"Um feito único para aquilo que é a dimensão do futebol de Gibraltar." Quem o diz é o português Marco Meireles, que jogou no Gibraltar United, a propósito da vitória histórica alcançada pela seleção gibraltina em casa da Arménia. "O futebol em Gibraltar é semi-profissional e a maioria dos jogadores são de lá", acrescenta ao Bancada o jogador português que passou pela formação do FC Porto e que regressou a Portugal para defender as cores do RD Águeda. No final da partida deste sábado telefonou ao guarda-redes titular, ex-companheiro de equipa, a dar-lhe os parabéns. "Defendeu tudo. Gibraltar soube sofrer para ganhar".
O dia 13 de outubro de 2018 ficará para sempre gravado na história do futebol de Gibraltar. Os homens do rochedo deslocaram-se a Erevan, a capital da Arménia, e venceram por 1-0, em jogo da Liga D, da novel Liga das Nações. Foi a primeira vitória oficial de Gibraltar, desde que a sua federação pertence à FIFA, o que aconteceu em maio de 2016, embora já tivesse derrotado Letónia e Malta, ambas também por 1-0, mas em duelos particulares.
Joseph Chipolina, lateral esquerdo de 35 anos do Lincoln Red Imps foi um dos heróis deste conto de fadas. Fez o único golo da partida, na conversão de um pontapé de penálti, aos 50 minutos, mas o verdadeiro herói foi outro. Kyle Godwin, eletricista de profissão. Até ao final da partida, Gibraltar foi sufocado mas valeu a grande exibição de Godwin, de 33 anos, e que alinha no Gibraltar Utd, a ex-equipa de Marco Meireles. No final do jogo, as lágrimas que escorriam da face do ex-companheiro de equipa de Meireles tinham razão de ser.
"Foi um jogo bastante sofrido, mas os jogadores de Gibraltar deram tudo, como sempre, e o guarda-redes [Kyle Godwin] esteve muito bem. Defendeu tudo", conta-nos Marco Meireles que viu o jogo pela televisão. Na final da partida telefonou ao companheiro de equipa para lhe felicitar pelo feito e perguntou-lhe como tinha sido ter pela frente um avançado como Henrikh Mkhitaryan, do Arsenal. "Ele estava eufórico com a vitória e começou a rir-se quando lhe perguntei, ao que ele disse-me que tinha sido fácil, e que tinha defendido todas as bolas".
Num país onde o futebol não tem grande projeção, a proeza de Gibraltar não foi festejada na rua, como nos conta Marco Meireles. "Em Gibraltar não se dá muita importância ao futebol, não se vai para a rua comemorar, mas nos cafés e restaurantes os adeptos costumam fazer a festa. Foi um feito inédito". E será possível esta seleção repetir no futuro mais vitórias? Marco Meireles mostra-se cauteloso. "É possível, sim, mas tem de continuar a sofrer muito. Gibraltar tem poucos jogadores e os que têm qualidade estão todos na casa dos 30 para cima. Por exemplo, o que marcou o golo de penálti [Joseph Chipolina] tem 30 anos e o irmão dele é o central da seleção [Roy Chipolina] e tem 35 anos. Mas sem dúvida que esta vitória dá moral".