Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (14)
2018-06-28 13:00:00
António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário, sempre pelas 13h

Quando se debatem as razões do decréscimo de rendimento da seleção portuguesa na fase final do Mundial face aos últimos anos, uma das mais apontadas é a escassa variação da equipa, fruto da confiança que Fernando Santos continua a ter nos campeões europeus de 2016. E isso, dizem, pode ser mau porque alguns deles já não são as melhores soluções, como pode ser mau porque este vai ser o terceiro verão consecutivo em que atrasam as férias para jogarem uma competição exigente: estiveram no Europeu em 2016, na Taça das Confederações em 2017 e agora neste Mundial, o que pode levar a um processo de esgotamento competitivo. Daí que, no Verão passado, a Alemanha tenha levado uma equipa B à Taça das Confederações. E no entanto...

O décimo-quarto dia de Mundial ficou marcado pela surpreendente eliminação da Alemanha, como podia ter ficado assinalado pela saída do México, mesmo depois de ter ganho os dois primeiros jogos. Foi surpreendente que a Suécia tenha metido três golos sem resposta a uma equipa mexicana que nem por isso podia estar assim tão relaxada, mas mais ainda surpreendeu que a Alemanha não tenha conseguido bater a Coreia do Sul. Acompanhei a segunda parte dos jogos no ginásio, a tempo de testemunhar três coisas. Primeira, a mais evidente, o esgotamento competitivo desta seleção alemã, a cujos mais importantes jogadores não serviu de nada o tal verão de férias em 2017. Depois, que o VAR tem os seus méritos: não fosse a intervenção do juiz de apoio-vídeo e o primeiro golo coreano teria sido anulado. Finalmente a alegria dos muitos brasileiros que por ali andavam face à derrota alemã.

O Brasil só jogava à noite e, correndo tudo dentro da normalidade, pela frente tinha ainda a possibilidade de uns oitavos de final frente a esta Alemanha, com os 7-1 de há quatro anos bem na ideia. A derrota alemã afastava essa sombra do horizonte brasileiro, mas grande parte da euforia que se espalhou às contas de Twitter, Instagram e Facebook de muitas figuras públicas tinha mais a ver com vingança do que com avaliação do que aí vinha. E apesar do fraco rendimento – sobretudo ofensivo – desta Alemanha e do facto de o Brasil depois se ter desembaraçado de uma Sérvia tímida com alguma facilidade, no jogo que marcou a chegada de Neymar ao Mundial, não há razões para esquecer a questão competitiva. Este Brasil está a crescer, sim, mas ganhando o grupo teve a infelicidade de vir parar à metade do quadro mais complicada. Uma metade onde estão Portugal, Uruguai, França, Argentina, México e ainda uma equipa a escolher entre Bélgica e Inglaterra. Vida difícil.

Dia 13 - A conversa de Queiroz e Moutinho
Dia 12 - Portugal não anda a jogar muito
Dia 11 - Os iranianos ruidosos
Dia 10 - A maldição do Campeão
Dia 9 – A águia albanesa
Dia 8 – Sampaoli e o desastre argentino
Dia 7 – O que faltou à seleção portuguesa
Dia 6 – A força da Rússia e de Dzyuba, um dia de surpresas e do LCD Soundsystem
Dia 5 – A Bélgica, a Inglaterra, e sushi
Dia 4 - Um Brasil a europeizar-se e uma Sérvia a ter de soltar amarras
Dia 3 – O voo de regresso depois da vitória portuguesa
Dia 2 – O dia de Cristiano Ronaldo
Dia 1 - Abertura do Mundial