Prolongamento
FC Vizela, uma equipa invencível: investimento chinês, Dona Ana Graça e Piqué
2018-02-02 21:05:00
A equipa comandada por Carlos Cunha não sabe o que é perder e está bem encaminhada para regressar à Segunda Liga

O FC Vizela lidera a Série A do Campeonato de Portugal sem derrotas, feito que o clube vizelense partilha com FC Porto e Sporting a nível nacional. Em 18 jogos já realizados, a equipa tem 14 vitórias e quatro empates, 33 golos marcados e apenas sete sofridos. O clube está no bom caminho para conquistar o regresso aos escalões profissionais, de onde caiu em 2015/16. A 12 jornadas do fim, o FC Vizela tem mais oito pontos do que o segundo classificado, o Fafe, e mais onze do que o terceiro, o Vilaverdense FC, adversário que os vizelenses vão defrontar este domingo, em Vila Verde.

A expetativa de que esta época é que é, no que diz respeito à subida à Segunda Liga, leva a que os dirigentes do clube tenham optado por um manto de silêncio à volta da equipa até que um ciclo mais exigente de jogos seja ultrapassado, adiando declarações de treinadores e jogadores do plantel à imprensa, com exceção das antevisões e pós-jogos, para mais tarde. Bancada, no entanto, foi descobrir os segredos da ‘poção mágica’ de um clube cuja equipa vai ganhando jornada a jornada reforçando a invencibilidade, e descobriu pequenas coisas que podem fazer toda a diferença e ajudam a explicar um pouco a época em curso.

Para começar a aposta na estabilidade técnica. À frente de uma equipa invencível está o treinador Carlos Cunha, de 46 anos, que chegou a época passada ao FC Vizela na parte final da época para substituir Rui Quinta, que tinha rendido Ricardo Soares que fora para o GD Chaves. Carlos Cunha não conseguiu evitar a despromoção ao Campeonato de Portugal, tendo em dez jogos só conseguido duas vitórias. A SAD, no entanto, apostou nele, reforçou a equipa e o cenário agora é completamente diferente. O clube investiu na estabilidade técnica, reforçou o plantel e os resultados começaram a aparecer. Longe dos holofotes mediáticos, Carlos Cunha, natural de Ponte de Lima, está no sétimo clube da sua carreira, depois de já ter orientado clubes como o Limianos, Vilaverdense FC, GD Ribeirão e São Martinho.

No atual plantel do Vizela, em que cerca de 59 por cento dos jogadores são portugueses, havendo mais quatro nacionalidades - há quatro brasileiros, tres costa-marfinenses, três ganeses e um suíço (Jony Fragnoli, de 29 anos, que chegou a jogar nos juniores do FC Porto, e que possui dupla nacionalidade), a experiência do guarda-redes Pedro Albergaria, de 37 anos, é um posto e não é por acaso que a equipa só tem sete golos sofridos, a segunda melhor marca do Campeonato de Portugal só batida pelo Farense, com seis tentos sofridos.

Outros nomes se destacam no plantel vizelense como Carlos Fortes, avançado de 23 anos, melhor marcador da equipa com sete golos, que já foi do SC Braga e jogou em Espanha, no Racing Santander, e no Sanliufarspor, da Turquia, ou a experiência de Dani Soares, médio de 36 anos, que depois de fazer toda a formação no Vizela jogou em clubes como o CFR Cluj, da Roménia, o Iraklis e o Xanthi, da Grécia, e o Vitória FC antes de regressar ao FC Vizela. Os avançados Pedro Correia, 29 anos, e João Paredes, 22 anos, ex-juvenil do Sporting, somam cinco golos para o campeonato e foram eles a formar a dupla atacante na última partida.

O plantel do FC Vizela mistura a experiência com a juventude mas para o treinador Carlos Cunha o segredo tem sido outro. "Lançamos onze, mas temos sempre sete disponíveis para acrescentar. Raramente repetimos um onze, e sempre que lançamos jogadores eles acrescentam algo na generalidade dos jogos", disse na conferência de imprensa a seguir à vitória em casa sobre o Merelinense por 2-1.

Adeptos especiais como a Dona Ana Graça...

Entre as pequenas coisas que podem fazer a diferença está, por exemplo, a qualidade dos adeptos que o FC Vizela tem. Que vão desde os simples apoiantes anónimos que enchem quase sempre o Estádio do Futebol Clube de Vizela e vão com a equipa atrás nas deslocações, passando pela Dona Ana Graça e chegando até a um simpatizante à escala mundial.

Desde o final da década de 80 do século passado que a vizelense Ana Graça não assiste a um jogo do clube do coração. Ainda marcou presença na última, e única vez, que o FC Vizela esteve na então 1ª Divisão, em 1984/85, temporada em que terminou no último lugar e que jogava no estádio do Vitória SC, na altura municipal, uma vez que, à data, Vizela pertencia ainda ao Concelho de Guimarães.

Por questões de saúde, a Dona Ana Graça, de 87 anos, foi proibida pelos médicos a não assistir aos jogos, mas o clube resolveu levar a adepta a um treino e o momento foi divulgado nas redes sociais. Ana Graça aproveitou para dar uma lição "tática" e pediu à equipa a subida de divisão, rumo ao objetivo máximo: alcançar o primeiro escalão.

 

A ideia partiu de Claúdio, ex-defesa central do FC Vizela, cuja última temporada no clube viselense foi em 2016/17, e que desempenha agora funções no clube relacionadas com marketing e comunicação, sobretudo ao nível das redes sociais. Cláudio explica ao Bancada como é que tudo aconteceu. “Na altura, quando era jogador do FC Vizela [para além das épocas 2015/16 e 16/17, Cláudio também jogou no clube de 2003/04 a 2008/09],sempre que a encontrava na rua ela perguntava-me como tinha sido o jogo, queria saber tudo, e dizia-me que tinha ouvido o relato. Achei que seria interessante convidá-la a assistir a um treino e fazer um vídeo com ela”.

... e Gerard Piqué!

E depois há o tal adepto à escala mundial. Gerard Piqué, ele mesmo. O defesa central do FC Barcelona e da seleção espanhol é o simpatizante mais famoso do FC Vizela, não tanto como a dona Ana Graça… O jogador surpreendeu ao surgir a assinar uma camisola do equipamento alternativo do Vizela, imagem que o clube fez questão de colocar logo nas redes sociais. “Temos um novo fã que estará a torcer pelas nossas vitórias e por um grande campeonato rumo à subida. Obrigado Gerard Piqué”, pode ler-se na página de Facebook do clube vizelense.
O investimento estrangeiro

Face ao mediatismo de Piqué, a imagem espalhou-se pelo mundo e, em declarações à EFE, o presidente da SAD Diogo Godinho revelou-se satisfeito. “O Vizela é um projeto internacional com contactos no futebol pelo mundo fora. O objetivo está cumprido, já que queremos internacionalizar a marca Vizela”, afirmou.

A associação de Piqué ao Vizela resulta da entrada da empresa Seca Corporate, sediada em Hong Kong, no capital da SAD do FC Vizela, em abril de 2017, detendo aquela sociedade investidora ligada ao desporto 80 por cento das ações, e passando o capital social da SAD de 200 mil euros para um milhão de euros. A Seca tem uma relação muito próxima com os negócios de Piqué e pediram-lhe este “favor”. “O Piqué mostrou-se muito comprometido e atento à evolução do nosso clube, já que tem uma grande amizade com os donos da Seca”, revelou Diogo Godinho à EFE. O presidente da SAD, nessas declarações, revelava querer “formar um clube que tenha jogadores de numerosas nacionalidades”, e revelou a ambição de daqui a uns anos chegar à Primeira Liga. Para já, o objetivo de regressar à Segunda Liga está bem encaminhado.