Grande Futebol
A melhor Bélgica de sempre não chegou para um Deus
2018-06-14 23:20:00
Foi em 1986 que a formação belga chegou mais longe num Mundial

Se lhe pedir para pensar no Mundial de 1986 que se realizou no México, o leitor vai, provavelmente, pensar na conquista da Argentina ou no famoso caso Saltillo que envolveu a Seleção Nacional de Portugal. Contudo, houve uma seleção que realizou o melhor Campeonato do Mundo da sua história nesse torneio ao terminar na quarta posição. Foi mesmo preciso chamar um senhor chamado Diego Maradona para eliminar a Bélgica de 1986, uma equipa que pode, finalmente, ser superada pela Bélgica recheada de estrelas que vemos nos dias de hoje.

Ainda assim, e curiosamente, a Bélgica até começou mal o Mundial. Mais: a fase de grupos da Bélgica foi fraca e a equipa só se apurou para as rondas a eliminar porque foi um dos melhores terceiros classificados. Perante um Estádio Azteca lotado, os diabos vermelhos perderam por 1-2 contra o anfitrião México. Quirarte e Hugo Sánchez colocaram os mexicanos em vantagem, com Vandenbergh a reduzir para os europeus. A primeira (e única) vitória da Bélgica nesta edição do torneio aconteceu cinco dias depois, com o adversário a ser o Iraque. O resultado foi o mesmo da derrota anterior, mas faorável à Bélgica graças aos golos de Enzo Scifo e Nico Claesen. Radhi reduziu para os asiáticos na segunda parte, mas os dois preciosos pontos já estavam na posse da equipa europeia. Por fim, a Bélgica empatou com o Paraguai a dois golos na terceira e última jornada depois de desperdiçar vantagens de 1-0 e 2-1. Franky Vercauteren, antigo treinador do Sporting, apontou um dos golos da partida.

Seguiram-se os oitavos-de-final e o jogo entre a Bélgica e a União Soviética foi épico. Na verdade, foi quase entre a Bélgica e Igor Belanov, médio-ofensivo que representava o Dynamo Kiev. Belanov deu muito trabalho aos belgas e inaugurou o marcador aos 20', com Scifo a responder aos 56'. Belanov 'bisou' aos 70', mas Ceulemans reestabeleceu o empate pouco depois e o jogo foi mesmo para prolongamento. Aí, A Bélgica colocou-se pela primeira vez em vantagem graças ao golo de Stéphane Demol, antigo jogador de FC Porto e SC Braga. O 4-2 foi marcado por Nico Claesen aos 110', mas Belanov apareceu de seguida para reduzir e completar o fantástico 'hat-trick'. Ainda assim, esse foi mesmo o último golo da União Soviética, o que permitiu à Bélgica chegar aos quartos-de-final. Aí, contra a Espanha, a partida teve bem menos golos. Foram mesmo só dois; um para cada lado. Ceulemans marcou outra vez e, a cinco minutos dos 90', Señor faturou para a Espanha. Ninguém foi feliz no prolongamento e as formações seguiram para o desempate através de pontapés de penálti. Os belgas marcaram os cinco, enquanto a Espanha falhou um deles (Eloy, antigo jogador de Sporting Gijón e Valência CF, foi o responsável).

E pronto, a Bélgica estava nas meias-finais. Devagar, devagarinho, os jogadores orientados por Guy Thys levaram o emblema a figurar entre os quatro melhores da maior competição de seleções do Mundo. Contudo, o adversário que se seguia não era só mais um. A Argentina, um país histórico no futebol mundial, era forte por si só e tinha nos quadros um atleta chamado Diego Maradona, considerado por muitos o melhor jogador de todos os tempos. E a Bélgica, mesmo realizando o melhor Mundial de sempre, não conseguiu parar 'D10S', que marcou dois golos na segunda parte. Um deles foi fantástico e levantou uma multidão enorme no Estádio Azteca, na Cidade do México.

A Bélgica ainda tinha a hipótese de figurar no pódio, mas perdeu esse chance ao sair derrotada do embate com a França (2-4 após prolongamento com novos golos de Ceulemans e Claesen). Terminada a prova, o capitão e médio Jan Ceulemans (ex-Lierse e Club Brugge) e o guarda-redes Jean-Marie Pfaff (ex-KSK Beveren, Bayern Munique, Lierse e Trabzonspor) integraram o onze ideal do Mundial, enquanto Enzo Scifo, que viria a representar Inter Milão, Girondins Bordéus ou AS Mónaco, que contava apenas 20 anos, foi eleito o melhor jovem jogador.

A Bélgica derrotou a União Soviética num jogo épico em 1986 (Fifa.com)

PERCURSO RUMO AO RÚSSIA 2018

Foi um verdadeiro passeio para a Bélgica. Sorteada no grupo H da qualificação europeia juntamente com Grécia, Bósnia e Herzegovina, Estónia, Chipre e Gibraltar, os belgas dominaram do início ao fim, somando nove vitórias e um empate nos dez encontros realizados. Ao registo de 43 golos marcados e seis sofridos a Bélgica juntou ainda várias goleadas como o 4-0 imposto à Bósnia e Herzegovina, o 6-0 na casa de Gibraltar, o 8-1 na receção à Estónia, o 9-0 contra Gibraltar em casa ou o 4-0 frente a Chipre. Romelu Lukaku, com onze golos, foi o melhor marcador da Bélgica na fase de qualficação.

JOGADOR A SEGUIR: Dries Mertens

Começou a brilhar na Holanda, tendo dado o salto do FC Utrecht para o PSV em 2011. Na época de estreia no clube de Eindhoven, o 'baixinho' belga marcou 27 golos em 49 jogos, afirmando-se definitivamente como uma estrela nos Países Baixos. Mudou-se para a Liga Italiana em 2013/14 quando a SSC Nápoles o comprou por cerca de dez milhões de euros. "Quanto? Importa-se de repetir?", deve estar a perguntar, com razão, o leitor. É verdade, Mertens foi uma verdadeira pechincha para os napolitanos e hoje demonstrou que podia ter custado muito mais que continuaria a ser barato. No total, Mertens soma mais de 230 jogos e quase 100 golos com a camisola da SSC Nápoles desde então, com 2016/17 (46 jogos e 34 tentos) a ser o auge. Na seleção da Bélgica pode estar ofuscado por nomes como De Bruyne, Hazard ou Lukaku, mas Mertens, que vai para o segundo Mundial, promete não deixar ninguém indiferente.

CONVOCADOS

Guarda-redes: Koen Casteels (VfL Wolfsburgo/Alemanha), Thibaut Courtois (Chelsea/Inglaterra) e Simon Mignolet (Liverpool/Inglaterra).

Defesas: Toby Alderweireld (Tottenham/Inglaterra), Dedryck Boyata (Celtic/Escócia), Leander Dendoncker (Anderlecht/Bélgica), Vincent Kompany (Manchester City/Inglaterra), Thomas Meunier (Paris Saint-Germain/França), Jan Vertonghen (Tottenham/Inglaterra) e Thomas Vermaelen (FC Barcelona/Espanha).

Médios: Yannick Carrasco (Dalian Aerbin/China), Nacer Chadli (West Bromwich Albion/Inglaterra), Kévin De Bruyne (Manchester City/Inglaterra), Moussa Dembélé (Tottenham/Inglaterra), Marouane Fellaini (Manchester United/Inglaterra), Youri Tielemans (AS Mónaco/França) e Axel Witsel (Tianjin Quanjian/China).

Avançados: Michy Batshuayi (Borussia Dortmund/Alemanha), Eden Hazard (Chelsea/Inglaterra), Thorgan Hazard (Borussia Mönchengladbach/Alemanha), Adnan Januzaj (Real Sociedad/Espanha), Romelu Lukaku (Manchester United/Inglaterra) e Dries Mertens (SSC Nápoles/Itália).

ONZE PROVÁVEL

Treinador: Roberto Martínez

GUIA BANCADA: O MUNDIAL EM HISTÓRIAS

Grupo A

Rússia: O dia em que Rússia boicotou e "roubou" a Ucrânia para jogar o Mundial
Arábia Saudita: A lenda do "Pelé do Deserto", o terror de Setúbal
Egito: O futebol nascido de uma tragédia
Uruguai: Uruguai quer fazer um Maracanazo. Ou um Maracanazov

Grupo B

Portugal: Portugal, toca a jogar pelo chão que, de “Saltillos”, já foi suficiente
Espanha: O dia em que o General Franco teve medo dos russos e tirou um título à Espanha
Marrocos: "África minha" de Hervé Renard tem novo capítulo em Marrocos
Irão: Carlos Queiroz e o Irão: uma relação de amor e ódio

Grupo C

França: Didier Deschamps, o capitão da saga de 1998 em busca da redenção como treinador
Austrália: Um continente pequeno demais para uma seleção
Perú: O amor que os brasileiros ganharam ao Peru e a Cubillas, com a Argentina no meio
Dinamarca: Elkjaer fumava e bebia, mas corria que se fartava

Grupo D

Argentina: O dia em que Deus deu a mão para Maradona ficar na história do futebol
Islândia: Islândia e a aritmética que permite escolher os 23 convocados
Croácia: Quando Boban e Suker viraram heróis de uma nação
Nigéria: Yekini, um lugar na história da Nigéria e no coração dos portugueses

Grupo E

Brasil: Marinho Peres: capitão, desertor e um sonho que virou pesadelo em Barcelona
Suíça: Uma reunião de lendas, duas batalhas épicas e um capitão a jogar com um tumor
Costa Rica: No país mais feliz do Mundo, há um Oásis onde só entram grandes guarda redes
Sérvia: Um goleador esquecido pelo tempo, ídolo de Puskas e um jogo que tudo mudou

Grupo F

Alemanha: O jogo mais tenso de sempre. O jogo de dois vencedores. O jogo do futebol
México: Negrete marcou o melhor golo do Mundo e veio para o Sporting, pena os relvados
Suécia: Brolin, o sueco da pirueta que fez birra na Premier League porque lhe mentiram
Coreia do Sul: O conto de fadas mais contestado da história dos Mundiais

Grupo G

Bélgica: A melhor Bélgica de sempre não chegou para um Deus
Panamá
Tunísia
Inglaterra