É cabo-verdiano e passou pelo Real de Massamá, numa altura em que não tinha ninguém que o levasse aos treinos. Esta é a história de Garry Rodrigues, o atacante do Galatasaray a quem o FC Porto terá de dar especial atenção no jogo de quarta-feira. O Bancada esteve à conversa com quem conheceu o jovem, que “era uma jóia de pessoa”, e ficou a perceber alguns dos motivos que podem estar na base da ascensão demorada. “Houve uma série de fatores emocionais que atrasaram o seu crescimento”, contou-nos João Silva, o treinador que se cruzou com Garry Rodrigues nos juniores do Real SC.
“Ele, quando chegou ao Real, vinha da Holanda, e a família estava na Holanda e lembro-me do miúdo ter muitas dificuldades, não tinha ninguém que o levasse aos treinos e por causa disso faltava algumas vezes”, recordou, ao Bancada, João Silva, o treinador de juniores do Real SC na altura em que Garry Rodrigues aterrou em Lisboa. “Mas assim que ele apareceu lá nos treinos de captações eu fiquei imediatamente com ele. Lembro-me que ele era júnior de primeiro ano, mas já jogava connosco. Se bem me lembro, ele, quando chegou, no primeiro ano, nem sequer tinha a documentação e demorou algum tempo a ser inscrito, portanto ele esteve lá uns tempos em que só treinava… mas eu nunca o deixei fugir. Aliás, nós, Real, nunca o deixámos fugir”, afirmou o técnico.
Garry Rodrigues - o quarto a contar do lado direito - com a camisola do Real SC, em 2008
Garry Rodrigues é hoje, aos 27 anos, um dos jogadores mais importantes do próximo adversário do FC Porto na Liga dos Campeões. O cabo-verdiano está no início da terceira temporada ao serviço do Galatasaray onde tem impressionado pelas qualidade técnicas e pela facilidade com que marca golos. Esta temporada, já faturou por três vezes e na passada, onde foi fundamental para a conquista do título de campeão turco, marcou dez. Nada mau para um extremo. A verdade é que a ascensão do jogador, que começou a sua formação no Feyenoord, foi um tudo nada atípica. Depois de dois anos em Portugal, onde esteve no Real, GArry regressou à Holanda para disputar os escalões secundários.
Em conversa com o Bancada, João Silva admitiu alguma estranheza pelo facto de Garry Rodrigues ter demorado a atingir o patamar que conhece nos dias de hoje. De acordo com o antigo treinador do jogador do Galatasaray, a distância da família pode ter sido um factor decisivo na estabilidade emocional do jovem, que “era uma jóia de miúdo”. “Achei estranho ele não ter surgido noutro patamar mais cedo, como mais tarde veio acontecer - agora está no Galatasaray a jogar na Liga dos Campeões. O facto de ele ter demorado a surgir ao mais alto nível e de ter tido alguma intermitência pode estar relacionado com a falta da família. Ele estava longe da família, não tinha quem o levasse aos treinos e o facto de não treinar com regularidade pode ter afetado a ascensão dele. Houve ali uma série de fatores que o limitaram um pouco”, explicou João Silva.
Garry Rodrigues a conduzir a bola
Uma das grandes armas de Garry Rodrigues é a forma destemida como encara os defesas usando a velocidade e a capacidade de drible que já nos tempos de Real SC evidenciava. O Bancada esteve também à conversa com David Rosa, antigo colega de Garry Rodrigues, que nos revelou a estratégia assumida pelo cabo-verdiano quando jogava em Massamá: “Ele sabia que em termos físicos tinha poucas hipóteses de ganhar os lances, então usava a enorme capacidade de drible que tinha”, recordou o atual jogador do Casa Pia, que teve a amabilidade de nos enviar algumas fotos de Garry Rodrigues com a camisola do Real SC dos tempos em que partilhavam o balneário.
Quem corrobora dessa opinião é o técnico João Silva. O antigo treinador de Garry Rodrigues recordou os dias em que pôs, pela primeira, a vista em cima do “franzino” jogador: “Na altura quando ele apareceu lá, em Massamá, eu, em conversa com o diretor do futebol, o Luís Neves, e o coordenador João Pedro Ferreira, chegámos à conclusão que estávamos diante de um grande talento. Ele era muito baixinho, muito franzino, rápido e tecnicamente muito forte. E depois tem um lado criativo muito acentuado. Lembro-me de ele inventar jogadas do nada, tirava muitos coelhos da cartola, recordo-me bem disso”, sublinhou.
Garry Rodrigues com o número 2 nas costas
Depois de duas temporadas em Portugal, onde evoluiu na equipa de juniores do Real SC, Garry Rodrigues regressou à Holanda. Passou por clubes de escalões inferiores como Xerxez DZB, FC Boshuizen e FC Dordrecht, até que deu nas vistas, despertando o interesse do Levski Sófia, do escalão maior do futebol da Bulgária. Durante a temporada 2013/14, que lhe ia correndo à mil maravilhas ao serviço do Levski, recebeu uma proposta do Elche da primeira liga espanhola. Esteve no principal escalão do futebol espanhol até ao verão de 2015 quando se mudou para o PAOK, da Grécia.
Depois de uma temporada e meia a brilhar no futebol grego deu o salto para um dos maiores clubes da Turquia. Garry Rodrigues deixou o PAOK para se juntar ao Galatasaray, onde se tornou numa das principais peças da manobra ofensiva da equipa de Istambul, que reconquistou o título de campeão turco três anos após a última conquista. Vai ser, muito provavelmente, um dos jogadores a que Sérgio Conceição mais terá de dar atenção durante a partida de quarta-feira, no Estádio do Dragão, em mais um jogo de Liga dos Campeões.