Portugal
“A Liga não tem razão de existir, quem manda são três ou quatro presidentes”
2020-05-24 22:00:00
Vítor Oliveira critica egoísmo dos dirigentes

A carta de Pedro Proença a propósito das operadoras foi apenas mais um exemplo do principal problema do futebol português, no entender de Vítor Oliveira: o egoísmo dos dirigentes.

Em declarações à A Bola TV, o treinador do Gil Vicente criticou o tempo perdido desde que o campeonato foi suspenso.

“Os dirigentes atacam-se sistematicamente, ninguém se entende, mesmo com a pandemia voltámos a constatar que o grande problema do futebol português é que há muita gente boa para pensar o futuro e não pensa, só olha para o umbigo”, argumentou.

Esse egoísmo baseia-se em grande parte na dependência dos clubes das receitas transmissivas, o que deixa o futebol ‘nas mãos’ das operadoras e de outros agentes económicos.

“As operadoras são extremamente importantes, mas os diretores deviam tentar reduzir o peso nos orçamentos”, frisou o técnico, calculando que esse peso ronde os 70 por cento.

Com Pedro Proença a ser fortemente contestado pelo carta que escreveu a Marcelo e a António Costa a propósito das operadoras, Vítor Oliveira lamentou a falta de união no futebol português.

“Neste momento, a Liga não tem razão de existir”, afirmou.

“Quem manda são três ou quatro presidentes, conforme os seus interesses. O presidente [da Liga] é desautorizado de forma quase sistemática”, reforçou o técnico, apresentando como ‘prova’ a polémica sobre o encerramento da II Liga, que prejudicou dois clubes (que descem de divisão), beneficiou outros dois (que sobem à Liga) e não mexem diretamente com os interesses dos restantes.

“Houve muita gente a pensar o futebol, mas nem sempre pensaram bem”, continuou o experiente treinador, lembrando de seguida a ‘novela’ em torno dos estádios para o que falta jogar da I Liga.

“Primeiro pensaram que ia ser no Algarve, depois o Centro candidatou-se, depois já eram os estádios do Euro”, começou por elencar, antes de ressalvar que já participou em quatro jogos sem público e foi “horrível”.

“Futebol é povo, é ter presença física nas bancadas”, salientou Vitor Oliveira, contestando que se abram os cinemas (com lotação reduzida) e se fechem os estádios.

“Não me parece que uma sala a 50 por cento seja mais segura do que um estádio a 20 por cento. Tirando alguns clubes, temos 2000 a 3000 pessoas [por jogo], que serão 20 por cento da lotação dos estádios”, argumentou.

Vítor Oliveira lembrou ainda que a I Liga vai regressar com regras que... “não está bem definidas”. E deu exemplos.

“Vamos imaginar que daqui a duas ou três jornadas isto para. É extremamente grave. É preciso definir claramnte que classificação é que vale. Andamos há dois meses com reuniões permanentes, mas ainda não sabemos se estão todos os campos aprovados. Não percebemos porque é que o Santa Clara não joga em casa, pode ser determinante para a verdade desportiva”, atirou.

“Onde é que está a verdade desportiva se o campeonato vai para além de 30 de julho?”, questionou, a propósito de jogadores que vão terminar contrato nessa altura.

“Se na minha equipa houver jogadores que já assinaram por outras, em julho vão jogar contra o clube deles? Os jogadores emprestados não podem jogar contra o clube que empresta e pode acontecer isto”, complementou.

“É mentira, não queremos nada a verdade desportiva, o que está a começar agora é o futebol negócio, se quisermos ir mais longe é o futebol politica, é um bom indicador” para a socidede de que o pior da pandemia já passou.

“Andamos a empurrar com a barriga e já tomámos uma série de decisóes completamente erradas”, insistiu o técnico, considerando que não será surpreendente “se daqui a dois, três anos aparecerem mais Gil Vicentes nos tribunais”.

No meio de tudo isto, quem mais vai sofrer... serão os jogadores.

“Os jogadores não estarão mais protegidos do que os profissionais de saúde e já morreram enfermeiros e médicos”, concluiu Vítor Oliveira.