Os três grandes fazem mais pontos com os árbitros em causa e o FC Porto até é o que regista o maior incremento
Nas últimas quatro épocas, o Benfica fez mais pontos com os oito árbitros acusados por Francisco J. Marques – Jorge Ferreira, Manuel Mota, Nuno Almeida, Vasco Santos, Hugo Pacheco, Rui Silva, Bruno Esteves e Paulo Baptista – do que com os restantes árbitros portugueses. No entanto, isso é verdade para os três grandes, o que poderá ser explicado pelo facto de nenhum dos árbitros em causa ter apitado clássicos, onde há uma maior probabilidade de perda de pontos. Curiosamente, o clube que mais incrementa a sua média de pontos ganhos com estes árbitros até é o FC Porto, precisamente aquele que se queixou.
Assumindo que as arbitragens podem ter influência nos resultados, a análise aqui apresentada foca-se apenas nos pontos obtidos por cada equipa, sem analisar diretamente a prestação dos árbitros e as suas decisões lance a lance. Tal abordagem é feita noutro estudo em que consideramos todas as decisões tomadas por cada árbitro.
O Benfica foi o clube que mais pontos ganhou com este lote de árbitros, mas foi também quem mais ganhou sem eles. Sem eles, somou uma média de 2,37 pontos por jogo e, com eles, de 2,79 pontos por jogo, o que se traduz num incremento de 17,7 por cento.
O FC Porto, por seu lado, regista uma média de 2,53 pontos com os árbitros em causa e de 2,09 sem eles, o que significa uma melhoria de 20,7 por cento com os juízes que acusa de serem controlados pelo Benfica.
Finalmente, a média de pontos registada pelo Sporting sobe de 2,22 para 2,42 quando considerados apenas os jogos com os árbitros “sob suspeita”, o que representa um aumento de 8,9 por cento.
Assim, a análise ao número de pontos conquistados por cada clube parece contrariar a tese do diretor de comunicação do FC Porto, segundo a qual Jorge Ferreira, Manuel Mota, Nuno Almeida, Vasco Santos, Hugo Pacheco, Rui Silva, Bruno Esteves e Paulo Baptista estariam ao serviço do Benfica.
Outro dado curioso é o facto de, na temporada a que os e-mails divulgados dizem respeito, 2013/14, dois dos juízes citados, Hugo Pacheco e Rui Silva, terem sido despromovidos da primeira categoria, tal como sucedeu a Jorge Ferreira na época que agora terminou (2016/17). Além disso, Paulo Baptista “arrumou o apito” após a temporada 2014/15.
Olhemos, então, com maior detalhe, os números de cada clube.
Benfica: Triplo de pontos perdidos noutros jogos
É possível verificar que o Benfica perdeu apenas oito pontos nos 38 jogos dirigidos nas últimas quatro épocas na Liga pelos juízes acusados. Dizemos “apenas”, porque mostra-nos uma percentagem muito elevada de eficácia vitoriosa, sobretudo quando comparada com os rivais. Vamos, então aos números encarnados:
– O Benfica ganhou 106 pontos de 114 possíveis nos 38 jogos disputados com os árbitros em causa, o que representa quase 93% dos pontos possíveis. O Benfica tem, assim, uma média de 2,79 pontos por jogo, nos 38 jogos em causa;
– Nos restantes 94 jogos dirigidos por outros árbitros nas últimas quatro épocas o Benfica perdeu 59 pontos, o que representa quase 21% do total de pontos possíveis – quase o triplo em relação aos jogos aos 7% de pontos perdidos com os oito árbitros. O Benfica conquistou 223 pontos de 282 possíveis, ou seja, 79% dos pontos possíveis. As “águias” fizeram uma média de 2,37 pontos conquistados em 94 jogos dirigidos por outros árbitros, o que mostra uma diferença de quase meio ponto por jogo (0,42) para os jogos com os árbitros acusados.
Analisando melhor a tabela, vemos que Nuno Almeida, que, com onze jogos, foi, de todos os envolvidos, o que mais jogos arbitrou dos encarnados nas últimas quatro épocas, esteve no empate do Benfica no Bessa, no último jogo desta época, e ainda na derrota em Arouca, na temporada passada. O outro jogo que o Benfica não venceu teve a arbitragem de Vasco Santos e aconteceu já nesta temporada, no terreno do Marítimo (2-1).
Depois, se analisarmos as expulsões e os penáltis assinalados pelos oito juízes, apenas o “despromovido” Hugo Pacheco não regista qualquer incidência. Manuel Mota e Nuno Almeida saem “limpos” neste capítulo, uma vez que o juiz da AF Braga assinalou um penálti contra e outro a favor, tendo ainda expulsado dois jogadores do Benfica e um adversário. Já o árbitro da AF Algarve assinalou um penálti a favor e outro contra, não tendo exibido qualquer cartão vermelho.
Por outro lado, Jorge Ferreira e Bruno Esteves têm quatro incidências registadas, entre expulsões e penáltis, sempre a favor dos encarnados. O juiz bracarense marcou um penálti a favor do Benfica e expulsou três jogadores adversários. O juiz da AF Setúbal tem um registo idêntico, tendo apenas os lances ocorridos em épocas distintas. Sobra ainda Paulo Baptista com duas incidências, ambas a favor dos encarnados, tal como Vasco Santos.
FC Porto: melhoria pontual maior que a do Benfica
Em relação aos “dragões”, clube que se queixa neste caso do “Apito Amolgado”, é possível ver uma maior perda de pontos em menor número de jogos efetuados nas últimas quatro temporadas. Contudo, os pontos perdidos nos restantes jogos é ainda maior, o que mostra que em termos percentuais o FC Porto até é mais eficaz com o lote de oito árbitros visados do que com os restantes. Vejamos os números:
– O FC Porto tem 17 pontos perdidos em 36 jogos dirigidos pelos referidos árbitros nas últimas quatro épocas, o que representa quase 16% de pontos perdidos – mais do dobro de Benfica – e 84% conquistados, o que dá uma média de 2,53 pontos ganhos por jogo, menos 0,26 que o Benfica.
– Nos restantes 96 jogos do campeonato dirigidos por outros árbitros nas últimas quatro épocas, o FC Porto perdeu 87 pontos, o que representa 30% de pontos perdidos; a equipa conquistou 201 pontos em 288 possíveis;
– Com os oito árbitros em questão, o FC Porto fez, em média, mais 0,43 pontos por jogo do que com os restantes árbitros. Esta diferença é superior à que o Benfica regista.
Olhando para os números dos árbitros em questão, podemos ver que Vasco Santos foi o único juiz que esteve em mais do que um jogo em que os dragões não saíram vencedores. O árbitro da AF Porto dirigiu um empate em 2015/16 e uma derrota em 2013/14. Todos os outros estiveram num jogo em que o FC Porto não venceu, com exceção de Hugo Pacheco e Rui Silva, despromovidos em 2013/14.
No entanto, em termos de lances de penálti e expulsão, foi Nuno Almeida o mais ativo, tendo assinalado dois penáltis a favor e um contra os azuis e brancos, juntando ainda uma expulsão a favor e outra contra. Há ainda Bruno Esteves que assinalou três penáltis a favor dos dragões e todos na mesma época, em 2014/15.
Sporting: números mais equilibrados
Dos três grandes, o Sporting é o que apresenta números mais equilibrados. Eis os números:
– O Sporting perdeu 22 pontos nos 38 jogos dirigidos pelos oito árbitros em questão nas últimas quatro épocas, o que dá uma percentagem de 21% de pontos perdidos – o triplo do Benfica neste parâmetro; somando apenas 82 dos 114 pontos possíveis nos referidos jogos, apresentando uma eficácia vitoriosa de 79% – a pior entre os três grandes. A média de pontos conquistados nos jogos com os árbitros visados é de 2,16 pontos por jogo, ficando bem abaixo dos rivais.
– Nos restantes 94 jogos, dirigidos por outros árbitros, nas últimas quatro épocas, o Sporting perdeu 73 pontos, o que corresponde a 26%. Em sentido inverso, o Sporting teve uma eficácia vitoriosa de 74%, fruto de 209 pontos conquistados em 282 possíveis, o que dá uma média de 2,22 pontos por jogo;
– A oscilação percentual do Sporting em relação a jogos com os oitos árbitros em causa e com os restantes é a mais baixa entre os grandes, embora seja também favorável: 4,74%.
Analisando caso a caso, vemos que Vasco Santos é o árbitro, entre os visados, com que os leões perderam mais pontos nas últimas épocas: um empate em 2013/14, uma derrota em 2015/16 e uma derrota e um empate em 2016/17. Só outro juiz fez o Sporting perder pontos mais do que uma vez. Paulo Baptista esteve em dois empates da turma lisboeta, um em 2013/14 e outro na temporada seguinte.
Contudo, em termos de lances de penálti ou expulsão, nota-se muitas incidências, sobretudo da parte de Nuno Almeida: cinco penáltis a favor e um contra, nas últimas quatro épocas, uma expulsão a favor e outra contra; Bruno Esteves: três penáltis a favor e dois contra, cinco expulsões a favor e duas contra; e Jorge Ferreira: quatro penáltis a favor e um contra, duas expulsões a favor e uma contra.