Portugal
Miki Fehér. Há 16 anos o futebol unia-se na dor da perda
2020-01-25 09:00:00
Morte do jogador é um dos momentos marcantes do futebol nacional

Já lá vão 16 anos e na memória do futebol português ainda habita aquela trágica despedida do rapaz húngaro que caiu no relvado, em Guimarães.

Dos que lá estavam ou dos que viram pela televisão, de adeptos a jogadores, de treinadores a jornalistas ou outros agentes desportivos, ninguém esquece um dos momentos mais marcantes do futebol português. Naquele momento, as cores esbateram-se e todos se uniram na dor da perda de um rapaz cuja morte apareceu em direto na televisão, coisa nunca antes vista por cá. Passaram 16 anos, mas a despedida de Miki Fehér ainda deixa arrepios na pele.

Fehér tinha uma vida pela frente mas perdeu-a, aos 24 anos, tragicamente a fazer o que mais gostava, a jogar futebol, perante um estádio a ferver de emoção e incerteza no resultado.

O camisola 29 do Benfica, número que deixou desde então de estar disponível no clube da Luz em homenagem ao rapaz loiro, caiu inanimado no tapete do Estádio de Guimarães.

Naquela hora, uniram-se gritos e aplausos de adeptos que esqueceram as questões de arbitragem, o resultado, e se uniram a uma só voz para tentar no berço de Portugal embalar Fehér para a vida. Ao mesmo tempo, os colegas desesperavam e as equipas de socorro tentavam resgatar uma vida que, horas mais tarde, era dada como definitivamente perdida.

Fehér marcou o futebol português pela forma trágica como se despediu de todos os adeptos e neles deixou os olhos encharcados de água. Nunca como naquele dia, se tinha assistido em direto pela televisão, a um momento desses.

Anos antes, o portista Fernando Pascoal das Neves, conhecido simplesmente por "Pavão", também perdeu a vida em circunstâncias semelhantes. Na altura, o jogador caiu fulminado ao minuto 13 de um duelo nas Antas entre FC Porto e Vitória de Setúbal. No entanto, no caso de Fehér, o jogo passava em direto na televisão e, na era da informação imediata, as imagens correram o país e o mundo.

A 25 de janeiro de 2004, despedia-se da vida o magiar que chegou ao Porto como um ilustre desconhecido na temporada de 1998/99, depois de ter dado nas vistas ao serviço do Gyori ETO na Hungria, país que o viu nascer a 20 de julho do ano de 1979.

Contratado pelo FC Porto, Fehér nunca se conseguiu impor de dragão ao peito já que naqueles anos imperava a lei (os golos, entenda-se) de Mário Jardel. Acabaria por ser em Paranhos que Fehér começaria a dar nas vistas para gáudio da alma salgueirista.

Os golos pelo emblema do já extinto Estádio Vidal Pinheiro aguçaram a cobiça de Manuel Cajuda que o quis levar para Braga e foi ainda no velhinho Estádio 1.º de Maio que Fehér se mostrou a Portugal com uma veia goleadora implacável.

Fehér ainda voltaria ao FC Porto mas não conseguiu fixar-se e acabaria por ser contratado pelo rival Benfica na temporada 2002/2003. Porém, tal como a norte, Fehér voltava a não conseguir impor o seu futebol e os seus golos, sendo frequentemente relegado para o banco de suplentes ou para a bancada tanto nessa época como na seguinte, de tal modo que alguma imprensa escrevia, nos idos anos de 2004, que Fehér poderia estar de saída do Benfica.

Quis o destino que a saída acabasse por acontecer mesmo, para sempre, depois de cair inanimado ao minuto 90+1' do jogo entre Vitória de Guimarães e Benfica, depois de ver um cartão amarelo, mostrado por Olegário Benquerença.

O Vitória, nesse noite orientado por Jorge Jesus, estava a perder por 1-0, valia um golo marcado por Fernando Aguiar, quando Fehér caiu no relvado e, naquele momento, porventura, os que pensavam que estava a fazer anti-jogo rapidamente perceberam a gravidade da situação.

Apesar dos esforços conjuntos das equipas médicas, a vida de Fehér perdeu-se e, horas mais tarde, o Hospital de Guimarães confirmava que o jogador magiar tinha sido vítima de uma paragem cardiorrespiratória devido a uma "cardiomiopatia hipertrófica".

Os cânticos de todo o estádio, e as homenagens que se seguiram, não devolveram a vida a Fehér mas mostraram um momento de fair-play e união do país da bola, que esqueceu tudo mas não esquece a trágica despedida do jogador. Passaram 16 anos.