Prolongamento
Ronaldo vs Buffon ou melhor ataque contra melhor defesa
2017-06-02 16:50:00
Real Madrid e Juventus vão discutir em Cardiff o título europeu numa final que promete ser marcada por muito equilíbrio

De um lado uma máquina goleadora, assente na qualidade individual de um ataque explosivo, com Cristiano Ronaldo à cabeça, e que procura defender o título de "dono" da Europa. Do outro, a capacidade e entrega tática, baseadas num rigoroso sistema defensivo, liderado por Gianluigi Buffon, mas, cada vez mais, astuto a atacar toda a dimensão do campo em busca da glória final.

Real Madrid e Juventus são os finalistas da edição de 2016/17 da Liga dos Campeões e poderão oferecer aos adeptos uma das finais mais prometedoras da prova nos últimos anos. O palco será em Cardiff e o “tira-teimas” acontecerá este sábado, dia 3 de junho. Uma partida que irá centrar-se no já amplamente mediatizado, sobretudo pela imprensa internacional, duelo entre Ronaldo e Buffon, e que poderá ser um motivo extra de interesse devido à corrida à Bola e Ouro deste ano. No entanto, mais do que isso, a final colocará frente-a-frente o melhor ataque e a melhor defesa da competição.

Embora do lado do Real esteja todo o seu poder ofensivo, capaz de decidir qualquer partida num espaço de segundos, e a experiência adquirida ao longo das décadas, numa prova onde já soma onze títulos, poucos são os que se atrevem a atribuir favoritismo a qualquer uma das partes – até nas casas de apostas é notório o equilíbrio, embora a balança penda ligeiramente para o lado merengue. Algo que diz bem da competência demonstrada pela Juve nos últimos meses, afirmando-se como um dos conjuntos mais completos e letais das épocas recentes.

A final da Liga dos Campeões irá oferecer-nos, assim, um verdadeiro equilíbrio de forças, que poderá resultar numa intensa “batalha” tática, onde a formação italiana terá maior vantagem, ou, por outro lado, num jogo aberto e espetacular, onde, certamente, os craques da turma espanhola levarão a melhor. Ronaldo, autor de dez golos nesta edição da prova, será escudado por Benzema, Bale, Modric, Kroos, Sergio Ramos e Marcelo. Mas, do lado contrário, Buffon, Dybala, Higuaín, Pjanic, Khedira, Bonucci ou Alex Sandro também têm bagagem suficiente para definir um encontro.

Estatística coletiva equilibrada

Numa altura em que ainda faltam cerca de 24 horas para o tão aguardado jogo, vale de pouco antecipar cenários ou perspetivar vencedores antecipados. Resta-nos analisar os números. Recorrendo à estatística oficial da fase final da Champions é possível retirar algumas conclusões sobre os dois conjuntos, que dominam esses dados em (meios) campos opostos, assim como a nível das individualidades.

Tanto Real Madrid como Juventus chegaram a esta fase da prova com mérito e muita sobranceria frente aos rivais com que se cruzaram, como mostram os números. Após 12 jogos efetuados, a “vecchia signora” leva nove triunfos, sendo a equipa com mais vitórias.

Apenas FC Barcelona, Sevilha FC e Olympique Lyon conseguiram empatar a turma de Massimo Allegri, que prossegue invicta. Mas os “blancos” surgem logo atrás, com oito triunfos, os mesmos do rival Atlético Madrid, a única equipa que conseguiu bater o Real – aconteceu na segunda mão das meias-finais, embora não evitasse a eliminação.

Foto: Juventus Facebook

No que diz respeito aos golos marcados, a equipa da capital espanhola domina as estatísticas, tendo apontado 32 tentos em 12 jogos. Mais onze que o conjunto que irá enfrentar em Cardiff. Os 21 golos da Juventus colocam a turma de Turim como o quinto melhor ataque da prova, sendo ainda superada por AS Mónaco (22), FC Barcelona (26), Bayern Munique (27) e Borussia Dortmund (28).

Apesar de ter o melhor ataque, o Real é superado por Dortmund (2,8) e Bayern (2,7) no que diz respeito à média de golos por jogo, uma vez que as equipas germânicas ficaram-se pelos quartos-de-final e só fizeram dez jogos na fase final. Os 2,67 golos por jogo dos merengues estão bem acima dos 1,75 da Juve, que deixa a campeã italiana no nono lugar desta lista.

No entanto, em termos de registo defensivo, o domínio é claramente da Juventus. Só o FC Copenhaga sofreu menos golos: 2. Mas o conjunto dinamarquês caiu na fase de grupos, pelo que disputou apenas seis encontros. O Ol. Lyon, que também disse adeus à prova na fase de grupos, sofreu os mesmos três que os “bianconeri”. Um registo bem acima da segunda melhor equipa das que passaram aos quartos-de-final da competição e que fizeram, pelo menos, dez jogos. O At. Madrid, com nove golos encaixados em 12 encontros, é a equipa que se segue.

Por sua vez, o Real Madrid já concedeu 17 golos em 12 jogos, algo que faz da defesa merengue a terceira mais batida de toda a competição, sendo apenas superada pelos 20 golos sofridos pelo AS Mónaco, de Leonardo Jardim, e pelos 24 dos polacos do Legia Varsóvia, que esteve no mesmo grupo dos pupilos de Zidane.

Em termos de média de golos sofridos, o cenário melhora para o lado madrileno, surgindo no 14.º posto da tabela, com 1,42 golos sofridos. Neste campo a liderança é inequívoca por parte da Juventus, com apenas 0,25 golos sofridos por jogo - um quarto de golo, imagine-se…

Este poderio ofensivo merengue e eficácia defensiva “bianconera” vão resultar no facto de estas serem as equipas que lideram o registo do diferencial de golos. E embora se possa pensar que é o Real a sobrepor-se, a vantagem está do lado da Juve, com um saldo positivo de 18 golos entre os marcados e sofridos, contra 15 dos rivais espanhóis. Caso para dizer que o melhor ataque pode mesmo ser a defesa.

Último terço decisivo

É dentro da área que o Real se mostra mais letal nesta edição da Champions. Dos 32 golos marcados, apenas seis aconteceram fora da grande área. Os outros 24 foram dentro – corresponde a 75 por cento do total - e nenhum de grande penalidade, mas com dois autogolos. A Juventus marcou os mesmos seis golos de fora da área, sendo que apenas 15 foram dentro da área – 71 por cento - e três deles de penálti.

O ponto em que as equipas se diferenciam é na forma como os golos são marcados. Os merengues mostram especial vantagem no jogo aéreo ofensivo, tendo marcado sete tentos de cabeça – nenhuma equipa marcou tantos desta forma; mas dos três golos concedidos pelos italianos só um foi desta forma -, contra apenas dois da “vecchia signora”. Do total de golos 17 foram ainda marcados de pé direito e apenas seis de pé esquerdo.

Algo que está mais distribuído do lado contrário, com dez de pé direito e nove de pé esquerdo. Só o Barcelona (nove) tem mais tentos apontados com o pé esquerdo e não é preciso puxar muito pela cabeça para perceber que a razão disso acontecer é um nome de cinco letras e começado por M…

Em termos de eficácia rematadora, o Real dá mais uma prova do caudal ofensivo que incute nas partidas. É, de longe, a equipa mais rematadora da prova, com 226 remates, o que corresponde a 18,83 remates por jogo, aquela que também é a melhor média da competição. Desses remates, 89 levaram a direção da baliza adversária, 84 foram para fora e 53 foram intercetados.

Os merengues são líderes em todos estes campos e também no número de bolas que acertaram nos ferros: seis. Já a Juventus surge como a terceira equipa, com o Bayern pelo meio, com mais remates, com 169, o que dá uma média de 14,08 remates por jogo – a sexta melhor média. Do total de remates, 61 foram à baliza, 69 para fora, 39 intercetados e três aos postes.

Analisando a percentagem de acerto dos remates, chegamos à conclusão de que o Real precisa de 7,06 remates para marcar na Champions, sendo que apenas 39 por cento dos remates efetuados vão na direção da baliza oposta. Neste último ponto a Juventus é menos eficaz, precisando de 8,05 remates para marcar e tendo um acerto de 36 por cento dos remates que fez. Ainda assim, é mais um dos pontos em que existe grande equilíbrio entre os dois conjuntos.

Transição mais importante que a posse

Mais do que ter a posse de bola, Real e Juventus preferem usá-la bem. Tantos os espanhóis como os italianos são bastante perigosos nas transições ofensivas, quer sejam elas rápidas ou mais trabalhadas. Dessa forma, é fácil perceber que ambos os conjuntos não estejam entre os dominadores do capítulo da posse de bola. São equipas que se sentem bem quando são obrigadas a jogar sem ela – mais a Juventus, neste parâmetro. Podem não ter a bola tempo em demasia na sua posse, mas quando a têm são precisas a fazê-la avançar no terreno. Daí estarem entre as equipas que lideram a percentagem de certo de passe.

 

Foto: Real Madrid Facebook

O Real fez até ao momento 7151 tentativas de passe, tendo efetuado 6347, o que corresponde a um acerto de 89 por cento. Melhor só o Bayern Munique, que, mesmo tendo ficado pelos quartos-de-final, realizou 7209 tentativas de passe, efetuando 6568 com sucesso, o que resulta num acerto de 91 por cento – neste último ponto também o Paris Saint-Germain se encontra acima, com um acerto de 90 por cento. Já a Juve é a terceira equipa com mais tentativas de passe, com 6694, tendo efetuado com sucesso 5893 passes, o que resultada num sucesso de 88 por cento – ao nível de Dortmund, SSC Nápoles, Manchester City e Lyon e a apenas um por cento de Barcelona.

A verdade é que este acerto a nível de passe não resulta em muita posse de bola, como já tínhamos avançado. O Real Madrid tem a bola em seu poder 34 minutos em média por jogo, o que resulta numa percentagem de apenas 53 por cento, bem longe dos 63 por cento de Bayern e com outras seis equipas à frente: Barcelona (62 por cento), Dortmund (60), Tottenham (61), Sevilha (58), Manchester City (56) e PSG (54).

Com a mesma percentagem surge o Dínamo Kiev e a… Juventus. Dados que não nos permitem antecipar qual das duas equipas vai querer ter o controlo do jogo, mas que nos deixa a garantia que quando tiverem a bola saberão bem o que fazer com ela.

Cantos e cruzamentos podem fazer a diferença

Se há um campo em que o Real Madrid pode levar vantagem sobre a Juventus é nas bolas paradas, mais concretamente nos cantos. Os madrilenos são a equipa que já dispôs de mais cantos nesta edição da prova, com 78 a favor, o que resulta numa média de 6,5 cantos ganhos por jogo – sexta melhor média, ainda longe dos 8,25 do Nápoles. Por seu turno, a Juventus dispôs de menos 20 cantos, apenas 58, o que resulta numa média de 4,83 por jogo – a 16.ª melhor.

Por outro lado, em termos defensivos, a Juve é a segunda equipa que tem mais cantos contra, com 62, superados apenas pelos 70 defendidos pelo AS Mónaco, o que resulta numa média de 5,17 cantos contra por jogo. Já o Real concedeu 58 cantos, sendo a quarta equipa neste parâmetro, o que dá uma média de 4,83 cantos concedidos por jogo.

No que diz respeito aos cruzamentos para a área adversária, os merengues são a equipa com mais tentativas (284) e com mais cruzamentos efetuados com sucesso (81). Os “bianconeri” são a quarta equipa com mais tentativas de cruzamento (239) – Mónaco e Bayern surgem pelo meio - e a terceira com mais efetuados com sucesso (69). Números que mostram uma eficácia de cruzamentos efetuados com sucesso idêntica: 0,285 por parte do conjunto da capital espanhola e 0,289 por parte da turma de Turim. Mais uma vez o equilíbrio presente…

De apito em apito?

Olhando para os números do capítulo disciplinar podemos antever uma final com algum teor faltoso. Em campo vai estar a equipa mais faltosa da competição, a Juventus, e também as duas mais castigadas com faltas. A Juventus já cometeu 167 faltas em 12 jogos, bem mais que as 112 cometidas pelo Real Madrid. No entanto, a turma de Allegri já viu os seus jogadores sofrerem 166 faltas. Mais só a turma de Zidane, com 169 faltas sofridas. 

Em termos de média, a Juventus comete 13,92 faltas por jogo, contra apenas 9,33 do Real. Ainda assim, o conjunto italiano está longe de ter a melhor média, uma vez que os suíços do FC Basileia fizeram 109 faltas em apenas seis encontros, o que resulta em 18,17 faltas por jogo. Já em termos de faltas sofridas, os merengues sofrem 14,08 faltas por jogo, contra 13,83 por parte da “vecchia signora” – bem acima desses valores estão os búlgaros do Ludogorets, com 111 faltas sofridas em apenas seis jogos, o que perfaz uma média de 18,5 faltas sofridas por jogo.

Já em relação aos cartões a Juventus já viu 26 amarelos, sendo a terceira equipa da lista. Por sua vez, o Real Madrid viu apenas o amarelo em apenas 15 ocasiões. Os merengues não viram qualquer vermelho nos 12 jogos já disputados, enquanto a Juventus já teve um jogador expulso, ainda na fase de grupos.

Destaque individuais

Cristiano Ronaldo é a grande figura do Real Madrid e é, por isso, natural que seja um dos grandes dominadores das estatísticas individuais da Liga dos Campeões desta época. Toni Kroos é outros dos merengues em destaque, enquanto do lado contrário se evidenciam nomes como Higuaín ou Daniel Alves.

Mas em que pontos em concreto? Por exemplo, CR7 é o único jogador totalista da prova. Leva 1100 minutos de jogo, onde está incluído o prolongamento frente ao Bayern Munique. Do lado da Juventus o jogador mais utilizado é Buffon, com 990 minutos, o que corresponde a onze jogos completos – falhou, por opção, a última jornada da fase de grupos frente ao Dínamo Zagreb.

Ronaldo volta a ser o melhor merengue no que diz respeito a distância percorrida, tendo feito 114,6 quilómetros no tempo em que esteve em campo – é o quinto melhor registo, bem longe do líder Koke, que percorreu 142,3 quilómetros. Já depois de Kroos (113) surge o “bianconero” com mais quilómetros: Pjanic fez 106,8, nos 837 minutos em que foi utilizado por Allegri na fase final da competição.

CR7 sempre com a mira na baliza

Em termos de golos e assistências, o craque português também surge na frente, mas sendo vice-líder em ambas. Ronaldo já marcou 10 golos em 12 jogos e está a apenas um tento de igualar Messi na tabela dos melhores marcadores da prova – o argentino fez onze golos em nove jogos efetuados. CR7 fez ainda seis assistências para golo, estando somente duas atrás de Neymar, também do Barcelona.

Higuaín, com cinco golos marcados, e Dani Alves, com três assistências realizadas, são os melhores do lado da Juve. Ao todo já dozes jogadores merengues festejaram nesta edição da Champions, sendo que do lado contrário foram onze a fazê-lo. Embora, à primeira vista, possa parecer que o Real Madrid esteja mais dependente de um jogador – falamos de Ronaldo, especialmente -, a verdade é que estes dados mostram que os coletivos dispõem de muitas soluções para decidir encontros.

Os números mostram ainda que ninguém remata tanto como Ronaldo: acertou por 25 vezes na baliza, tendo atirado 24 bolas ao lado, três aos postes e visto 17 remates serem intercetados. Os senhores que se seguem são Benzema, companheiro de ataque de Ronaldo, com 17 remates à baliza, os mesmos de Higuaín - tem mais remates para fora -, que agora brilha em Turim, depois de já o ter feito em Madrid.

Kroos, o relógio suíço

Mas no que diz respeito ao capítulo do passe, é Toni Kroos que mais se evidencia, com 94 por cento de acerto - dos 810 passes tentados efetuou 764 com sucesso, sendo o quarto jogador com mais passes tentados e o segundo jogador com mais passes efetuados com sucesso, superado apenas pelo “colchonero” Koke. O melhor da Juventus neste parâmetro é Dani Alves, com 596 passes efetuados em 670 tentativas, o que resulta em 89 por cento de acerto.

Kroos volta a ser o merengue com mais destaque no que diz respeito aos cruzamentos. É o quinto jogador com mais cruzamentos tentados na prova, com 59 – longe dos 73 cruzamentos feitos por Ludwig Augustinsson (FC Copenhaga), apenas seis jogos -, tendo conseguido efetuar 25 com sucesso. Só Dani Alves conseguiu efetuar tantos cruzamentos com sucesso, sendo que dispôs de menos tentativas: 52. Algo que denota mais eficácia, mas também muita qualidade técnica e visão de jogo do brasileiro, que, sensivelmente, a cada dois cruzamentos realizados consegue colocar um com sucesso num companheiro de equipa.

Foto: Juventus Facebook

No capítulo das faltas, Dani Alves volta a estar em destaque, tendo cometido 20 faltas e estando a apenas uma da liderança dividida entre Fejsa (Benfica) e Vidal (Bayern Munique). Casemiro, com 16 faltas cometidas, é o merengue mais acima nesta lista. Mas também é o brasileiro que mais faltas sofre, tendo as mesmas 25 sofridas que Cristiano Ronaldo. Paulo Dybala, com 28 faltas sofridas, é o mais castigado pelos adversários do lado da Juve, sendo que só Neymar, com 32, o supera.

No que diz respeito aos cartões, o francês Mario Lemina, da Juventus, é o mais indisciplinado, uma vez que viu três cartões amarelos e um vermelho nos quatro jogos que efetuou, sendo titular em apenas dois deles. Sergio Ramos, por sua vez, é o único “blanco” a ter visto três cartões amarelos nesta edição da Champions. Mandzukic, Bonucci e Khedira, do lado da Juventus, também viram três amarelos.

Sem ausências de peso

No fundo, ambas as equipas chegam à final sem jogadores castigados. Facto que representa um alívio para a Juventus, uma vez que na memória ainda está o facto de Pavel Nedved ter falhado a final de 2003, que a Juventus perderia para o AC Milan, meses depois de o checo ter vencido a bola de Bola de Ouro de 2003. Uma suspensão que aconteceu devido amarelo visto na segunda mão das meias-finais frente ao… Real Madrid.

Também na última final disputada pela “vecchia signora”, em 2015 frente ao Barcelona, que viria a conquistar o título, o conjunto italiano sofreu uma baixa de vulto. Chiellini, por lesão, ficou de fora. Embora Bale e Carvajal ainda procurem a melhor condição física, depois de terem recuperado de lesões complicadas, os dois conjuntos deverão chegar a Cardiff na máxima força.

Reencontros de velhos conhecidos

Nas duas últimas vezes que a Juventus chegou à final da Liga dos Campeões, em 2003 e 2015, eliminou o Real Madrid nas meias-finais. Algo que os merengues querem evitar desta vez. Até porque se recuarmos à antepenúltima final da turma de Turim, vamos até 1998, ano em que Mijatovic decidiu a final… para o Real. Na equipa “bianconera” atuava Zidane, atual técnico dos madrilenos. Teremos assim duas equipas a quererem vingança, mas só uma a poderá fazer.

Haverá ainda mais reencontros em Cardiff. Khedira e Higuaín já atuaram do lado merengue, sendo que o médio alemão ajudou na conquista da décima Liga dos Campeões do clube espanhol, alcançada em 2014, em Lisboa. Em sentido inverso, Morata vai enfrentar a equipa onde brilhou nas duas últimas temporadas, depois de ter deixado o Santiago Bernabéu para regressar esta época. Resumindo, vai estar tudo entre velhos conhecidos.

Dilemas táticos

Se Zidane e Ancelotti não deverão ter grandes dores de cabeça em termos de lesões, o mesmo não se poderá dizer em termos táticos. Numa final tudo vale para surpreender o adversário, pois só interessa ganhar, e não seria de estranhar que algum dos técnicos mudasse o esquema, mesmo estando nós a falar de equipas bem oleadas e rotinadas às táticas que utilizam.

A dúvida maior poderá estar do lado italiano. Esta temporada Allegri abdicou dos três centrais, passando a jogar numa defesa a quatro. Mas quando precisa, como no caso das meiais-finais frente ao AS Mónaco, resgata a antiga tática composta pelo outro BBC (Bonucci, Barzagli e Chiellini) do futebol mundial, este menos mediático que o de Benzema, Bale a Cristiano Ronaldo, sacrificando o colombiano Cuadrado.

Apesar de os três centrais darem mais segurança defensiva e equilíbrio à campeã italiana, o facto de o Real jogar com três homens na frente e apenas um no centro, deverá fazer o técnico transalpino regressar aos dois centrais com que atuou na grande maioria dos jogos desta época. Até porque foi isso que fez quando enfrentou o poderoso trio atacante do Barcelona, nos quartos-de-final da prova. E com sucesso, pois nem Messi, nem Neymar, nem Suárez, nem a restante equipa, conseguiram quebrar a defesa “bianconera”.

Do lado do Real poderá não haver um dilema tão grande, mas talvez possam existir duas dúvidas. Com Isco a responder da melhor forma à ausência de Bale, caso o galês não recupere a melhor forma, o espanhol pode mesmo ser titular. Isso conferiria mais qualidade na posse de bola aos merengues, mas poderia fazer com que a as transições rápidas não saíssem com tanta vertigem e perigo.

Já à direita a utilização de Carvajal não é assegurada. O substituto tem sido o brasileiro Danilo, mas o ex-FC Porto não atravessa o melhor momento. Algo que coloca Nacho na equação. O central pode ser adaptado à direita e sempre que tem sido chamado esta época, tem respondido de forma positiva. Tendo em conta a nunce tática de Juve pela esquerda, onde Manduzkic arrasta a marcação para Alex Sandro furar até à linha de fundo e daí cruzar com perigo, Zidane pode estar a pensar em Nacho como grande surpresa para o onze da final.

Foto: Real Madrid Facebook

Buffon contra Ronaldo

Todo o equilíbrio evidenciado entre ambos os conjuntos e todos os duelos intensos que acontecerão em Cardiff terão numa luta concreta o seu ponto de interesse mais alto: Buffon contra Ronaldo. O veterano guardião italiano, de 39 anos, é já uma lenda das balizas, mas ainda lhe falta uma Liga dos Campeões no currículo. É agora ou nunca para o número um da Juve. Em caso de sucesso irá colocar-se num patamar, talvez, só ao alcance do mítico guardião russo Lev Yashin.

Mas, em cima da mesa, há ainda a possibilidade de Buffon poder concorrer com Cristiano Ronaldo pela conquista da Bola de Ouro deste ano. A imprensa italiana já começou a fazer campanha, até porque, para além de ser campeão europeu, o guardião italiano tem ainda hipótese de fazer o triplete – a Juventus já assegurpu o título e a taça italiana.

Mas o craque português sabe da importância desta final e dará tudo para vencê-la. Se o conseguir, não só ajudará o Real Madrid a tornar-se no primeiro clube a vencer duas Champions seguidas desde 1993, altura em que se entrou na era Liga dos Campeões, como colocará as duas mãos na sua quinta Bola de Ouro, igualando Messi nesse capítulo.

A verdade é que o equilíbrio também se regista nos encontros passados entre os clubes e entre Buffon e Ronaldo. Nos quatro encontros oficiais em que o guardião e o avançado já se cruzaram, todos para a Champions, registaram-se dois empates e uma vitória para cada lado. O gigante italiano nunca conseguiu deixar a baliza a zero, sendo que sofreu seis golos no total. Os mesmos marcados pela Juventus. Mas Cristiano marcou em todos esses encontros, levando já cinco tentos frente a Buffon. Experiência não lhe falta...

A final entre Juventus e Real Madrid promete ser um duelo intenso e pautado pelo equilíbrio, com Buffon e Ronaldo no centro do “furacão”, embora a tarefa do português seja, aparentemente, mais facilitada, uma vez que tem de procurar bater um guarda-redes, enquanto o italiano tem de travar os remates que podem surgir de uma dezena de adversários. Resta saber se será o ataque ou a defesa a imperar e quem irá desfazer este “tira-teimas”, uma vez qua ambas as equipas têm outras estrelas com capacidade para resolver o encontro a qualquer momento. A contagem decrescente para Cardiff já se iniciou!