Grande Futebol
Batalha dos Barreiros teve um Marítimo surpreendente e um Charles intransponível
2017-08-17 23:25:00
Charles, guarda redes do Marítimo, negou o golo em várias ocasiões mas o jogo esteve longe de ser unilateral

Se Daniel Ramos pediu organização e concentração máxima, apelando à “ambição, solidariedade e entreajuda”, em nada disto o Marítimo desiludiu no encontro perante o Dínamo Kiev a contar para a primeira mão do play-off de acesso à fase de grupos da Liga Europa. Se, como Daniel Ramos também assumiu, a discrepância de valor futebolístico entre Marítimo e Dínamo Kiev “é de uma diferença abismal”, em campo, o conjunto madeirense provou que a teoria no futebol por vezes não é acompanhada pela prática. Para Daniel Ramos hoje era importante marcar e não sofrer. O Marítimo cumpriu com meio objetivo e, acima de tudo, mostrou ser possível discutir a eliminatória frente ao Dínamo Kiev.

Na Madeira, sob orientação de Daniel Ramos, o Marítimo é uma força a ter em conta. Desde que o técnico assumiu o comando do conjunto insular, em setembro de 2016, só por uma vez o Marítimo perdeu em casa. Aconteceu frente ao Sporting de Braga para a Taça da Liga já em janeiro deste ano. Desde então são já dezasseis os encontros do Marítimo, no Funchal, sem qualquer derrota. Incluindo, claro está, o empate a zero de hoje frente ao Dínamo Kiev. Se a maior valia do conjunto ucraniano surgiu como uma evidência logo após o sorteio que emparelhou Marítimo com Dínamo Kiev, em campo, a questão não foi bem assim. O Marítimo entrou personalizado, intenso e agressivo em todos os momentos do jogo e com isso equilibrou forças. Charles até pode ter brilhado na baliza dos insulares, evitando o golo ucraniano em diversas situações, mas não foram poucas as vezes que o Marítimo se acercou, de forma perigosa, da baliza de Koval.

Se o encontro entre Marítimo e Dínamo Kiev se iniciou repartido, respondendo o conjunto de Daniel Ramos com perigo ao ligeiro ascendente ucraniano na partida, foi preciso mais de meia hora para que o conjunto ucraniano se instalasse de vez no maltratado relvado do Estádio dos Barreiros. Só com o avançar dos minutos o Dínamo ganhou domínio na partida, terminando a primeira parte por cima do encontro e fazendo sobressair Charles na baliza verde-rubra. Charles rejeitou o papel de herói após o final da partida, mas se alguém agarrou o nulo como poucos, o guardião do Marítimo foi um deles. Ora negando o golo a Kádár, a Garmash ou a Mbokani, de forma direta, ora evitando males maiores ao sair de forma destemida e concentrada dos postes evitando sequer o remate adversário. Charles refutou protagonismo mas foi decisivo.

Um nulo que contrariou a lógica e a opinião popular

O Marítimo encheu o espaço interior e obrigou o Dínamo a fugir para as alas. Fechou a porta do desequilíbrio aos ucranianos e saiu premiado pela organização e concentração que demonstrou ao longo da partida. Só em situações muito pontuais o Dínamo desmobilizou a organização da equipa de Daniel Ramos e quando o conseguiu, sobressaiu Charles. Se o Dínamo ganhou ascendente sobre o Marítimo no final da primeira parte, o intervalo fez bem à equipa portuguesa. O Marítimo ressurgiu no relvado dos Barreiros com renovado fulgor para a segunda metade – com Ricardo Valente como grande agitador - e com isso desestabilizou a equipa ucraniana ao ponto de obrigar o adversário a ver três amarelos em poucos minutos. Os seis amarelos mostrados aos jogadores do Dínamo Kiev foram, aliás, uma demonstração da frustração que o conjunto português conseguiu instituir na equipa ucraniana. A ponto, até, de Khacheridi, defesa central da equipa do Dínamo, ter visto dois amarelos em dez minutos desfalcando assim a zona central da defesa do conjunto de Kiev para a segunda mão.

Se há nulos que mereciam golos ou que deles não precisaram para ser um espetáculo emotivo, a primeira mão do play-off de acesso à fase de grupos da Liga Europa que opôs Marítimo e Dínamo Kiev foi um deles. Marítimo e Dínamo não chegaram ao golo mas dele acercaram-se frequentemente. Do encontro no Funchal, porém, importa destacar-se a estoicidade de um conjunto do Marítimo que fez das fraquezas forças e equilibrou futebolisticamente onde não parecia existir equilíbrio.

Jakob Kehlet, árbitro do encontro entre Marítimo e Dínamo Kiev, teve uma noite atribulada para controlar um jogo intenso e agressivo desde início. O juiz sueco, porém, teve mão para os ânimos quentes vividos no relvado dos Barreiros. Ora sendo salomónico quando o desentendimento era mútuo, ora não tendo problemas em admoestar atletas da equipa mais reputada. Muito menos, quando surgiu a necessidade de mostrar um segundo amarelo a Khacheridi deixando-o de fora da segunda mão. Sempre justamente, claro está.