes. Uma vitória que pôs termo a cinco jogos consecutivos sem qualquer vitória do Hamburger e que, mais uma vez, tinham deixado o emblema germânico em maus lençóis. O relógio faz tic tac, mas, mais uma vez, continuou a contar.

Vinte e cinco jogos depois, em 2017/18, o Hamburger vai já no segundo treinador da temporada. Markus Gisdol, o homem que salvou o clube da despromoção depois de nele ter pegado em setembro de 2016, foi despedido em janeiro e é agora Bernd Hollerbach, antigo herói de culto em Hamburgo, que tenta voltar a enganar a morte e o destino do Hamburger. Hollerbach, recrutado ao Wuerzburger Kickers, clube que levou da quarta à segunda divisão alemã em apenas dois anos. O homem certo para um milagre? Com apenas quatro vitórias em vinte e cinco jogos e 18 pontos amealhados, esta é mesmo a pior temporada da história do Hamburger. O clube não vence desde novembro e quando entrar em campo frente ao Bayern no próximo sábado, fá-lo-á no meio de uma sequência de doze jogos consecutivos sem qualquer vitória. Sete deles derrotas. Salva-se, da temporada do Hamburger, a revelação Jann-Fiete Arp.

Qual felino, o clube parece ter sete vidas. Quatro delas, já foram gastas. A nove jogos do final da temporada, é melhor preparar o relógio, o dia está a chegar. Tic. Tac.