Grande Futebol
E se o seu clube quisesse pagar sem dinheiro “real”?
2018-08-01 20:00:00
Paul Dana, dono do clube, explicou, ao Bancada, de que forma a criptomoeda será introduzida.

Imagine o cenário: inventam uma nova forma digital e virtual de lhe pagar o salário, em vez do “dinheiro tradicional”. Aceitaria? O “Guardian” lançou a notícia de que, em Gibraltar – uma grande pedra quase toda rodeada de mar e com um aeroporto –, um clube vai pagar aos jogadores em criptomoeda. O clube, o Gibraltar United, foi a casa de vários jogadores portugueses, na última temporada.

Quisemos saber mais sobre isto e falámos com Chino, capitão desta equipa e, sobretudo, com Paul Dana, o dono do clube. Dana clarificou, ao Bancada, que a criptomoeda não será uma obrigação, mas sim uma alternativa.

“Será pedido que os jogadores e o staff da próxima temporada abram uma carteira digital e/ou que usem a APP Quantocoin [uma das plataformas de criptomoeda]. Eles terão, então, a opção de receber salários em moeda fiat [dinheiro a que estamos habituados] ou em Quantocoin.

Ainda assim, acrescenta, em matéria de prémios e bónus não há escolha. É aceitar o dinheiro virtual ou… ficar a arder. “Em relação a bônus e qualquer outro pagamento especial, eles serão pagos apenas em quantocoin”, explica.

A questão que colocámos foi, claro, se os jogadores teriam a possibilidade de recusar. "Os jogadores sabem que estamos a discutir isto desde outubro do ano passado. Em setembro, pediremos a escolha deles", alerta, antes de disparar: "No cash! Só contas bancárias ou criptomoeda".

O que é isto? Tu confias nisso, Chino?

Em traços gerais, a criptomoeda pode definir-se como uma circulação financeira virtual que não requer controlo de uma autoridade central – o Estado, por exemplo –, mas que é totalmente controlada por um sistema tecnológico global – blockchain – que regista todas as transações. A Bitcoin é, até agora, a mais conhecida das criptomoedas.

O governo de Gibraltar é pioneiro na inovação tecnológica do setor financeiro e introduziu regulação para este tipo de transação. O Gibraltar United, explica Dana, pretende que este tipo de transação traga “maior transparência aos acordos e que ajude a combater a corrupção e lavagem de dinheiro”.

E foi sobre esta questão da confiança que falámos com Chino, capitão do Gibraltar United. Ao Bancada, o guarda-redes mostrou-se pouco preocupado, porque confia nos dirigentes. A mim não me preocupa nada, porque temos profissionais a gerir o clube. Nunca falharam com nada. Nenhum pagamento falhou até hoje”.

São os primeiros a pagar assim, mas não os primeiros a usar

O Gibraltar United será o primeiro clube a pagar salários em criptomoeda, no futebol mundial, mas não é pioneiro na utilização deste sistema financeiro totalmente tecnológico.

O Arsenal, por exemplo, já assinou um acordo com a CashBet, empresa de criptomoeda. A ideia é criar uma comunidade de interação entre clubes e adeptos, conseguindo, idealmente, baixar o preço dos bilhetes e dos produtos dos clubes. Clubes como o Bari, de Itália, e o Alcobendas, de Espanha, também foram visados neste acordo. O Harunustaspor, clube turco, já fez uma transferência de um jogador através de criptomoeda, uma história que o João Pedro Cordeiro já lhe contou.

Mais curiosos são os casos de alguns jogadores. Didier Drogba tornou-se embaixador da All.me, uma comunidade de criptomoeda. Luis Suárez promoveu a Stox, uma plataforma blockchain para apostas, enquanto Ronaldinho lançou a “Ronaldinho Soccer Coin”, que pretende ser uma plataforma de apostas e estádios digitais. Jogadores e ex-jogadores como Figo, Messi, Owen e Roberto Carlos também já entraram neste Mundo de finança alternativa.

O mercado financeiro do futebol está a chegar a valores cada vez mais altos, pelo que a volatilidade da criptomoeda pode ser um entrave - bem como a desconfiança perante algo totalmente novo e pouco palpável - a que os grandes clubes abracem esta modernidade financeira. O dono do AC Milan, por exemplo, falhou quando tentou introduzir o clube italiano a este novo Mundo.