Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (11)
2018-06-25 13:00:00
António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário, sempre pelas 13h

O décimo-primeiro dia de Mundial apanhou-me em viagem, pelo que pouco futebol consegui ver. Ainda deu, contudo, para tranquilizar a parte de mim que gosta de ver os bons recompensados no momento em que a Colômbia de inspiração ofensiva arrasou uma Polónia que também ainda não aprendeu a conjugar o verbo descomplicar. A nota do dia, porém, é a invasão iraniana a Saransk. São muitos. E barulhentos.

Saí de Lisboa ao início da manhã, em direção a Moscovo, num voo da Aeroflot que, talvez por ter havido um da TAP cerca de 30 minutos antes, não trazia assim tantos adeptos portugueses. A escala em Sheremetyevo, que era inferior a duas horas, deixava-me preocupado – e vim depois a perceber que com razão. O voo só atrasou 20 minutos, mas havia que passar o controlo de passaportes antes de me dirigir à zona de voos internos, o que na Rússia, já se sabe, leva algum tempo. Já não há URSS mas ainda permanece a desconfiança: sempre num silêncio inquisidor e perturbador, os guardas de fronteira olham-nos com atenção de todos os ângulos possíveis e imaginários, quase nos instigando a dúvida de que sejamos mesmo nós. Esta foi a sexta vez que entrei na Rússia e nunca foi diferente. Resultado: as filas crescem. Ainda me dirigi aos voluntários FIFA que ali andavam, explicando em inglês que estava em cima da hora para o voo de ligação, mas eles ficaram a pensar que queria obter indicações e limitaram-se a dizer-me que tinha de passar o controlo e depois descer para o Piso 1, de onde saíam os voos internos. “Bem-vindo à Rússia”, sorriu uma norte-americana radicada em Moscovo, que regressava de férias.

Cheguei à porta de onde saía o voo para Saransk três minutos antes de encerrar o embarque e ainda tive direito a transporte personalizado para o avião. Eu e dois iranianos. A proporção, no entanto, ser-nos-ia ainda mais desfavorável, como pude constatar num Boeing 737 cheio de gente a falar farsi e a espalhar a palavra: sempre que viam um passageiro com ar de neutro, os iranianos interpelavam-no, perguntavam-lhe de onde vinha e, imediatamente, por quem iria torcer. O fervor persa, aliás, seria ainda mais visível na cidade de Saransk, verdadeiramente inundada de gente trajada a rigor com o verde, branco e vermelho do Irão, a soprar cornetas ruidosas e a gritar insistentemente o nome do país ou de Carlos Queiroz. A festa em frente ao hotel onde está a seleção portuguesa, bem no centro da cidade, durou até às tantas e até ao momento em que a polícia começou a tentar dispersar os adeptos que acreditam mesmo no sonho da qualificação. Caberá a Ronaldo e companhia impedi-los de lá chegar.

Dia 10 - A makdição do Campeão

Dia 9 – A águia albanesa

Dia 8 – Sampaoli e o desastre argentino

Dia 7 – O que faltou à seleção portuguesa

Dia 6 – A força da Rússia e de Dzyuba, um dia de surpresas e do LCD Soundsystem

Dia 5 – A Bélgica, a Inglaterra, e sushi

Dia 4 - Um Brasil a europeizar-se e uma Sérvia a ter de soltar amarras

Dia 3 – O voo de regresso depois da vitória portuguesa

Dia 2 – O dia de Cristiano Ronaldo

Dia 1 - Abertura do Mundial

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