Grande Futebol
Em queda livre, um filme de Nikola Kalinic
2018-06-18 20:00:00
Depois de uma temporada decepcionante em Milão, Kalinic foi agora expulso do Mundial pelo treinador croata.

Vertigo, um filme por Nikola Kalinic. Vertigo. Vertigem. Sensação ilusória de movimento do corpo ou movimento à volta do corpo. Para Kalinic o movimento não é nada ilusório. É, pelo contrário, bem real. A carreira de Kalinic está em queda livre. Quem o segura? Depois de uma temporada desperdiçada ao serviço do Milan onde não foi além dos seis golos em 41 jogos, nem no Mundial a redenção chegou. Se esperança tinha em liderar o ataque croata durante o Campeonato do Mundo, cedo a mesma ficou desfeita. O pior veio depois. Foi dispensado da competição por Zlatko Dalic sem qualquer minuto disputado na competição.

"Durante o encontro frente à Nigéria o Kalinic esteve em aquecimento com a perspetiva de entrar em campo durante a segunda parte. Contudo, o próprio referiu que não se sentia em condições de entrar em campo devido a dores nas costas. O mesmo aconteceu durante o particular frente ao Brasil em Inglaterra, tal como antes durante a sessão de treino de sábado. Calmamente aceitei a situação, e uma vez que preciso dos meus jogadores saudáveis e preparados para jogar, tomei esta decisão". Os rumores foram fortes durante o dia e, por fim, a confirmação oficial chegou. Zlatko Dalic afastava Kalinic da comitiva croata presente no Campeonato do Mundo e o "escândalo rebentava".

Para Kalinic não houve redenção. Se o Campeonato do Mundo servia como possível plataforma para relançar uma carreira que se estagnou por Milão, pior ficou. Chegado a Milão no início da temporada que findou por cerca de 25 milhões de euros para liderar o ataque da renovada equipa rossonera, Kalinic foi o rosto da desinspiração e deceção que marcou a temporada do histórico emblema italiano. 41 jogos. Seis golos. O mais experiente, reputado e goleador jogador presente no plantel do Milan perdeu para Cutrone, André Silva, Bonaventura, Suso e Calhanoglu no total de golos marcados da temporada milanesa.

Para Kalinic o falhanço em Milão surgiu em modo deja-vu. Tal qual a primeira experiência internacional do avançado croata quando em 2009 trocou o Hajduk Slip de sempre por Ewood Park e pelo Blackburn Rovers. Em Inglaterra decepcionou. Em duas épocas fez mais de cinquenta jogos pelo antigo campeão inglês e só apontou treze golos. Apenas sete deles na Premier League. Dois na temporada de estreia, cinco em 2010/11. Kalinic deu um passo atrás, rumou a Dnipro, para dar depois dois à frente.

Na Ucrânia, Kalinic reabilitou-se. Marcou 49 golos em quatro temporadas e uns dias antes de sair para Itália e para a Fiorentina numa segunda vida junto da elite do futebol. Ao serviço do Dnipro ajudou o clube a um par de temporadas de alto nível ao alcançar o segundo lugar na Premier League ucraniana em 2013/14 e ao alcançar a final da Liga Europa da temporada seguinte perdida apenas para o Sevilla FC. Em 2016/17 foi ainda eleito um dos jogadores da equipa de sonho da fase de grupos da competição já ao serviço da Fiorentina.

Foi na Fiorentina que Kalinic se redescobriu. Que se reconstruiu. Em Florença, em duas épocas, marcou 33 golos e recusou a China num aparente momento de lucidez desportiva que não foi acompanhado meses mais tarde. "O negócio estava feito mas eu rejeitei. O Fabio Cannavaro ligou-me mas para mim era um assunto encerrado. Não valho 50 milhões de euros e duvido que alguém gaste esse dinheiro comigo no futuro. Não sei ao certo o salário que iria receber mas o dinheiro não é tudo na vida", afirmara na altura Kalinic que, numa altura em que ia sendo apontado ao Milan, falhou um treino do clube Viola e acabou multado. "O jogador será castigado por ter violado os regulamentos disciplinares", frisou a Fiorentina em comunicado, após não ter dado qualquer explicação para o acto.

Fosse em Milão, fosse já a caminho da Rússia pela seleção croata. De Gattuso a Dalic não faltaram insinuações de fraco empenho e desempenho do avançado, com rumores na imprensa desportiva italiana a darem conta da ausência de Kalinic dos relvados e das convocatórias do Milan devido ao pouco empenho que prestava aos treinos do Milan. Registos justificados com os dados recolhidos pelos GPS usados pela equipa técnica dos Rossoneri. "Não posso fingir não ver quando alguém treina com o travão de mão puxado", comentou na altura Gattuso, deixando Kalinic de fora para um encontro do Milan perante o Chievo.

Decepcionante, a temporada de Kalinic no Milan não passou sequer despercebida a, por exemplo, Gianluca Vialli, antigo internacional italiano. "Se eu fosse diretor do Milan tinha guardado o dinheiro gasto em André Silva e Kalinic e contratava alguém como Belotti. Agora o problema é quanto valem no mercado. Não terão desvalorizado? Na minha opinião, o Milan precisa de um avançado", afirmou em abril o antigo internacional italiano.

Em Milão, Gattuso apelidou Kalinic de "preguiçoso" e de não ter desejo e ambição. Aos 30 anos e depois de uma temporada decepcionante que terminou com a expulsão da comitiva croata presente no Campeonato do Mundo que vai sendo disputado na Rússia, possivelmente a última oportunidade para que pudesse brilhar ao plano internacional, ainda haverá redenção para Kalinic? Haverá um último passo atrás para poder dar dois à frente e terminar a espiral descendente em que entrou? Este é um filme bem real, Nikola.