Grande Futebol
Durou nove meses a "aventura" de Fabio Capello na China
2018-03-31 11:00:00
O treinador, de 71 anos, admite terminar a carreira, mas o apelo italiano pode falar mais alto

Durou nove meses a "aventura" de Fabio Capello na China. O treinador italiano, de 71 anos, deixou o Jiangsu Suning, que representava desde junho de 2017, depois de as duas partes terem acordado a saída por mútuo acordo. Uma despedida motivada pelos maus resultados e que poderão determinar o fim da carreira de um dos treinadores mais bem sucedidos do planeta futebol a nível de clubes, porque desde que a partir de 2007 abraçou projetos de seleção a longo prazo (Inglaterra e Rússia) e a mais recente “aventura” chinesa, acumulou sucessivos fracassos. Aquando da apresentação no Jiangsu Suning foi o próprio Capello a dizer que esta seria a sua “última aventura” no futebol. Será?

Treinador de sucesso pelos clubes por onde passou (AC Milan, onde se sagrou campeão europeu e italiano, Real Madrid, AS Roma e Juventus, Capello orientou também as seleções de Inglaterra e Rússia onde, porém, não conseguiu triunfar, e cujo desfecho foi sempre turbulento. Em 2007, El General parecia aposta segura para conduzir uma seleção inglesa habituada a falhar, mas o casamento não resultou. Cinco anos depois, Capello saiu com imagem de tirano, e do italiano que não sabia, ou não queria, falar inglês. Foram cinco anos de uma relação turbulenta que custou cerca de 7,2 milhões de euros por ano, ele que era na altura o treinador mais bem pago do mundo.

A gota de água para a saída de Capello dos Três Leões foi quando discordou de uma decisão da federação inglesa em retirar a braçadeira de capitão a John Terry na sequência do processo de racismo que o jogador enfrentou em tribunal, acusado de alegados insultos racistas ao defesa Anton Ferdinand, do Queens Park Rangers. A atitude do técnico italiano foi vista na generalidade da crítica inglesa como um exemplo de que não se tinha adaptado ao que era o futebol inglês.  

Don Fabio saiu em 2012, já não participando no Europeu, ele que antes tinha revelado que iria abandonar o futebol depois do Campeonato da Europa argumentando que, por essa altura, seria "demasiado velho" e que queria "gozar a vida como um reformado". No ano seguinte, Capello assinava com a federação russa, cujo contrato acabaria em 2018 por ocasião do Mundial a realizar este verão. Capello voltaria a não ser bem sucedido, e em 2015 desligou-se do projeto depois de um processo que envolveu muita polémica relacionado não só com os maus resultados obtidos à frente da seleção como também pelo salário elevado que auferia. Capello tinha sido convidado com o objetivo de orientar a seleção russa no Mundial de 2018, mas os problemas começaram quando a equipa não passou sequer da primeira fase no último Campeonato do Mundo, no Brasil, em 2014. Outro facto que pesou para a sua saída foi o alto salário que auferia, cerca de 7 milhões de euros por ano, apesar da crise financeira que o país atravessava, e ainda atravessa. De acordo com a imprensa russa, a demissão de Capello só não aconteceu antes porque a federação russa não tinha condições financeiras de arcar com a responsabilidade de rescindir com o técnico, num valor que ascendia a 21 milhões de euros. Capello chegou a ficar meses sem receber salários. 

Até que surgiu o apelo chinês. Capello chegou ao Jiangsu a meio da temporada 2017, com o objetivo de aproximar o clube de Nanjing dos primeiros lugares da Super Liga chinesa, mas o Jiangsu Suning não fez melhor que o 12.º lugar. Este ano, decorridas que estão três jornadas, Capello venceu um e perdeu os outros dois jogos, o último dos quais frente ao Chongqing Lifan, equipa treinada pelo português Paulo Bento, que venceu por 4-1. Ao serviço da equipa chinesa, o antigo selecionador russo somou 21 jogos, nos quais apenas conquistou sete vitórias. Muito pouco para o que se esperava de Capello. O divórcio surgiu agora.

O romeno Cosmin Olaroiu, ex-treinador do Al Ahli, já foi confirmado como substituto de Fabio Capello no Jiangsu Suning, onde atua Ramires, antigo jogador do Benfica. Resta aguardar para se saber se Capello vai mesmo retirar-se e dedicar-se a um dos seus maiores gostos, para além do futebol, o de ser um colecionador de arte, ou se não resistirá a um novo apelo. Quiçá mais perto de casa. Embora tenha rejeitado recentemente ter interesse no lugar vago de selecionador italiano. Mas como qualquer bom colecionador de arte pode estar a fazer "bluff".