Grande Futebol
Do Céu sevilhano ao Inferno do cancro: a trajectória andaluz de Eduardo Berizzo
2017-12-22 21:30:00
Berizzo assumiu o Sevilha FC esta temporada e semanas depois de se conhecer a doença grave do argentino, foi despedido.

Sevilha, Ramón Sanchez Pizjuan. Novembro de 2017. Foi já para lá do minuto 90, com três minutos adicionados ao cronómetro e ao tempo regulamentar, que Guido Pizarro consumou uma das recuperações mais impressionantes e entusiasmantes da temporada e, até, do futebol dos últimos tempos. Depois de ter estado a perder, em casa, perante o Liverpool, por 3-0, em jogo a contar para a quinta jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o Sevilha FC vestiu o fato de gala para a segunda parte e massacrou o Liverpool FC desde o apito inicial da segunda parte até ao final. A recuperação, soube-se horas depois, teve um segredo: Eduardo Berizzo, treinador dos andaluzes, confessara aos seus jogadores ter um cancro na próstata, tendo depois de abandonar o comando técnico dos sevilhanos durante uns dias para ser submetido a uma intervenção cirúrgica de tratamento ao mesmo. Hoje, três semanas após a bem-sucedida operação e dias após o regresso de Berizzo ao banco de suplentes do Sevilha, o argentino foi despedido.

Instalados na quinta posição da liga espanhola, qualificados para os oitavos de final da Liga dos Campeões, bem como os oitavos de final da Taça do Rei assegurados depois de uma dupla vitória perante o FC Cartagena, o despedimento de Eduardo Berizzo já tomaria contornos bizarros por si só esquecendo tudo o resto, tornando-se a situação particularmente surpreendente dado o estado de saúde do atual técnico do Sevilha. Cerca de um mês depois de se saber da doença que assolou Berizzo e três semanas depois do técnico argentino se ter submetido a uma intervenção cirúrgica para o seu tratamento, o dia de hoje ficou marcado pela notícia do seu despedimento por parte do clube andaluz. Ainda para mais, numa altura em que o técnico até já tinha voltado ao ativo. "O Sevilha quer mostrar o máximo apoio ao seu treinador neste momento e deseja uma rápida recuperação" afirmou então o clube espanhol.

Depois de passagens, como treinador, pelas primeiras divisões argentinas e chilenas ao comando do Estudiantes e do O’Higgins, respetivamente, Berizzo chegou ao futebol europeu, como técnico, pela mão do Celta Vigo em 2014, clube que abandonou no final da temporada passada para assumir o comando técnico do Sevilha, sucedendo ao também argentino Jorge Sampaoli que tomou o lugar de selecionador do país natal. Na Galiza, o trabalho de Berizzo foi meritório. Na temporada de estreia no futebol europeu, Berizzo liderou o Celta à oitava posição da liga espanhola, a apenas quatro pontos de uma qualificação europeia, algo que alcançou na segunda temporada ao serviço do Celta ao terminar 2015/16 na sexta posição da liga espanhola, caindo ainda, apenas, nas meias finais da Copa do Rei.

Com Berizzo, o Celta melhorou de temporada para temporada e em 2016/17, apesar da 13ª posição final na La Liga, Berizzou comandou o emblema galego às meias finais, quera da Taça de Espanha, quer da Liga Europa, competição na qual caiu somente aos pés do eventual vencedor Manchester United naquela que foi a melhor campanha europeia da história do Celta Vigo.

O trabalho de Berizzo pela Galiza valeu, então, a chegada a um dos clubes espanhóis mais bem-sucedidos dos últimos anos. Contudo, em Sevilha, diz a imprensa espanhola, Berizzo nunca convenceu apesar dos resultados, à primeira vista, positivos. A imprensa espanhola cita ainda problemas internos, como desentendimentos com jogadores importantes no plantel como Steven N’Zonzi, como uma das razões para o surpreendente afastamento de Berizzo do comando técnico do Sevilha. É com o clube andaluz instalado na quinta posição da liga espanhola, mas numa sequência de quatro jogos sem vencer (duas derrotas e dois empates), que Berizzo abandona o comando técnico do emblema sevilhano. Luis Enrique e Javi Garcia (ex técnico do Málaga) surgem no topo da lista das casas de apostas para a sucessão a Eduardo Berizzo.

“É complicado e doloroso. É sempre assim quando se despede um treinador e mais ainda quando se trata de um profissional exemplar como Eduardo [Berizzo]. Contudo, temos de tomar as decisões mais oportunas em prol do futuro do clube. Estamos numa sequência negativa de resultados e da qualidade de jogo da equipa. Não sentimos que o projeto esteja a ter uma trajetória ascendente, não estando o mesmo a ter os resultados exigidos perante a ambição que desejamos”, justificou o clube por intermédio do próprio presidente José Castro.

Tal como José Castro também afirmou à imprensa espanhola, “é assim o futebol”. Para Eduardo Berizzo, a temporada 2017/18 termina como uma época em que o técnico venceu uma batalha na vida, mas perdeu a guerra em Sevilha. Treinar, este ano, só fora de Espanha. Afinal, ditam as regras, nenhum treinador pode orientar dois clubes da liga espanhola na mesma temporada.