Visto da Bancada
Dário Guerreiro (nº144)
2017-11-03 12:30:00
Ainda há quem torça pelo clube da sua terra

Hoje, no "Visto da Bancada", fala-se de amor pelo clube local. Dário Guerreiro – mais conhecido como “Môce dum Cabréste” – é um humorista português, natural do Algarve, que não embarca na história de torcer pelos três principais clubes nacionais. “Hoje, ser de um clube local é coisa de meia dúzia de carolas, como eu”, constata, ao Bancada, já depois de refletir sobre o que é isto de ser do clube da terra. A ler mais à frente.

Primeiro, vamos à bola. O Dário é do Portimonense e contou-nos a sua experiência num Portimonense-Sporting, para a Taça da Liga, em 2015/16. O clube algarvio estava na Segunda Liga e os lisboetas não visitavam Portimão há duas décadas, porque, recorda-nos, o Portimonense jogou a época 2010/11 no Estádio Algarve.

O estádio encheu, naturalmente. Encheu sobretudo de portimonenses e algarvios. No entanto, os adeptos que torciam pelo clube da casa não estavam em maioria. Diria que a proporção era de 40-60”, conta, ao Bancada.

Facebook/Dário Guerreiro

Esperava uma vitória dos favoritos leoninos? Desengane-se. “O Portimonense jogou melhor e ganhou ao Sporting de Jesus com dois golos de Ewerton sem resposta”, lembra Dário Guerreiro, antes de disparar, de forma mordaz: “Na bancada dos sócios, havia quem não tivesse ficado muito feliz com o resultado. Confesso que me deu um certo prazer ver os semblantes de indignação de sportinguistas derrotados pelo clube da cidade que os viu nascer, crescer, lhes dá trabalho, guarida, lazer, escola aos filhos e as condições necessárias para torcerem por um clube sedeado a 300 quilómetros de distância”.

Tudo isto porque, segundo o humorista, em Portugal “gostamos de futebol, mas gostamos ainda mais de ganhar. Custe o que custar”. “Esta sede insaciável de vitória, juntamente com muita “lavagem cerebral” transmitida de geração em geração, levou a que, ao longo do último século, os três clubes que mais jogos ganharam e títulos conquistaram açambarcassem a maioria dos adeptos do país, aliciados a torcer por quem lhe dava mais garantias de sucesso. Afinal, o clube que escolhemos apoiar — e sim, ‘escolhemos’ é a palavra certa — está intrinsecamente ligado ao nosso ego, e ninguém quer um ego frágil”, acrescenta.