Portugal
Óliver Torres foi um oceano de oportunidades numa equipa unidimensional
2018-07-20 22:00:00
Frente ao Lille OSC, o FC Porto jogou ao ritmo de Óliver.

Óliver Torres é um jogador especial. No Porto, a vida do jovem espanhol de 23 anos não tem sido fácil. Em particular desde que Sérgio Conceição assumiu o comando técnico dos dragões e uma certa simeonização do FC Porto se iniciou. Nisso não é novo. Não lhe é estranho. Volta a ser peixe fora de água. Em 2017/18 o melhor de Óliver não se chegou a ver, tendo mesmo ficado, o espanhol, associado diretamente ao início do melhor Porto e não pelas melhores razões. Afinal, foi quando Sérgio Conceição lhe retirou a titularidade, após o jogo frente ao Besiktas a contar para a primeira jornada da Liga dos Campeões, que o FC Porto se definiu.

Resultado Final: FC Porto-Lille OSC, 1-2 (Hernâni, 72’; Xeka, 64’ e Mothiba, 87’)

Sobre o relvado do Estádio do Algarve e a aproveitar a ausência do mundialista Herrera, Óliver voltou a mostrar ao que vem sempre que uma época se inicia. Oferecendo mais cérebro do que potência, tão desejada por Sérgio Conceição quanto necessária para o seu sistema, Óliver mostrou que é especial. Como quando à passagem do quarto de hora de jogo isolou Marega, qual truque de magia, batutando como maestro praticamente todo o futebol ofensivo do FC Porto.

Óliver é o primeiro a pegar na bola, o primeiro a ditar e a pautar o jogo do FC Porto, bem junto a Felipe e a Diogo Leite, mas é também aquele que segundos mais tarde está lá na frente tentando ser decisivo, descobrindo e criando espaços para que Marega ou André Pereira cheguem ao golo que teima em não chegar à medida que o jogo avança. Por esta altura Óliver Torres parece omnipresente. Como aos 34 minutos, por exemplo, quando depois de ter tentado levar o FC Porto para a frente acabou por ser ele mesmo a bloquear um remate de um homem do Lille OSC. Óliver enche o campo e mostra ao que vem. Vem para oferecer algo mais do que potência. Vem para oferecer cérebro, porque mais do que correr muito, importa correr bem.

No FC Porto, porém, apesar daquilo que oferece, da dinâmica que concede ao futebol portista - e mesmo sem bola parece um jogador mais completo, no equilíbrio e nas ações defensivas -, Óliver continua a ter vida difícil. Os laivos de jogador que vale 20 milhões de Euros têm estado à vista nesta pré época, ainda assim, e frente ao Lille não foi exceção. Óliver comandou sem ser capitão. Liderou sem ser líder. Sempre em movimento. Sempre dinamizando. Sempre com um propósito de proatividade nas suas ações.

Óliver pode ser um peixe fora de água, mas é também nessa “estranheza” ao sistema de Conceição que está a sua mais valia. Óliver é um jogador especial e oferece ao FC Porto o que nenhum outro jogador oferece e, se frente ao Lille o encontro chegou empatado a zero ao intervalo, Óliver Torres certamente não o merecia. Dinamizando. Variando o jogo. Ditando todos os momentos do jogo ofensivo do FC Porto. Quando acelerar. Quando o abrandar. Nunca o travando. Pelo contrário, com um pouco habitual dom para acelerar o jogo abrandando-o, por vezes. Brilha mais, o futebol azul e branco, quando Óliver e Brahimi combinam e se associam.

Mesmo num Porto que mal incomodou - e mal foi incomodado à exceção de um par de remates de meia distância -, Óliver encheu o campo, mesmo que até nem tenha intervido na melhor jogada do FC Porto no encontro quando aos 48 minutos Hernâni surgiu na cara de Maignan para dipara(ta)r ao lado, num início de segunda metade aberto, mais rápido e com mais baliza. Aos 63 minutos, por exemplo, Fabiano fez a defesa da noite minutos depois de ter visto um homem do Lille lhe surgir isolado pela frente e imediatamente antes de Xeka ter cabeceado para golo após canto desviado ao segundo poste. As substituições chegaram e 65 minutos foi o que durou Óliver Torres. Não surpreendeu. A entrada de Otávio ao intervalo substituindo Sérgio Oliveira deixou dois homens de características semelhantes - que é como quem diz, macios - no miolo e, acima de tudo, deixou Óliver sem a guarda necessária, permitindo ao Lille crescer e chegar à vantagem. É que essa é a fraqueza de Óliver neste sistema de Conceição: enche o campo, mas não pode (consegue) fazer tudo e precisa ter um médio mais posicional ao seu lado.

Pelo FC Porto, Óliver Torres leva já 107 jogos oficiais, nunca tão poucos desde que Sérgio Conceição chegou ao Dragão e ainda menos após a fatídica noite frente ao Besiktas. Óliver, porém, oferece o que nenhum outro médio no Dragão oferece. Depois de um ano de adaptação ao sistema de Conceição, será Óliver peixe em pleno habitat natural esta temporada? Do Algarve ficaram boas indicações, mas só o regresso de Herrera permitirá perceber se Óliver é chave principal ou apenas alternativa.

Frente ao Lille o FC Porto entrou com: Fabiano; Chidozie, Diogo Leite, Felipe e Alex Telles; Paulinho, Sérgio Oliveira, Óliver Torres e Brahimi; André Pereira e Marega.

Foram também a jogo: Vaná, João Pedro, Reabciuk, Mikel, Otávio, Waris, Hernâni, Soares e Adrián.