Grande Futebol
Guedes, o miúdo que “sabe ouvir” e tornou uma fraqueza na principal arma
2018-06-08 20:00:00
O Bancada esteve à conversa com Hélder Cristóvão, que moldou Gonçalo Guedes na passagem do futebol júnior para sénior.

Gonçalo Guedes esteve em principal destaque no triunfo da Seleção Nacional sobre a Argélia, na quinta-feira, numa exibição coroada com dois golos e deu um passo de gigante para o onze português no Mundial. Formado no Benfica, o avançado que esta época foi uma das peças-chave do Valência CF está a subir patamares no futebol mundial muito graças a uma fraqueza que tornou em arma. Quem olha para o estilo de jogo de Guedes dentro das quatro linhas, vê alguém que é pressionante aquando da perda de bola, com uma agressividade positiva pelo meio. Porém, a verdade é que nem sempre foi assim e só quando chegou à formação secundária do Benfica é que o jovem moldou esta característica.

Hélder Cristóvão, ex-treinador da equipa B do Benfica, teve fulcral preponderância no desenvolvimento de Gonçalo Guedes, tal como contou o técnico em conversa com o Bancada. Um dos fatores que descreveu como fundamental para o nível a que Guedes chegou foi a aprendizagem da pressão na perda de bola. “Ele trazia uma reação à perda [de bola] muito fraca, então as primeiras indicações foi para ele treinar a perda de bola. O foco dele foi esse, porque ele tinha tudo o resto”, começou por referir Hélder. 

Guedes passou pela orientação de Hélder entre 2013 e 2015. “A primeira pré-época que ele fez foi muito boa, conseguiu interiorizar esse momento coletivo e individual e foi indo em crescendo.” O treinador revelou que sempre teve a crença de que o jovem de 21 anos renderia mais como segundo avançado, do que estando somente preso à ala, situação que tem vindo a acontecer recentemente na Seleção Nacional e ontem com a partilha da frente de ataque com Cristiano Ronaldo. “Eu sempre disse que o Gonçalo nunca seria um ala fixo, iria sempre derivar como segundo avançado, algo que também trabalhámos na equipa B e ele jogou grande parte da segunda temporada nessa posição, como tem feito agora na Seleção”, referiu Hélder.

No entanto, não apenas o capítulo tático chamou a atenção de Hélder quando começou a treinar Guedes, pois houve quem o alertasse para eventuais problemas comportamentais. “Quando recebi o Gonçalo na equipa B [do Benfica], alertaram-me para a dificuldade que era treiná-lo”, contou o técnico, antes de dar conta de que nunca teve qualquer tipo de dificuldade em guiar o jovem na equipa. “Sinceramente, eu nunca tive nenhuma dificuldade em fazê-lo. Diziam que ele trazia alguns comportamentos dos juniores que iam ser difíceis de moldar, mas comigo foi sempre muito fácil de lidar e de trabalhar com o Gonçalo, muito fácil mesmo. Ele é um miúdo sociável, que sabe ouvir e estar.”

Nem mesmo a primeira temporada menos conseguida em Paris abalou a confiança de Hélder no trajeto levado a cabo por Guedes. “Quando ele foi comprado pelo Paris Saint-Germain, vieram cá meios de comunicação franceses, porque especulava-se que o valor tinha sido exagerado. Eu sempre defendi que não. Um jogador como o Gonçalo iria ainda ser uma mais-valia para o PSG e está a comprová-lo agora, os 30 milhões de euros já parecem não ser quase nada e eles já pedem o dobro por ele”, considerou.

“O Gonçalo foi sempre dando indicações de que seria este tipo de jogador que está a ser agora e que vai ser muito melhor no futuro. Nunca nos enganámos em relação a ele, nem eu nem o Benfica. Estamos perante um jogador único, que reúne características de vários outros jogadores, tem explosão tremenda, remate fácil, está a conseguir aliar isso ao jogo de cabeça e um sacrifício enorme em termos coletivos, consegue ser um cumpridor taticamente rigoroso. É um jogador muito forte fisicamente, com uma agressividade muito positiva, uma explosão muito boa. Estamos a chegar a um Guedes de excelência”, referiu ainda Hélder. Será que o jovem português vai continuar a mostrar serviço na Seleção Nacional no Mundial?