Grande Futebol
Hamburger SV e St. Pauli: um dérbi de visões distintas para o futebol
2018-10-02 15:00:00
Hamburger SV e St. Pauli protagonizaram mais um dérbi, pela primeira vez em sete anos, numa rivalidade histórica.

Uma cidade, dois clubes e uma rivalidade histórica. Hamburgo acolheu, no passado domingo, um duelo entre duas equipas que não mediam forças há sete anos. O Hamburger SV recebeu o St. Pauli num jogo que fica mais na memória pelo ambiente em seu torno do que propriamente pelo que aconteceu dentro das quatro linhas. Com um nulo como resultado final, o que saltou à vista foi um estádio com bancadas totalmente cheias. Pois bem, numa partida vista como de risco elevado, não faltaram os confrontos entre os adeptos, com algumas peripécias pelo meio, incluindo bombas de mau cheiro… e excrementos à porta do estádio na zona onde entravam os adeptos do St. Pauli.

O duelo de domingo tinha especial interesse, pois o motivo pelo qual nunca tinha acontecido no segundo escalão germânico é simples… é que o Hamburger nunca tinha descido da primeira divisão (lembra-se da história do relógio que teimava em não parar?). Vamos então ao confronto histórico que pauta este embate de rivais duradouros. Em 93 partidas realizadas entre as duas equipas, são os adeptos do Hamburger quem tem mais razões para sorrir, com 59 triunfos. O St. Pauli, por seu turno, conseguiu a vitória em 19 ocasiões. Nos restantes 15 encontros, entre os quais o de domingo, a igualdade no marcador foi o desfecho final.

Mas, engana-se quem pensa que o principal desta rivalidade é aquilo que acontece em campo. É nos adeptos que está o foco dos duelos entre Hamburger e St. Pauli. Tudo porque uns não combinam com os outros e são totalmente distintas as crenças de ambos. De um lado estão os adeptos radicais de direita do Hamburger e do outro os anti-fascistas de esquerda do St. Pauli. Quer mais ingredientes para uma rivalidade marcada pela violência? No Hamburger, o histórico do clube fala por si mesmo e os adeptos fazem questão de não o esquecer. “Seis vezes campeões alemães, quatro vezes vencedores da taça, sempre na primeira divisão, HSV [Hamburger SV]!”, é uma das canções entoadas pelos adeptos do Hamburger, emblema que em tempos acreditou ser a resposta do norte germânico ao poderio do Bayern Munique.

O St. Pauli, ao invés, nasceu com alternativa. Uma alternativa no ‘coração’ de Hamburgo que na década de 1980 ganhou notoriedade quando os extremistas de direita começaram a tomar conta dos territórios futebolísticos por toda a Alemanha, incluindo o Hamburger. “Dizem que nunca podes mudar de clube, mas em Hamburgo, nos anos 1980, isso era diferente. Eu cresci como adepto do Hamburger, mas toda a situação com os neo-nazis tornou-se demais para mim - e eu não era o único”, referiu Jörg Marwedel, um jornalista natural da cidade, em declarações ao ‘Süddeutsche Zeitung’.

Foi então que nasceu a parte ultra dos adeptos do St. Pauli, declarados anti-fascistas, anti-racistas e anti-homofóbicos. “O St. Pauli é definitivamente um clube de esquerda com posição política explícita e certos valores que defendemos”, referiu Lena, adepto do St. Pauli em declarações ao portal ‘Dw’. Ainda assim, este aficionado não vê o dérbi como uma questão de política. “O dérbi não é uma batalha política, mas sim um duelo de visões pelas quais o futebol deve ser orientado”, prosseguiu.

Aos patrocínios milionários e contratações do Hamburger opõe-se a visão do St. Pauli, um clube com poucas presenças no principal escalão alemão, mas que levou o mítico símbolo com uma caveira a ser reconhecido por todo o mundo fora. Cada um deles considera ser o principal clube da cidade de Hamburgo, mas a verdade é que há espaço para ambos. Agora na segunda liga alemã, este dérbi promete continuar a dar que falar e nem precisa que haja espetáculo dentro de campo, pois os adeptos nas bancadas certamente que os vão fazer ser inesquecíveis.