Fora da Bancada
Dura resposta de Costa a "declaração repugnante" de ministro holandês
2020-03-27 11:50:00
Primeiro-ministro reage mal a discurso que trava apoio à Espanha em plena pandemia

O ministro holandês Wopke Hoekstra considerou que a Espanha deveria ser investigada, em virtude de não ter margem orçamental para fazer frente à crise económica que se perspetiva, em resultado da pandemia que assola o mundo.

E depois da reunião do Conselho Europeu, que se realizou nesta quinta-feira por videoconferência, António Costa reagiu com veemência, criticando as palavras de Hoekstra.

“Olhe, esse discurso é repugnante, no quadro de uma união europeia. E a expressão é mesmo essa: repugnante”, repetiu o primeiro-ministro, enfatizando aquele adjetivo.

Segundo António Costa, “ninguém está disponível para voltar a ouvir ministros das Finanças holandeses como aqueles que já ouvimos em 2008, 2009, 2010 e anos consecutivos”.

“E é boa altura de compreenderem todos que não foi a Espanha que criou o vírus, nem foi a Espanha que o importou. O vírus, infelizmente, atingiu-nos a todos por igual”, realçou ainda. 

O primeiro-ministro exigiu o respeito pelos princípios basilares da União Europeia: “Se nós não nos respeitamos uns aos outros e se nós não compreendemos que, perante um desafio comum temos de ter capacidade para responder em comum, então ninguém percebeu nada do que é a União Europeia”.

“Se algum país da União Europeia acha que resolve o problema do vírus à solta nos outros países, está muito enganado", afirmou ainda o primeiro-ministro.

António Costa lembrou também que a União Europeia "assenta na liberdade de circulação de pessoas, de bens e mercadorias" e é "uma União de fronteiras abertas...".

"O vírus não conhece fronteiras. Os primeiros portugueses que foram contaminados foram-no em viagens que fizeram ao estrangeiro e não podemos culpar nem os países onde elas foram, nem as pessoas”, continuou.

"Isso é uma absoluta inconsciência. E essa mesquinhez recorrente mina completamente aquilo que é o espírito da União Europeia e é uma ameaça ao seu futuro. E se a União Europeia quer sobreviver, é inaceitável que um responsável político, seja de que país for, possa dar respostas dessa natureza, perante uma pandemia como aquela que estamos a conviver".

“Foi à custa disto que todos percebemos que é insuportável trabalhar com o senhor Dijsselbloem. Mas, pelos vistos, há países que insistem em ir mudando de nomes, mas mantendo pessoas com o mesmo perfil”, concluiu.

Veja a resposta: 

Como parêntesis, recorde-se que, em 2017, o então ministro holandês, à data presidente do Eurogrupo, criticou os países do sul da Europa por gastarem dinheiro em “copos e mulheres”, numa controversa entrevista de  Jeroen Dijsselbloem ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.