Portugal
"Indústria do futebol está refém dos interesses económicos", diz Carlos Pinto
2020-04-07 19:45:00
Treinador lembra prejuízos provocados pela suspensão das competições devido à pandemia de covid-19

A intenção da UEFA em prolongar a época até ao início de agosto, que tem sido suportada pela maioria dos clubes, é motivada pela dependência dos clubes de receitas como os direitos de transmissão televisiva, no entender de Carlos Pinto.

Em entrevista ao Bancada, o treinador que levou Santa Clara e Famalicão à I Liga, escalão em que orientou o Paços de Ferreira, defendeu que as competições devem ser retomadas "assim que possível", mas admitiu que possa haver pressões motivadas pelos interesses económicos.

"Acredito que um dos motivos para os principais organismos pretenderem e insistirem no prolongamento da época até agosto seja o facto de a industria do futebol estar refém dos interesses económicos. Podemos pegar no nosso exemplo interno, em que a Liga sabe que esta paragem vai prejudicar bastante as receitas, como por exemplo a TV, a desvalorização dos atletas, receitas de bilheteira, entre outros", argumentou.

A hipótese da época ser retomada com jogos à porta fechada, para travar o contágio e ao mesmo tempo permitir a transmissão televisiva, não é a ideal para "os intervenientes do jogo", mas aceitável face à situação de pandemia.

"Penso que um regresso precipitado e com gente nos estádios à competição será um risco, por isso entendo essa medida. Se for para o bem de todos, que assim seja", defendeu.

A mesma prudência deve ser aplicada nos casos de lay-off, pois a paragem das competições tem prejudicado toda a indústria do futebol.

"Temos de olhar para todas as perspectivas, temos de olhar para a perspectiva da Liga, que sabe que vai sair prejudicada nesta situação, temos de olhar para a situação dos clubes que sabem que vão perder aproximadamente 50 por cento das receitas. Não podemos deixar de pensar também nos jogadores, que muitos deles aceitam um corte no vencimento, mas que muitos deles pretendem serem compensados quando a actividade for retomada", lembrou.

Carlos Pinto defendeu ainda que, caso as competições sejam retomadas, será preciso "um período preparatório".

"Estamos a falar de dois meses no mínimo de paragem. Todos os conceitos, tudo aquilo que vem sendo trabalhado, terá de ser revisto, terá de ser abordado de novo. Mais importante do que tudo, poderá existir uma fadiga muito grande por parte do atleta, não uma fadiga física, mas sim uma fadiga mental, um desgaste psicológico. Tão importante como recuperar os índices físicos do atleta será recuperar os índices mentais e criar no atleta uma pré-disposição para todo o trabalho que vai ser desenvolvido", concluiu.

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