Visto da Bancada
Paulo Madeira (nº50)
2017-07-20 17:00:00
O antigo internacional português recorda um Olympique Marselha-Benfica, a contar para as meias-finais da Champions

Uma eliminatória que antecipou uma final da Taça dos Campeões Europeus”. O Olympique Marselha-Benfica, jogo a contar para a primeira mão das meias-finais da Taça dos Campeões Europeus de 1989/90, deixou marca vincada em Paulo Madeira, antigo defesa e capitão do emblema da Luz, que embora pertencesse ao plantel dos encarnados nessa época, teve que assistir de fora ao encontro em solo francês.

“Foram convocados 18 jogadores e como na altura só iam 16 para jogo, fiquei eu e o Chalana de fora e vimos o jogo na bancada, mais precisamente dos camarotes”, começou por contar Paulo Madeira ao Bancada. O antigo internacional português teve que assistir ao encontro de uma perspetiva díspar da que estava habituado enquanto futebolista, com o Benfica a ‘gladiar’ com um emblema que era de uma dimensão superior à que lhe é conhecida nos dias que correm. “O estádio estava completamente cheio, com duas equipas de renome, pois o Olympique Marselha na altura, para além do presidente extravagante como era o Bernard Tapie, tinha jogadores fantásticos no plantel, como o Francescoli, o Chris Waddle, o Mozer…”, prosseguiu Paulo Madeira.

Quanto às vicissitudes da partida, não correram de feição, na ótica do então jogador das águias. “Foi dos jogos que vi de fora em que assisti a uma equipa – o Benfica neste caso – levar um sufoco enormíssimo”. O conjunto orientado por Sven-Göran Eriksson saiu do encontro com um desaire por 2-1 (golos de Sauzée e Papi para os gauleses e de Lima para os portugueses), resultado ‘simpático’ para os encarnados, segundo Paulo Madeira, que considera ter sido “com alguma sorte que o jogo não foi mais pesado para o Benfica”.

O antigo futebolista, agora com 46 anos, recordou até um lance que ainda hoje perdura na sua memória, demonstrativo daquilo que foi o jogo. “Lembro-me até de um lance muito caricato, protagonizado pelo Veloso, em que a bola anda um ou dois metros em cima da linha de golo da baliza do Benfica, mas não há nenhum jogador do Olympique Marselha que consiga empurrá-la para dentro da baliza. O Veloso à última hora conseguiu tirar a bola em cima da linha”, reviveu Paulo Madeira.

Não somente o que ocorreu dentro das quatro linhas, como também todo o ambiente em redor do decisivo embate, prendeu a atenção de Paulo Madeira. “Obviamente que quando se está a jogar lá dentro não se tem noção do que se passa cá fora e realmente aquele ambiente que se vivia fora das quatro linhas, com o público, a enchente que estava naquele estádio em Marselha, foi de facto uma situação marcante”. Uma atmosfera que chegou até a intimidar o antigo central, segundo revelou ao Bancada. “Eu e o Chalana a determinada altura, no camarote até nos sentimos intimidados e com algum receio que pudesse acontecer-nos alguma coisa. Foi não só dentro do campo, mas também fora, um ‘massacre’.”

Não obstante o desaire em solo francês, o Benfica conseguiu sair triunfante da eliminatória, devido ao posterior 1-0 na Luz, “com o célebre golo de Vata”, resultado que colocou os encarnados na final da Taça dos Campeões Europeus de 1989/90 (as águias perderam o duelo decisivo com o AC Milan, por 1-0).

Mas, foi a partida de Marselha que se tornou marcante para Paulo Madeira, que vivenciou o encontro de uma perspetiva a que não estava acomodado. “Foi marcante no sentido em que nós, futebolistas, quando estamos dentro de campo não temos a noção do que está à volta e do que no fundo envolve um jogo com aquela importância. Sabíamos que era um jogo importantíssimo, mas de facto aquilo que as pessoas muitas vezes dizem de que fora se sofre mais do que em campo foi precisamente o que verifiquei nesse jogo”, salientou ao Bancada o antigo internacional português.