Portugal
"Vazio de autoridade leva a que toda a gente mande dicas" e o futebol está assim
2020-02-28 14:45:00
Treinador Henrique Calisto aborda realidade do futebol português

Soaram os alarmes no futebol português depois de um afastamento em toda a linha das equipas lusitanas nas provas da UEFA e procuram-se explicações. A hecatombe geral leva a reflexões mais ou menos profundas e Henrique Calisto, histórico treinador da Liga portuguesa, socorre-se da experiência colecionada ao longo de vários anos entre a relva e o balneário para deixar um alerta ao que se verifica, por hoje, no campeonato.

"O futebol português perdeu intensidade. O jogo é lento, o jogo é pastoso, a qualidade das equipas é cada vez mais fraca", considera Calisto, deixando antever que "se calhar temos de pensar na nossa metodologia de treino e modelo de jogo" e ver o que se passa lá fora.

"Olhando para a forma como o Liverpool neste momento com uma intensidade absurda e a nossa forma de abordar o jogo; posse de bola 'toca, vai, fica, toca, vai, fica'. Isso é abordagem de jogo e metodologia", sustentou, em entrevista à 'TSF'.

Henrique Calisto diz ser necessário "parar para pensar e não falar de forma sistemática no fora de jogo, nos penáltis, nos árbitros, no dizer mal dos outros clubes".

Neste sentido, o treinador entende que, em Portugal, "há um vazio de autoridade no futebol".

"Este vazio de autoridade leva a que toda a gente mande dicas por aqui e por acolá. Falta transparência. A Liga não tem autoridade, a FPF não tem capacidade para tomar uma posição no futebol profissional..."

No raio x ao futebol português, Calisto sublinha que aqui chegados é preciso encontrar o que esteve na base para se buscarem soluções.

"Isso deve-se à falta de recursos financeiros que as equipas têm para ir buscar bons jogadores. A centralidade dos direitos da televisão tem de ser uma realidade. Tem de se arranjar algo de forma criativa para que isso aconteça o mais rápido possível", disse, notando, por exemplo, que os jogadores não ficam muito tempo na Liga portuguesa.

"Os plantéis não são estáveis e são alterados de ano para ano por causa da falta de solidez financeira. São os grandes e os pequenos. Quando há uma oferta tudo vai", disse lembrando as transferências de Tapsoba do Vitória de Guimarães para o Bayer Leverkusen ou Trincão para o Barcelona [ainda fica no Minho até final da época]."

Pela primeira vez desde a longínqua temporada de 1978/79, há mais de quatro décadas, o futebol português viu todas as suas equipas ficarem de fora dos ‘oitavos’ das taças europeias de futebol.

O Benfica não conseguiu ultrapassar o Shakhtar Donetsk, o SC Braga tinha sido afastado pelo Rangers, enquanto que o Sporting caiu aos pés dos turcos do Basaksehir e o FC Porto foi eliminado pelo Bayer Leverkusen.