Portugal
"É uma ofensa aos portugueses, ao futebol e a todos", avisa Evangelista
2020-03-26 14:55:00
Líder do sindicato dos jogadores diz que é tempo de "nos livrarmos de alguns clubes e de alguns dirigentes"

Numa altura em que os clubes dos campeonatos profissionais admitem a possibilidade de uma redução dos ordenados dos atletas, o Sindicato dos Jogadores mostra-se disponível para dialogar, mas vai avisando que não podem ser os futebolistas sozinhos a 'pagar' a fatura.

Joaquim Evangelista pede que esta altura de crise seja usada para "ajustamentos" e não só. "Para nos livrarmos de alguns clubes e de alguns dirigentes que estão a mais e que só afetam a imagem e a credibilidade desta indústria".

O líder do sindicato entende também que o tempo poderá agora ser usado para que os clubes tenham de alterar o paradigma e as estratégias.

"Depois da crise nada vai ser como dantes. Vai ter de existir um ajustamento à realidade económica. A responsabilidade é dos clubes, primeiramente, para não terem mais olhos que barriga, não gastarem mais do que aquilo que geram", analisa, lamentando que se coloquem "os jogadores no olho do furacão como se fossem os responsáveis" pela crise económica provocada pela paragem face ao novo coronavírus.

"Não é justa, não é aceitável e é egoista", assinala Joaquim Evangelista, dando o exemplo do Desportivo das Aves.

"O Aves chegou ao ponto de associar o não pagamento de janeiro e fevereiro à crise do coronavírus. Não é legítimo, não é aceitável. É um abuso e é indecente."

Nestas declarações à 'Renascença', Joaquim Evangelista admitiu ainda que os jogadores estão "disponíveis para fazer sacrifícios e partilhar sacrifícios".

"Estamos em contacto com a Liga e entendemos que ainda não há razões para alarme do ponto de vista de deixar de cumprir as obrigações que assumiram na medida em que as receitas foram antecipadas. O impacto ainda não é evidente. É esse trabalho que tem de ser feito nesta altura, um diagnóstico para quantificar os prejuízos. A esmagadora maioria dos clubes tem sido razoável", afirmou Joaquim Evangelista, ele que já tinha dado conta de que os "clubes ainda não têm razões para dizer que não podem pagar salários".

O sindicalista lamenta, contudo, que existam sempre "meia dúzia de clubes, que são sempre os mesmos, que utilizam todos os expedientes e mais alguns para não pagar, recorrem ao PER [processo especial de revitalização] e querem privilégios relativamente aos outros".

"Aqueles que normalmente não cumprem são os primeiros nestas circunstâncias a aproveitar deste problema. É uma ofensa aos portugueses, ao futebol e a todos", admite Evangelista, em entrevista à 'Renascença'.

O líder do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) pede que no diálogo que deverá ser feito entre todos é preciso pensar na forma como o futebol tem sido conduzido.

"Podemos discutir se os salários que são pagos fazem sentido ou não. Mas isso não é culpa dos jogadores. Isso é culpa do mercado. Há correções que têm de ser feitas. O futebol tem de dar o exemplo e ajudar quem mais precisa. Vamos ter que mudar de vida e fazer sacrifícios. Os jogadores estão preparados para isso. Os clubes estarão? E os dirigentes? Não aceito que meia dúzia de dirigentes que são incumpridos e que sempre usaram estas habilidades sejam os primeiros a queixar-se."