Grande Futebol
Atlético Baleares-RCD Mallorca: um dérbi no paraíso e que o tempo esqueceu
2018-04-05 17:35:00
Os rivais das Ilhas Baleares reencontraram-se esta temporada num dérbi que não sucedia há várias décadas.

Quando Atlético Baleares e Real Mallorca entraram em campo, no Campo de Son Malferit, Palma de Maiorca, em setembro de 2017, logo à terceira jornada da presente temporada, os rivais das Ilhas Baleares colocaram fim a uma espera que parecia já ser eterna. Durante décadas o futebol, o espanhol em particular, pareceu ter esquecido um dos seus dérbis. A modernidade não quis nada com o Dérbi das Baleares. O dérbi que durante 37 anos ficou esquecido nas gavetas do futebol Mundial. 2017/18 recuperou-o. O dérbi que o tempo esqueceu. 37 anos depois, Atlético Baleares e Real Mallorca voltaram a encontrar-se. Por fim, os Balearicos voltavam a encontrar o grande rival e não a equipa secundária do mesmo e, para isso, em muito caiu o Real Mallorca. Imagine-se... não jogar contra o grande rival durante quase 40 anos.

Quem durante o final do século XX e início do novo milénio começou a acompanhar o futebol espanhol e em muito se habituou ver o Real Mallorca junto dos maiores emblemas do futebol do país vizinho certamente já se terá perguntado que é feito do emblema rojinegro. O Mallorca caiu e caiu com algum estrondo. Depois de anos a lutar pela qualificação para as competições europeias e a chegar mesmo a finais, como em 1999, o emblema em que Samuel Eto’o se deu a conhecer ao Mundo do futebol joga agora a terceira divisão do futebol espanhol. Desde 1980 que tal não acontecia, altura em que o Mallorca deu o salto definitivo e terminou com uma rivalidade desportiva que durou até esta temporada.

Novembro, 1986. 4ª eliminatória da Taça do Rei. Até 2018, este havia sido o último dérbi de Palma de Maiorca a acontecer. Então equipa de primeira divisão, o Mallorca precisou de prolongamento para bater o rival e seguir em frente na competição. Em jogos a contar para a Liga a espera foi ainda mais longa (desde 79/80 que o dérbi não acontecia num jogo de liga e em particular na Segunda B espanhola não sucedia desde 77/78), mas aquele 4-2 disputado no terreno dos Balearicos abriu um apetite que só décadas mais tarde acabou por ser saciado. Ou parte dele, pelo menos. Apesar de um regresso agridoce do dérbi das baleares, onde nenhum dos conjuntos desfez o nulo inicial, o 3-2 registado já durante a segunda volta da terceira divisão espanhola foi uma viagem no tempo para todos os habitantes da ilha espanhola. Mais uma vez o dérbi das Baleares oferecia um espetáculo digno da espera que protagonizou, mas poderá ter de se esperar mais três ou quatro décadas para que o mesmo volte a acontecer. A Taça do Rei que o evite.

O regresso do dérbi das Ilhas Baleares em muito mais está relacionado com a queda do Real Mallorca do que com a ascensão do Atlético. Depois de 16 temporadas consecutivas na primeira divisão do futebol espanhol, a crise abateu-se sobre o conjunto de Mallorca e em 2013 a equipa regressou novamente aos escalões secundários do futebol espanhol. Quem diria. O mesmo emblema que o Villa Park recebeu em 1999 para a final da Taça das Taças vencida pela Lazio e que dava início à maldição de Héctor Cúper. O mesmo emblema que dois anos depois venceu o primeiro jogo da sua história na Liga dos Campeões e que terminou 2003 a erguer a Taça de Espanha pela primeira e única vez na história do emblema insular.

Durante todo este período, enquanto o grande rival prometia mesmo intrometer-se numa surpreendente luta pelo título espanhol e visitou alguns dos campos mais apaixonantes do futebol europeu, algo que o rival não sabe sequer o que é sonhar com, o Atlético Baleares dividiu esforços entre a terceira, quarta e até quinta divisão do futebol espanhol, tendo-se habituado, sim, a defrontar a equipa secundária do grande rival. Mas não mais. Com a queda do Mallorca à terceira divisão esta época, escalão onde o Atlético participa desde 2010, o dérbi que o tempo esqueceu… regressou. Nem que seja por apenas uma temporada, regressou.

Com o Mallorca na liderança do Grupo 3 da Segunda División B de Espanha e o Atlético Baleares na penúltima posição da competição e em lugar de despromoção ao quarto escalão espanhol, o dérbi das Ilhas Baleares promete voltar a ser esquecido pelo tempo. Não, sem antes Mallorca e Atlético Baleares terem feito regressar o dérbi com um nulo em setembro e entusiasmando adeptos de ambos os conjuntos já em janeiro com um excitante 3-2 a favor da equipa da casa, o Mallorca. Pisando, finalmente, terrenos que há décadas não viviam o prazer de sentir um gosto que vai além do futebol. Sentir o gosto da rivalidade.

Hoje, como quase sempre ao longo da história recente de ambos os conjuntos, Atlético Baleares e Real Mallorca encontram-se numa fase bem distinta. Com os Balearicos a caminho da quarta divisão espanhola, o rival Mallorca é desde 2016 propriedade de Robert Sarver, milionário norte americano que detém, também, os Phoenix Suns da NBA e ao contrário do Atlético, o caminho do Mallorca parece ter sentido único: o ascendente. Só o tempo dirá se para regressar aos maiores palcos do futebol mundial. O mesmo tempo que, só ele, poderá evitar que o dérbi das Ilhas Baleares volte a ser esquecido durante quase quatro décadas.