A ex-eurodeputada Ana Gomes prestou hoje depoimento, no julgamento do processo Football Leaks, onde defendeu méritos de Rui Pinto no combate à corrupção. E se dentro da sala de audiência a juíza Margarida Alves tentou travar as intenções a antiga eurodeputada, que definiu Luís Filipe Vieira como alvo, já fora do tribunal, a diplomata não foi meiga. 

Após o depoimento, Ana Gomes falou aos jornalistas no exterior do tribunal para estender as críticas que fez em relação a Vieira ao presidente do antigo BES, Ricardo Salgado. 

“Vieira foi uma barriga de aluguer, funcionou como ‘testa de ferro’ de um banqueiro, que, estranhamente, não foi incomodado e continua a viajar com a riqueza que acumulou, enquanto há portugueses lesados pelo banco que ele chefiava. Ver uma pessoa que admite que não tinha dinheiro e que ganhava dinheiro com o banco que não era dele”, salientou Ana Gomes. 

A antiga eurodeputada reagia, com estas palavras, às declarações do presidente do Benfica na comissão de inquérito ao Novo Banco, pelas ligações aos negócios com o BES sob a presidência de Ricardo Salgado. 

Antes de falar aos jornalistas, Ana Gomes, testemunha de defesa de Rui Pinto na 41.ª sessão do julgamento do processo Football Leaks, que decorre no Tribunal Central Criminal de Lisboa, sublinhou não saber “nada” de futebol, mas realçou as “implicações perversas na administração dos recursos do país” por parte desta indústria. Ana Gomes atacou a audição do líder do clube encarnado, na segunda-feira, na Assembleia da República. 

“Quando se vê Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, numa comissão de inquérito na Assembleia da República, a tentar justificar os negócios com Ricardo Salgado, como barriga de aluguer”, afirmou Ana Gomes, sem terminar a frase, por ter sido interrompida pela presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves.  

A magistrada lembrou que Ana Gomes não deveria particularizar, nem se desviar do essencial: o seu testemunho sobre a conduta de Rui Pinto. Mas a antiga candidata à Presidência da República insistiu.  

“Só estou a dizer aquilo que vi na televisão. É óbvio que há uma ligação, e isso passa-se com o maior clube português, mas também se passa com os outros clubes maiores e mais pequenos. Assim se explica que os clubes pequenos em Portugal sejam comprados por magnatas. São esquemas de lavagem de dinheiro”, acusou.  

Luís Filipe Vieira foi ouvido há dois dias como presidente da Promovalor, enquanto um dos maiores devedores do Novo Banco, na comissão parlamentar de inquérito, na qual defendeu ter sido chamado a prestar declarações por ser também presidente do Benfica, algo que os deputados refutaram.