Portugal
Por que perde o Benfica… segundo Rui Vitória
2017-12-06 16:20:00
Analisámos as declarações do treinador do Benfica a seguir a cada uma das sete derrotas desta época.

Lances fortuitos”, “golo num ressalto”, “golos de certa forma esquisitos”, “um pequeno pormenor”, “situações que acontecem, mas não podemos controlar”, “um golo atípico”, “o adversário cada vez que foi lá abaixo acabou por marcar” e “circunstâncias atípicas” foram várias das justificações apresentadas por Rui Vitória a seguir às sete derrotas que o Benfica já soma esta temporada (seis na Liga dos Campeões e uma na Liga Portuguesa).

Analisando as palavras do treinador, a explicação mais frequente para as derrotas do Benfica parece estar na eficácia dos adversários, em pequenos detalhes e em golos sofridos apenas por azar do Benfica ou sorte dos adversários. Nunca Rui Vitória falou num Benfica que tivesse sido inferior aos adversários, nunca falou nalguma má abordagem à partida, nalguma opção errada ou nalgum problema de atitude e, em geral, acabou sempre por elogiar a exibição da sua equipa. O discurso mais autocrítico aconteceu após a goleada (5-0) sofrida em Basileia, em que Vitória admitiu a existência de muitos erros da sua equipa, mas onde, ainda assim, viu vários méritos, pois o Benfica teve “mais tempo a bola, sendo uma equipa pró-ativa com a bola e a querer procurar os espaços”. O problema foi que “o adversário cada vez que foi lá abaixo, principalmente até ao 3-0, acabou por fazer golos”.

As explicações de Rui Vitória em discurso direto

Recordemos cronologicamente as palavras de Rui Vitória, jogo a jogo. Na derrota (2-1) frente ao CSKA, na Luz, logo à primeira jornada, o treinador do Benfica mostrou-se satisfeito com a exibição, lamentando a falta de eficácia da sua equipa, por oposição à da equipa russa. “Fizemos o que tínhamos a fazer. Obviamente que isto é futebol e o CSKA acaba por aproveitar as bolas que teve. Estivemos sempre à procura do golo, mesmo quando estivemos em inferioridade no marcador, só que não entrou, vai entrar noutra altura”, considerou o treinador, concluindo: “Este resultado não é verdadeiro, merecíamos ter ganho.”

Apenas quatro dias depois, na visita ao Estádio do Bessa, o Benfica foi derrotado por 2-1, e Rui Vitória considerou que “dois lances fortuitos ditaram o resultado. O Boavista empata num ressalto e depois num livre, em lances que às vezes não controlamos, explicou.

A 27 de setembro, o Benfica saiu de Basileia com uma pesada derrota (5-0), o que levou Rui Vitória a reconhecer muitos erros da sua equipa, ainda que conseguindo ver aspetos positivos e tendo lamentado, mais uma vez, a eficácia adversária. “Foi um jogo que não nos correu bem, quem sofre logo no primeiro minuto um golo como sofremos e depois o adversário vem na segunda vez à nossa baliza e acaba por fazer 2-0… depois temos um penálti e uma expulsão... de facto, as coisas não correram bem e quando assim é, a este nível, paga-se caro. Foi um jogo que acabámos por perder cometendo erros, tendo mais tempo a bola, sendo uma equipa pró-ativa com a bola e a querer procurar os espaços, mas o adversário cada vez que foi lá abaixo, principalmente até ao 3-0, acabou por fazer golos. Foram muitos erros que cometemos e isso paga-se caro”, explicou o treinador.

Seguiu-se a receção ao Manchester United, em que o Benfica perdeu por 1-0, com o golo em que Svilar segurou a bola já dentro da baliza. Talvez por isso Rui Vitória tenha considerado que o jogo foi decidido por “um pequeno pormenor que fez a diferença”, não deixando de se mostrar “contente porque houve coisas boas” e de elogiar a abordagem da equipa à partida.

Na quarta jornada da Liga dos Campeões, o Benfica visitou Manchester, onde Rui Vitória viu “uma equipa com caráter, determinação e personalidade, a fazer muito bem o que tinha a fazer”. No entanto, o Benfica perdeu por 2-0, porque os seus jogadores foram “penalizados pela forma como os golos entraram. São golos de certa forma esquisitos e não aproveitámos as bolas que tivemos”, explicou Vitória lembrando a derrota anterior, na Luz: “Tínhamos feito um belíssimo jogo contra o Manchester em casa. Evidentemente o golo foi da forma como foi e aqui acaba por ser também um bocado a mesma coisa”, explicou. “Ainda sem fazer qualquer tipo de balanço, o que há aqui de penalizador é a forma como acabámos por sofrer os golos, há aqui alguma dose de injustiça”, afirmou o treinador, lembrando que a Liga dos Campeões é uma “competição em que os pormenores fazem toda a diferença e fomos penalizados por isso”.

Já com a situação no grupo muito complicada, o Benfica foi a Moscovo onde acabou derrotado por 2-0, ficando definitivamente afastado da possibilidade de apuramento. O problema para Rui Vitória voltou a ser semelhante ao dos jogos anteriores. “Podíamos ter feito o golo do empate pelo Jonas e, depois, houve um golo atípico em que a bola aparece na nossa baliza do nada”, afirmou o técnico, considerando que “esta fase acabou como começou: um bocadinho atípica pela forma como sofremos os golos, em situações que acontecem, mas que não podemos controlar”. O treinador reconheceu, ainda assim, que a equipa tinha “capacidade para fazer melhor”, mas o que aconteceu “foi atípico, com quatro penáltis, mais duas expulsões, foi uma série de coisas que aconteceram na mesma competição.”

Finalmente, esta terça-feira, o Benfica recebeu o FC Basileia e sofreu a sétima derrota (2-0) da época. A culpa voltou a ser da eficácia adversária, segundo Rui Vitória. “A equipa do FC Basileia foi muito eficaz, praticamente vai duas ou três vezes à nossa baliza e acaba por fazer dois golos”, disse o treinador. “Tivemos uma série de situações em que podíamos ter finalizado melhor, em que a bola podia ter entrado, mas não conseguimos materializar”, afirmou  considerando que “acabou por ser um jogo ingrato e o espelho do que foi esta Liga dos Campeões, em que não fomos, na maioria dos casos, inferiores às equipas adversárias”. O problema, adivinhe, explica-se com “uma série de circunstâncias, que eu diria atípicas, que acabaram por originar isto”.

E assim explicou Rui Vitória as derrotas desta temporada. Com tantos lances fortuitos e situações que não podem ser controladas, talvez o melhor seja mesmo contratar um bruxo.