Uma década depois os avenses estão de volta à Liga, obra maior de um projeto que engloba um centro de estágio de luxo
É o Aves que dá cor, é o Aves que faz bater mais forte o coração dos pouco mais de oito mil habitantes da pequena vila minhota, situada a 14 quilómetros de Guimarães. Há 10 anos que o Desportivo não chegava ao escalão maior do futebol português, pelo que o empate a dois golos registado a 30 de abril na Madeira, diante do União, soube a ouro, justificando a festa, a comunhão da localidade em torno do ideal maior, ao som do lema “You will never fly alone” (Nunca voarás sozinho). Pela quarta vez na história o Desportivo das Aves mora entre os grandes e a vila vive uma espécie de conto de fadas.
Contrariamente ao que sucede noutras paragens a presidência bicéfala não é problema no Desportivo das Aves. Mas não foi fácil o processo que levou à constituição da sociedade anónima desportiva. A formação da SAD surgiu como uma necessidade fruto da enorme crise financeira em que o clube estava mergulhado há sensivelmente dois anos. Uma crise que colocou em risco a participação dos avenses nas competições de mais alto nível.
Europa como sonho
O presidente do clube, Armando Silva, justificou na altura esta opção com as “dificuldades crescentes” de angariar receitas e as “muitas dificuldades” que a direção por si liderada vinha sentido para gerir o clube, admitindo ser “a solução para o CD Aves poder continuar nos campeonatos profissionais.”
Foi neste contexto que surgiu Luiz Carlos de Andrade, atual presidente da SAD. A 14 de julho de 2015, o clube anunciava o gestor da empresa Galaxy, como líder da sociedade anónima desportiva. A empresa adquiriu 70 por cento do capital social da SAD pelo valor de 750 mil euros, com o clube a ficar com a restante percentagem, por decisão dos associados.
O projeto de subida em duas épocas foi coroado de sucesso e o responsável máximo do futebol avense fala de objetivos mais ambiciosos. “No primeiro ano a prioridade máxima era dar estabilidade ao clube. Criámos todas as condições para a sustentação do futuro”, afirmou, em declarações ao site do clube, admitindo a candidatura a um lugar europeu. “Temos condições e estruturas, para preparar uma equipa capaz de chegar a uma liga europeia.”
Consumada a subida com José Mota, que substituiu Ivo Vieira no comando técnico no decorrer da época, os responsáveis do CD Aves não perderam tempo. Definiram prioridades e avançaram para a contratação de Ricardo Soares, que deixou o GD Chaves para rumar ao novo projeto avense.
Oito contratações garantidas
Sem dar nas vistas, o Desportivo das Aves é o clube que tem estado mais ativo neste mercado de transferências. Até ao momento, os minhotos já garantiram oito caras novas. Adriano Facchini, ex-Nacional, Braga, ex-GD Chaves, Diego Gallo e Nildo Petrolina, ambos ex-Moreirense, foram os primeiros a chegar ainda o mês de maio não havia terminado. Seguiu-se o médio ofensivo brasileiro, Valdeir Souza, ex-Salgueiro.
Ricardo Soares apostou ainda no regresso de Gonçalo Santos, que já havia representado os minhotos na temporada 2010/11, emprestado pela Académica, bem como na aquisição dos avançados Federico Falcone e Youssouf Sow. O primeiro é argentino e chega da Malásia; o segundo é oriundo da Guiné-Conacri e vem do Louletano.
Pelo meio, o clube minhoto renovou contratos com Guedes, Marco Pinto, Xandão e… Quim.
Em busca de um recorde muito especial
O veterano guarda-redes é um dos símbolos maiores da subida do Desportivo das Aves e está prestes a fazer história no futebol português. Quando no dia 13 de novembro completar 42 anos, o antigo dono da baliza do Benfica tornar-se-á no jogador com carreira mais longa no futebol português.
“Nunca pensei nisso como um objetivo a atingir. Aconteceu ser assim. Só há pouco tempo me disseram que tal poderia vir a suceder. Sendo, então, possível vejo isso como motivo de orgulho”, referiu recentemente Quim, figura de proa de um onze que ficou na história, composto, além do guarda-redes, por João Amorim, Tiago Valente, Xandão e Ribeiro; Bruno Alves, Ericson e Tarcísio; Caetano, Balogun e Guedes.
A importância da igreja
Futebol e religião estão intimamente ligados em Vila das Aves, que tem uma comunidade profundamente religiosa. Em 2005, a vila comemorou as bodas de ouro, o clube festejou as bodas de diamante e o pároco local recebeu uma salva de prata pelos 25 anos de pontificado. Nesse dia, o padre deixou uma espécie de profecia: “Quem sabe se esta salva de prata não significa a subida…” A verdade é que a profecia já foi cumprida por duas vezes.
De resto, o terreno do estádio foi cedido pela Igreja, bem como o terreno do pavilhão e uma boa parte da zona desportiva.
Centro de estágio de luxo
Dentro de alguns meses, em princípio em fevereiro, o CD Aves terá concluído um centro de estágio de luxo, que visa atrair equipas estrangeiras de topo e promover a formação de novos talentos. A primeira pedra do projeto, avaliado em três milhões de euros, foi lançada a 18 de setembro, numa cerimónia que contou com a presença de Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Neste sentido, os avenses estabeleceram uma parceria com a Federação Chinesa de Futebol.
O centro de estágio contempla um total de 50 quartos, com capacidade para 80 pessoas, bem como seis balneários. Tem ainda salas de apoio médico, salas de convívio, um ginásio, escritórios, um refeitório e salas destinadas a conferências. O investimento é suportado pela Galaxy, que detém 90 por cento das ações da SAD.
“Estabelecemos um protocolo com a Federação Chinesa de Futebol e, todos os anos, vamos ter duas equipas chinesas no nosso centro de estágio”, explicou Luiz de Andrade no lançamento do projeto. “Trata-se de um complexo muito importante para a Vila das Aves e penso que é um dos maiores investimentos feitos em Portugal por uma pequena equipa de futebol”, sublinhou o presidente da SAD avense.
Palmarés
Competição | Presenças | Melhor Classificação |
---|---|---|
I Liga/I Divisão | 3 | 13º lugar (1985/1986) |
II Liga/Divisão de Honra | 24 | 2º lugar (2005/2006) |
II Divisão B | 15 | 1.º lugar (1984/85) |
III Divisão | 20 | 2.º lugar (1977/78) |
Taça de Portugal | 47 | 1/4 final (1993/94) |