Grande Futebol
A seleção nacional sem direito a errar na "primeira de três finais"
2017-09-03 10:30:00
Parecia impossível que a Suíça chegasse aqui só com vitórias. Isso já não interessa. É Portugal que não pode escorregar.

Portugal joga hoje em Budapeste para manter vivo o objetivo da qualificação direta para o Mundial de 2018 e o peso da responsabilidade terá contribuído para fechar o rosto de Fernando Santos, na conferência de imprensa de ontem, até um pouco mais do que o habitual. Numa altura em que surgem notícias segundo as quais, se ele fosse elaborado agora, a meio da dupla jornada de Agosto e Setembro, o ranking FIFA veria a seleção nacional subir para o terceiro lugar, a verdade é que qualquer resultado que não seja a vitória frente à Hungria deixa Ronaldo e companhia à espera de um milagre ou de um play-off de contornos imprevisíveis no mês de Novembro. “São três jogos, três finais”, reforçou ontem o selecionador nacional, porque quem tem margem de erro é a Suíça.

Irreal é o percurso que os suíços estão a fazer. Vão com sete jogos, sete vitórias, incluindo os 2-0 a Portugal em Basileia, na abertura da qualificação, num jogo em que os portugueses não conseguiram prolongar o estado-de-graça sem Ronaldo que vinha da final do Europeu de 2016. Nas nove qualificações para Mundiais e Europeus que já leva este século, só cinco seleções (uma delas duas vezes) foram capazes de fazer aquilo que os suíços estão prestes a conseguir: chegar à última jornada só com vitórias. Aconteceu à França de 2004, à Holanda de 2010 e 2012, à Espanha de 2010, à Alemanha de 2012 e à Inglaterra de 2016. A novidade é que todas puderam encarar esse último desafio como o da consagração, pois já chegaram lá apuradas. Caso consiga igualar a proeza destas equipas – todas elas de topo no futebol europeu – a Suíça só não virá a Lisboa passear se Portugal ganhar todos os jogos até lá: Hungria hoje, em Budapeste, e Andorra em início de Outubro, também fora de casa.

E, em virtude da grande vantagem que Portugal leva já na diferença de golos – são onze golos de vantagem lusa – até são os suíços quem pode encarar os dois jogos que lhes faltam com alguma margem de erro. É-lhes igual ganhar os dois – Letónia, em Riga, e Hungria em casa – ou ceder um empate pelo caminho, pois suceda o que suceder, se Portugal ganhar sempre até lá, só se qualificam diretamente se escaparem à derrota na Luz. Essa noção de responsabilidade, de não poder falhar, de precisar de repetir o percurso sem faltas que já conseguiu na fase de apuramento para o Europeu de 2016 – sete vitórias seguidas depois da derrota na jornada de abertura, em casa com a Albânia – pode levar Portugal a uma repetir o seu melhor ranking FIFA de sempre, pois uma vitória hoje assegurará que a equipa de Fernando Santos entrará na fase decisiva como terceiro classificado, apenas atrás da Alemanha e do Brasil. E pode também levar o treinador a mudar ligeiramente o onze que vai subir ao relvado do Groupama Arena, mais logo.

Ainda ontem, na conferência de imprensa, Santos se fartou de elogiar a equipa húngara, dizendo até que “se houvesse justiça”, os húngaros teriam ganho aqui à Suíça. No acidentado percurso que levou a seleção à conquista do Europeu de 2016, o empate (3-3) com a Hungria, em Lyon, foi aquele em que a seleção mais perdeu o controlo da situação: um golo de Nani e um bis de Ronaldo não chegaram para vencer uma partida em que os portugueses andaram sempre a correr atrás do resultado, pois estiveram três vezes em desvantagem. Tudo isso pode levar Santos a tomar algumas precauções, a favorecer os equilíbrios e a capacidade para surpreender pela velocidade na frente. É verdade que desde a transição do jogo na Suíça para a receção a Andorra, há um ano, Fernando Santos nunca fez mais do que três alterações no onze de um jogo de qualificação para o próximo. E muitas delas se deveram a problemas físicos. De Andorra para a visita às Ilhas Faroé, na última jornada dupla, trocou apenas dois homens: Guerreiro por Antunes, na lateral-esquerda, e Bernardo Silva por William, de forma a voltar a ter um médio-centro defensivo do qual abdicara na partida frente aos andorrenhos.

Hoje, em Budapeste, pode haver quem pense na recuperação do 4x3x3, com troca de André Silva por mais um extremo, de forma a explorar o acréscimo de velocidade ante uma equipa que não é muito rápida e dando a Ronaldo a responsabilidade de suportar sozinho o ataque da seleção. A verdade é que, desde que Santos é selecionador, a equipa só abordou jogos em 4x3x3 quando não teve o capitão. Exemplo disso são a final do Europeu, ganha à França em 4x3x3 após a lesão de Ronaldo, ou a derrota na Suíça, também sem ele. As alterações, por isso, deverão estar reservadas para posições mais recuadas. A meio-campo, por exemplo, onde poderá voltar André Gomes – que saiu do banco na receção às Ilhas Faroé mas era titular em todos os jogos de qualificação desde a segunda jornada – eventualmente com o sacrifício de João Mário ou, se a cautela for ainda mais, até de Bernardo Silva. E na defesa, onde o regresso de Bruno Alves dependerá sobretudo da condição em que ele se encontra, depois do distúrbio gastrointestinal que o afastou da partida de quainta-feira, e onde é bem possível que Coentrão ocupe o lugar à esquerda, satisfazendo um plano de utilização mais parcimonioso e de acordo com a condição em que está o lateral leonino.