Prolongamento
Tozé Marreco: a história de uma vida futebolística de malas às costas
2018-01-04 17:00:00
Tozé Marreco é o português a jogar nos escalões profissionais que mais clubes representou na carreira: 15, até agora.

Uma vida numa autêntica montanha russa, vivida de malas às costas. Quem está atento ao panorama dos recordes mundiais viu Sebastián “El Loco” Abreu tornar-se recentemente no futebolista que jogou em mais clubes na carreira, 26 no caso do uruguaio. No nosso Portugal, também temos um “Loco” Abreu, não tanto no nome, claro está, mas sim pelo números de equipas pelas quais já passou. Falamos de Tozé Marreco, jogador da Académica, que se encontra a representar o 15.º emblema em toda a carreira. O avançado de 30 anos é o português atualmente nos escalões profissionais que mais clubes conheceu.

FC Pampilhosa, Zwolle, Alavés, Lokomotiv Mezdra, Servette, Aves, União da Madeira, Naval, Beira-Mar, Olhanense, CD Tondela, Mouscron, GD Chaves, FC Famalicão e Académica. Sim, estão aqui enumeradas todas as equipas cuja camisola Tozé Marreco já vestiu. Desde 2006, foram vários os destinos do atacante, numa autêntica travessia por Portugal e também pelo mundo fora, que tem benefícios, mas, igualmente, outros tantos prejuízos. Quem o salientou foi o próprio Tozé Marreco, em conversa com o Bancada.

Primeiro, as dificuldades em termos futebolísticos. “A adaptação a um grupo novo, porque são sempre personalidades novas, treinadores novos… todos os clubes têm formas de funcionar diferentes”, começou por referir o jogador de 30 anos. Ao nível pessoal, as complicações não ficam atrás. “As dificuldades de escolher um sítio para viver, de adaptação à sociedade, no meu caso, de adaptar-me a vários países diferentes, também em termos de clima.” Ainda assim, Tozé Marreco reconheceu que a experiência que tem numa vida de mudanças faz com que já não seja um desafio tão grande. “Eu já encaro isso de uma forma perfeitamente natural, pois estou habituado a fazer mudanças, preparar as casas e andar sempre basicamente com as malas às costas, então já não me faz confusão.”

“Em alguns clubes tens que desenrascar-te sozinho”

Norte, Sul, Centro e ilhas. Tozé Marreco já passou por várias zonas deste nosso país e também já conheceu os destinos da Bulgária, Suíça, Espanha, Holanda e Bélgica. Ora, entre a mudança para um clube português ou para um estrangeiro, qual o panorama mais complicado? O avançado não tem dúvidas. “No estrangeiro é sempre um bocado mais complicado, é sempre mais difícil de gerir, principalmente por causa da distância para a cidade natal. Eu tenho alguma facilidade em adaptar-me aos sítios, devido a este hábito que fui criando, mas lá fora há sempre a questão de se perceber quais os melhores sítios para viver, com melhores condições, porque não se conhece as cidades. Se me perguntassem quais os melhores sítios para viver em Coimbra eu sabia responder. Agora, lá fora teria que pesquisar… e há que clubes que têm essa situação mais preparada, mas depois tens outros nos quais tens que desenrascar-te sozinho.”

Crédito: Tozé Marreco Facebook.

Tozé Marreco recordou ainda os momentos em que foi jogar para fora de Portugal, com os primeiros tempos a serem dos mais dolorosos que já viveu. “Lembro-me que sempre que ia para fora as primeiras semanas eram muito dolorosas, chorava e sofria imenso, porque deixava tudo para trás e são sempre mudanças muito duras. Mas, depois adaptas-te. Ganhas a rotina, começas a ter os horários mais definidos, a vida mais organizada e acabas por adaptar-te”, considerou.

“É uma carreira mediana, mas feita à custa do meu trabalho”

Qual a justificação para um futebolista passar por 15 clubes na carreira? É preferível uma vida no desporto rei dedicada inteiramente a uma equipa? Aliás, é tal feito possível nos dias que correm? Ora, no caso de Tozé Marreco a vida de malas às costas resultou de um misto de situações, uma boas… outras, nem tanto.

“Sempre que as coisas não me correram bem, tive que dar um passo atrás e os exemplos disso são as minhas passagens por Olhão e pelo Beira-Mar, nos quais joguei pouco… Mas, também tive outras épocas em que as coisas me correram muito bem e achei que era um ciclo que terminava e deveria dar outro passo”, salientou o avançado, antes de reconhecer um ‘problema’ que não o é assim tanto quando descrito pormenorizadamente. “Também tenho um ‘problema’ que é quando não me sinto bem num certo sítio não chateio ninguém, pego na minha mala e vou à minha vida. Tomei más opções, como é lógico, mas sempre me decidi pela minha cabeça e sem ajudas extra.” Quanto àquilo que tem atingido até agora, Tozé Marreco mostrou-se orgulhoso. “É uma carreira, como costumo dizer, mediana, mas foi feita à custa do meu trabalho.”

Crédito: Estela Silva / Lusa.

15 clubes com apenas 30 anos e, ao que tudo indica, mais algumas épocas pela frente na carreira fazem com que seja tempo de permanecer num clube, neste caso a Académica, de vez? As vicissitudes do futebol não permitem saber o futuro, nas palavras de Tozé Marreco. “No futebol não vale a pena fazer grandes planos. Estou muito focado em ajudar a Académica, é a minha cidade e não é um clube igual aos outros para mim. É o meu clube. Sou um dos capitães de equipa, tenho noção clara da minha responsabilidade e da minha influência. Neste momento, só estou focado em que a Académica atinja os seus objetivos na época. Mas, o futebol muda demasiado depressa para fazermos planos…”

Pior momento? Bem longe. Melhor? Pelo menos, três...

Uma carreira que já conheceu tantas experiências merece que lhe sejam apontados o pior e o melhor momento. Assim o fez Tozé Marreco, questionado pelo Bancada. Primeiro, começamos por aquilo de pior que o avançado já experienciou no desporto rei. Tozé Marreco destacou a passagem pelo Lokomotiv Mezdra, na Bulgária, em 2008/09, como merecedor desse mesmo desígnio. “Foi um momento que não deveria ter acontecido… por tudo, pelo futebol, pelo país em si, pela distância, foi tudo muito difícil. Na parte financeira até pode ter sido bom, mas não compensou tudo o que teve de mau em termos desportivos”, vincou.

Crédito: Tozé Marreco Facebook.

Mas, como o melhor é mesmo sorrir, são três os momentos que Tozé Marreco definiu como o melhor que lhe aconteceu em toda a carreira: uma chamada jovem à equipa das quinas, um golo que perdurará para sempre na memória e um campeonato que valeu uma subida ao principal escalão. “A chamada à seleção de Sub-21 com o Rui Caçador. Mas, tenho também outra recordação que foi um golo que marquei na Taça da Holanda contra o Feyenoord. Os meus dois irmãos e a minha mãe foram ver o jogo e a única forma de lá chegarem foi de carro, ou seja, fizeram 24 horas a conduzir desde Portugal até Roterdão para ver a partida. Estavam nas bancadas apenas para ver o jogo e eu fiz um golo. E também destacou ainda o facto de ter sido campeão no CD Tondela [vencedor da Segunda Liga em 2014/15].”

Já sabemos o pior momento da carreira de Tozé Marreco, os melhores, mas ainda falta perceber o que o jogador de 30 anos pretende ainda atingir na carreira… e o próprio avançado fez questão de o referir ao Bancada. Um objetivo que tem no futuro a curto prazo a primordial meta traçada. “Neste momento, a única meta que eu traço é de ajudar a colocar a Académica no sítio onde merece estar, que é na Primeira Liga. Vou sempre querer ser feliz a jogar futebol, num clube onde me sinta bem.” Eis palavras de alguém que passou a carreira de malas às costas, desde 2006, numa vida que futebolística que não tem conhecido sossego, mas que tem sido passada com um sorriso dentro de campo.

O percurso

2017/18 - Académica

2016/17 - FC Famalicão (empréstimo)

2016/17 - Académica

2015/16 - GD Chaves (empréstimo)

2015/16 - Mouscron

2014/15 - CD Tondela

2013/14 - Olhanense (empréstimo)

2013/14 - CD Tondela

2012/13 - Beira-Mar

2012/13 - Naval

2011/12 - União da Madeira

2010/11 - CD Aves (empréstimo)

2009/10 - Servette

2008/09 - Lokomotiv Mezdra

2008/09 - Alavés

2007/08 - Zwolle

2006/07 - FC Pampilhosa