Grande Futebol
Guram Kashia, o futebolista georgiano mais corajoso da atualidade
2018-08-22 22:25:00
Kashia foi distinguido pela UEFA em prol da luta pelos direitos humanos apesar de receções hostis recebidas na Geórgia.

Desacatos, violência, motins, bombas de fumo, very lights... O apoio de Guram Kashia, capitão georgiano, à comunidade LGBT não caiu bem no seu país. Bandeiras arco-íris foram mesmo queimadas à porta da federação georgiana de futebol numa altura em que o defesa central era ainda capitão de equipa do Vitesse. Kashia foi ameaçado. Recebeu abuso nas redes sociais. Ameaças várias na intenção de o forçar a abandonar a seleção do leste europeu. Kashia não cedeu. Manteve-se fiel aos seus princípios e foi distinguido por isso. Hoje foi distinguido com o primeiro prémio #EqualGame promovido pela UEFA e destinado a jogadores que promovam a igualdade social como é o caso de Guram Kashia.

Durante oito anos Guram Kashia liderou a zona defensiva central da equipa do Vitesse. Ao longo de oito anos, fez praticamente trezentos jogos pelo Vitesse e, também praticamente, todos eles com a braçadeira orgulhosamente ostentada. Uma braçadeira que lhe foi dada em fevereiro de 2012, para não mais a largar. Kashia é um líder e não demorou muito a tornar-se, também em Arnhem, o líder do Vitesse. Em 2017/18, ao longo de 43 encontros, não só com o símbolo de líder do clube, mas também de líder pela igualdade social, de género, da luta pela afirmação sexual com uma braçadeira arco íris. Uma posição política e social que lhe valeu agora a distinção da UEFA pelos esforços feitos em prol disso mesmo.

“Congratulo o Guram pela sua forte personalidade e coragem. Guram tomou uma posição importante no seu apoio à comunidade LGBT e à luta pela igualdade a nível universal e merece vencer este prémio. Apesar das suas ações terem despertado ameaças e abusos dos mais varias grupos, continuou a promover a tolerância e a aceitação e ajudou muitos a alterar as suas perspetivas em relação a esta minoria no seu país natal, a Geórgia”, assinalou Aleksander Čeferin presidente da UEFA durante a atribuição da distinção feita a Guram Kashia.

Kashia é um pioneiro. Talvez não seja o primeiro georgiano a tomar a posição que tomou, porém, poucos com a sua expressividade o terão feito. Menos ainda os que não se terão atemorizado por tudo o que disso adveio. A UEFA não foi alheia a esse facto. Na edição inaugural do prémio relativo ao programa #EqualGame, o mesmo foi entregue a Kashia, reconhecendo um jogador que funcionou como pessoa modelo na promoção da diversidade, inclusão e acessibilidade no futebol europeu. Prémio que será entregue durante o sorteio para a fase de grupos da Liga dos Campeões desta temporada e numa altura em que Guram Kashia até já rumou ao San José Earthquakes da MLS.

Kashia foi um de vários capitães de equipa da liga holandesa que durante a temporada entraram em campo com braçadeiras arco íris de forma a mostrar o apoio à comunidade LGBT mas nenhum outro caso foi recebido com tamanha negatividade quanto a opção de Kashia o foi na Geórgia e isso fez mesmo a diferença como assumiu a UEFA. Uma medida corajosa que mereceu até o apoio do presidente da federação georgiana de futebol, Levan Kobiashvili, que mostrou o seu apoio à causa e à decisão de Kashia através das redes sociais. Uma resposta hostil a uma decisão da qual Kashia afirma perentoriamente não se arrepender de ter tomado.

“Sinto-me honrado que a UEFA me tenha distinguido como o justo vencedor do prémio #EqualGame. Eu acredito na igualdade para todos, independentemente daquilo que acreditas, do que amas ou de quem tu és. Quero agradecer ao Sr. Presidente da UEFA Aleksander Ceferin por este prémio e irei sempre defender a igualdade e os direitos de todos independentemente de onde estiver a jogar”, assegurou Kashia, internacional georgiano em 64 ocasiões, grande parte delas, com a braçadeira de capitão no braço.

Desde o início da temporada 2017/18 que a UEFA tem promovido o programa #EqualGame, em particular, durante jogos das suas competições. “O futebol tem um grande poder na alteração de conceitos sociais e pessoas que atuem como modelos nas suas comunidades e que utilizem o desporto para promover a igualdade e o bem merecem ser distinguidas”, explicou Ceferin justificando a criação de um prémio associado à campanha.

“A #EqualGame foi desenhada para difundir o espírito positivo da inclusão, para amplificar uma mensagem clara sobre os benefícios que o futebol traz à sociedade, para mostrar de que forma uma maior diversidade enriquece a modalidade e para explicar o papel da família do futebol europeu na criação de um desporto mais aberto e acessível a todos. Esta nova campanha procura ajudar a aproximar ainda mais a comunidade futebolística, assegurando ao mesmo tempo que valores como a inclusão, a igualdade de género e o combate à discriminação continuam na linha da frente da visão e dos princípios da UEFA”, explica o organismo no seu site oficial.

“A #EqualGame abraça as pessoas e as suas histórias no futebol – irá oferecer aos amantes do futebol por toda a Europa a oportunidade de expressarem o quanto a modalidade significa para eles. A UEFA vai também trabalhar em conjunto com as federações nacionais para encontrar histórias dignas de serem partilhadas num contexto europeu mais vasto. A #EqualGame planeia mostrar o que o futebol tem de melhor e a energia positiva do desporto, demonstrando como este pode ser um motor para a reconciliação, para a criação de amizades e para conferir significado às vidas das pessoas. A UEFA espera que esta nova iniciativa, verdadeiramente única, tenha um impacto positivo em demonstrar os benefícios sociais do futebol – e, mais importante, como o futebol pode unir todas as pessoas…”, pode ainda ler-se na página oficial da campanha.

Formado no Dínamo Tbilisi - clube do coração e da cidade em que nasceu pelo qual venceu liga, taça e supertaça entre 2007 e 2009 e pelo qual passou entre 2003 e 2010 até sair para a Holanda -, Kashia passou os últimos oito anos ao serviço do Vitesse que ajudou a vencer a Taça da Holanda na temporada 2016/17 um ano após ter sido considerado o melhor jogador do ano no clube de Arnhem. Kashia, que conta mais de 60 internacionalizações pela Georgia, foi ainda eleito o melhor jogador do país em duas ocasiões tanto em 2012, como em 2013. Vence, agora, o primeiro prémio #EqualGame pelo seu trabalho na difusão da causa LGBT e pela luta pela igualdade e direitos humanos e sociais. Porventura, o futebolista georgiano mais corajoso da atualidade. Um exemplo.

 
 
 
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"I always will be behind the equality in human beings on the pitch & off the pitch." @37gk reacts to winning @uefa_official’s #EqualGame Award! ?

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