Grande Futebol
Boateng, do sexo em demasia à revigoração na Bundesliga
2018-04-17 18:05:00
Pelo meio uma passagem falhada por Lisboa e o duelo com o irmão num Mundial

Filho de pai ganês, cresceu nas ruas de Berlim, jogou contra o irmão num Campeonato do Mundo e foi dado como acabado para a prática do futebol tendo mesmo chumbado nos exames médicos realizados em Alvalade. A história de Kevin-Prince Boateng, o “Bad-Boy” que um dia viu a namorada dizer publicamente que as lesões recorrentes que tinha se davam devido ao muito sexo que os dois praticavam, hoje, está de regresso à Bundesliga e parece que todos os problemas ficaram para trás das costas.

Foi nas ruas de Wedding, um dos bairros mais complicados de Berlim, que Boateng percebeu que tinha algo mais do que os outros miúdos, quando o tema era dar pontapés na bola. Em declarações ao “Guardian”, Boateng lembrou que foram os momentos complicados vividos nesses bairros “sem lei” que fizeram dele um jogador mais capaz e destemido. Foi essa irreverência ganha nas ruas que fez com que o Hertha Berlim o “agarrasse”, tinha Boateng apenas sete anos.

As noitadas e o álcool

A partir daí nada mais segurou Kevin-Prince Boateng. E esse foi o grande problema do jovem rebelde. Em 2007 assinou um contrato milionário com o Tottenham da Premier League, mas as coisas descambaram de tal forma que o único sítio onde Boateng brilhou foi nas pistas de dança das discotecas londrinas com um copo numa mão e um hamburger na outra. “Todos os dias saía até às seis da manhã. Cheguei aos 95 quilos, estava inchado do álcool e da comida de plástico”, revelou Boateng, ao jornal inglês.

Tudo começou quando Martin Jol, então treinador dos Spurs, o informou que não fazia parte dos planos para a equipa principal. Boateng viu essa notícia como uma mensagem de que todo o mundo se virara contra si. E o que fazer? Afinal de contas, o contrato estava assinado, o dinheiro caía na conta, só restava uma coisa. Curtir a vida, pensou o revoltado jovem nascido na alemanha, com passaporte ganês a viver na glamourosa Londres. “Ok. Não me querem, vou divertir-me: raparigas, discotecas e amigos… falsos amigos”, reconheceu Boateng.

“Comecei a comprar a felicidade, já que não a conseguia extrair jogando futebol. Então eram Lamborghinis e casas caríssimas, cheguei a pensar que era o 50 cent”, admitiu Boateng, ao “Guardian”. Mas as coisas mudaram. “Um dia acordei, olhei para o espelho e disse ‘olha este burro. Eu não sou assim. Eu sou um futebolista’”. Boateng percebeu a tempo que seguia um caminho perigoso e decidiu colocar um ponto final no estilo de vida que lhe estava a roubar uma promissora carreira, a mesma pela qual tinha deixado Berlim e a família.

Muito sexo dá mau resultado

As coisas como que começaram a entrar nos eixos para Kevin-Prince Boateng. Passagens pelo Borussia Dortmund e Portsmouth abriram-lhes as portas do Milan. Aí mostrou ser um médio de mão cheia. Versátil, com uma capacidade de remate acima da média e com uma relação com o golo apenas possível aos grandes jogadores. Mas foi também em Itália que uma nova vaga de problemas começaram a surgir: as recorrentes lesões. Mas o pior foi o que veio depois disso. E a culpa foi da namorada.

Ora, segundo Melissa Satta, em declarações ao site “SuperSport”, a justificação, na base dos problemas físicos de Boateng, era a extenuante actividade sexual dos dois. “Acredito que a razão para ele estar sempre magoado é que fazemos sexo de sete a dez vezes por semana”, garantiu a namorada de Boateng que era também uma modelo italiana. E terão sido mesmo esses problemas físicos que impediram o jogador de assinar pelo Sporting no verão de 2015.

O jogador aterrou em Lisboa, depois de duas épocas ao serviço do Schalke, pronto para se juntar à equipa sob as ordens do recém-chegado Jorge Jesus, mas as coisas não se concretizaram e mais tarde foi informado que o jogador tinha chumbado nos exames médicos. Boateng nem desfez as muitas malas que havia trazido consigo e voltou a Itália para representar o Milan, outra vez, onde esteve meia época.

A passagem por Lisboa foi apenas mais uma página do livro que tem sido a vida de Kevin-Prince Boateng. Um dos capítulos mais marcantes desse livro é sem dúvida o que se escreveu durante o Mundial’2010.

Ora bem, Boateng e os seus dois irmãos nasceram na Alemanha, com pai ganês e mãe alemã. Todos os irmãos deram jogadores de futebol, mas apenas dois chegaram ao mais alto nível. Kevin-Prince e Jérôme Boateng. Acontece que os dois optaram por representar seleções diferentes. Kevin quis jogar pelo Gana e Jérôme optou pela seleção germânica.

Em 2010, o sorteio para o Mundial da África do Sul - o primeiro a ser organizado no continente africano - ditou um encontro de irmãos. Gana e Alemanha foram sorteados para o mesmo grupo e para a família Boateng isso significava o jogo de uma vida, bem ao estilo de Hollywood. A Alemanha acabou por vencer por 1-0, mas para a história ficou o dia em que dois irmãos se defrontaram num Mundial.

Nos dias de hoje, Kevin-Prince Boateng, com 31 anos, joga ao serviço do Eintracht Frankfurt, da Bundesliga, e depois de 32 jogos realizados a importância do médio de remate fácil é bem demonstrada pelos seis golos já marcados. Hoje, diz-se um homem mais maduro e que ser um “exemplo” para os seus filhos, mas afirma que não lhes vai “esconder nenhum dos erros” que cometeu ao longo da sua vida.