Portugal
Nas coisas em que o Benfica é forte o Chaves foi melhor
2018-09-28 00:05:00
Assistiu-se a uma bela partida de futebol porque estas duas equipas percebem as coisas simples do futebol

Dizia-se, nos tempos áureos de Arsène Wenger no Arsenal, que o treino do clube inglês se fazia com semáforos. Isto é, teria de haver, sempre, pelo menos dois jogadores com o sinal verde, para que o jogador que tivesse a bola pudesse escolher a melhor linha de passe. O jogo desta noite mostrou porque é tão importante o trabalho dos jogadores que não têm a bola. O Benfica costuma ser muito forte neste aspeto, na dinâmica dos jogadores que procuram dar linhas de passe ao portador da bola, mas curiosamente defrontaram uma equipa que os superou nesse capítulo. Mérito para Stephen Eustáquio e Bruno Gallo que procuraram sempre dar linhas de passe na zona central do terreno.

O primeiro lance do jogo é paradigmático do que explicámos no primeiro parágrafo. O Benfica é muito intenso ofensivamente devido às constantes movimentações dos jogadores que não têm a bola. Cervi é particularmente agressivo neste capítulo, na capacidade que tem para oferecer linhas de passe aos colegas com a bola e fê-lo eximiamente aos quatro minutos no lance que deu o primeiro golo da partida, quando se colocou à disposição de Seferovic para aquele que seria um desenho quase perfeito de como construir uma jogada de ataque.

A verdade é que depois do assomo inicial do Benfica foi o GD Chaves que tomou conta do jogo, apoiado no trabalho incansável de Stephen Eustáquio e Bruno Gallo no meio campo. Os dois jogadores foram fundamentais na capacidade apresentada pela equipa de Daniel Ramos em construir jogadas de ataque durante toda a primeira parte. A constante movimentação destes dois jogadores flavienses, no centro do terreno, à procura de linhas de passe e depois servindo de ligação com os jogadores mais avançados complicou sobremaneira a vida do Benfica, que nunca conseguiu controlar o jogo e muito ficou a dever a Vlachodimos o facto de chegar ao intervalo em vantagem por 1-0.

Ainda que no mesmo registo exibicional, o GD Chaves a jogar olhos nos olhos com o Benfica, a verdade é que a segunda parte não foi tão espetacular, pelo menos até ao minuto 75, altura em que Ghazaryan faz o 1-1 com um livre do meio da rua. O remate é colocado, é certo, mas foi de muito longe e impunha-se uma diferente abordagem de Vlachodimos, o guarda-redes do Benfica que em tão bom plano tinha estado até então.

O segundo golo do Benfica, já dentro dos últimos dez minutos do jogo, foi outro exemplo da intensidade dos jogadores encarnados na procura de linhas de passe a oferecer ao portador da bola. Num movimento diagonal típico, Rafa Silva engana toda a defensiva flaviense, e oferece-se a Rúben Dias, que beneficiou da movimentação de Seferovic para colocar a bola entre Rafa e a baliza de Ricardo. O resto foi trabalho do pequeno extremo que parece ter feito as pazes com as balizas adversárias.

No entanto, o melhor do encontro estava para vir. A jogada do segundo golo de Ghazaryan é o exemplo perfeito do que acabámos de escrever: a constante movimentação dos jogadores livres, permitiu que o GD Chaves chegasse à área do Benfica em condições de municiar o pé direito do atacante arménio, que se esqueceu de pedir licença antes de rematar, mais uma vez, para o fundo da baliza de Vlachodimos.

Isto de pedir que os jogadores ofereçam linhas de passe aos colegas aprende-se nas escolinhas, é uma regra básica do futebol, e por isso mesmo se diz que as melhores equipas são aquelas que melhor conseguem fazer as coisas simples do futebol. Acontece que há muitas equipas que não percebem a simplicidade de um jogo que vive de dinâmicas. As que vimos esta noite, no Estádio Municipal de Chaves, percebem isso, e por isso mesmo assistimos a uma excelente partida de futebol.