Portugal
SOS Racismo avança com queixa contra Rui Santos pelo “bacteriologicamente puro”
2019-03-25 10:15:00
"Declarações de Rui Santos revelam um discurso de conteúdo inequivocamente racista e xenófobo", lamenta SOS Racismo

“A Federação deve assumir a sua posição de ‘formadora’, de alguma maneira, com cuidados relativamente ao jogador português, bacteriologicamente puro, formado nos clubes, e portanto acho muito duvidoso que [Dyego Sousa] seja mais um jogador que vá ficar na história em Portugal. Penso que não vai”, afirmou Rui Santos, no programa Tempo Extra, na SIC Notícias, no dia 19 de março, num comentário à chamada do jogador brasileiro, do SC Braga, convocado por Fernando Santos para a seleção.

A frase gerou ecos nas redes sociais e levou agora o SOS Racismo a agir, em palavras (repudiando a declaração do comentador) e ações: “As declarações de Rui Santos revelam um discurso de conteúdo inequivocamente racista e xenófobo, que infelizmente não é caso único na comunicação social, nomeadamente nos espaços dedicados ao comentário desportivo. Tais declarações parecem ignorar que Dyego Sousa, natural do Brasil, tendo dupla nacionalidade - brasileira e portuguesa - desde 2016, se encontra legitimado a representar Portugal na sua Seleção, de resto como qualquer outro jogador com nacionalidade portuguesa”.

Num comunicado, o SOS Racismo considera ainda que “mais grave ainda, o uso da expressão ‘bacteriologicamente puro’ evoca uma representação biológica da ‘raça’ ou ascendência que, além de cientificamente ultrapassada, é um veículo explícito de ofensa e preconceito”.

“No contexto nacional em que vivemos, com importantes problemas de racismo e de xenofobia, as declarações de Rui Santos devem ser denunciadas e veementemente repudiadas”, assume ainda aquela entidade, que vai avançar com uma queixa.

“O SOS Racismo irá apresentar a competente queixa à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, bem como à Entidade Reguladora da Comunicação Social, exigindo consequência e firmeza na condenação, e bom senso e sentido de responsabilidade aos diferentes atores da comunicação social, de modo a assegurar que estes não sirvam como veículos para alimentar preconceitos e para legitimar, uma vez mais, práticas e discursos xenófobos ou racistas”, justifica.