Prolongamento
Mário Figueiredo escreve ao Parlamento a repudiar escolha de Cláudia Santos
2020-05-06 22:25:00
Deputada socialista encabeça a lista para o Conselho de Disciplina na candidatura de Fernando Gomes à FPF

Mário Figueiredo, antigo presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), enviou aos grupos parlamentares uma carta a repudiar a escolha da deputada Cláudia Santos para presidir ao Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol.

No texto, citado pelo Jornal de Notícias e que reproduz declarações que Mário Figueiredo tinha escrito no Facebook, o ex-dirigente desportivo apresentou a deputada socialista como "toldada pelo ódio ao FC Porto".

Como argumento, Mário Figueiredo apresentou o livro "por ela publicado", em 2018, pela forma como abordou o caso Apito Dourado.

"Resulta que a senhora deputada não tem isenção e imparcialidade para julgar o FC Porto (e por inerência o seu rival Benfica) se for eleita para o cargo de presidente do CD", sustentou.

Devido a essa alegado "distanciamento" em relação "ao FC Porto (e ao Benfica)" para presidir ao CD "com isenção e imparcialidade", o ex-presidente da LPFP solicitou ao Parlamento um parecer sobre eventuais "impedimentos ou incompatibilidades".

Esse parecer, no entanto, já existe, pelo que Mário Figueiredo pretende transformá-lo num "pedido de autorização para conspurcar o Parlamento e todos os grupos parlamentares envolvidos na decisão".

Advogado de profissão, o ex-dirigente da Liga garantiu ser conhecida a "inimizade" particular de Cláudia Santos em relação ao presidente do FC Porto, Pinto da Costa, ao vice-presidente da SAD dos dragões, Adelino Caldeira, e ainda a Nuno Brandão, o advogado que costuma defender os azuis e brancos nos processos julgados pelo CD.

Na carta aos grupos parlamentares, Mário Figueiredo citou excertos do livro 'A Corrupção de Agentes Públicos e a Corrupção no Desporto', da autoria da professora e deputada Cláudia Santos, para reforçar a tese da "falta de objetividade e de isenção".

"Toldada pelo ódio ao FC Porto, critica o julgamento dos factos" feito pelo Tribunal da Relação do Porto, no acórdão do caso Pinto Dourado, sustentou o jurista, avançando com "a intrigante questão de saber porque pagaria (o arguido) os serviços de três prostitutas quando esse seu outro amigo (...) era apenas um".

"Ao contrário do tribunal que ficou com dúvidas e que entendeu plausível a versão de um dos arguidos, já a deputada entende que não seria plausível que as três prostitutas pudessem fazer sexo em grupo, pelo que o FCP deveria ser condenado", explicou.

Para Mário Figueiredo, Cláudia Santos "entra na matéria da pura especulação subjetiva sobre os motivos do julgamento dos factos e das presunções decorrentes de factos provados para poder concluir que o FC Porto deveria ter sido condenado".

"Faço votos que não se escudem num simples regimento de incompatibilidades, que é uma norma de valor inferior, para conceder uma autorização de acumulação de funções que violará princípios constitucionais prevalentes, como o princípio da separação de poderes, bem como direito que qualquer pessoa jurídica tem a um processo justo e equitativo", finalizou o ex-dirigente da LPFP, na mensagem enviada aos grupos parlamentares.

No entanto, Mário Figueiredo deixou uma pergunta em aberto no Facebook, a propósito do "atoleiro em que a Assembleia da República se está a tornar".

"O Parlamento entende mesmo que a deputada com este registo de conflito de interesses e de falta de isenção e de imparcialidade impressos em livro, pode mesmo ter isenção para julgar em tribunais desportivos, esquecendo-se, ainda por cima, do princípio da separação de poderes?", questionou.

Recorde-se que, há dias, Mário Figueiredo tinha classificado a escolha de Cláudia Santos como uma prova do "verdadeiro bordel no futebol".

A escolha da deputada tem sido também criticada por várias figuras politicas, com Marques Mendes e Miguel Poiares Maduro à cabeça.

Ex-presidente do PSD, Marques Mendes considerou que a escolha de Fernando Gomes é reveladora da "promiscuidade entre futebol e política".

No final de abril, tinha sido Miguel Poiares Maduro, ex-ministro e ex-dirigente da FIFA, a afirmar que "o princípio da separação entre a política e o futebol continua a ser usado apenas quando serve ao futebol".

Já o PS saiu em defesa da deputada depois de uma alegada associação ao Benfica frisando que essas acusações "estão por demonstrar".