Prolongamento
"Que houve uma manipulação parece-me evidente. Julgo ser manobra contabilística"
2021-10-14 16:40:00
"FC Porto já não dá lições a ninguém nesse capítulo, bem pelo contrário", lamenta José Fernando Rio

O antigo candidato à presidência do FC Porto José Fernando Rio desafia Pinto da Costa ou a administrador financeiro da SAD portista a prestarem esclarecimentos adicionais a respeito do relatório e contas na questão da verba relativa a Otávio, jogador que renovou e prolongou o vínculo com os portistas em março passado, sendo que os valores envolvidos foram agora dados a conhecer oficialmente e têm levantado dúvidas.

"Há algo que não é habitual e a SAD do FC Porto vai ter de explicar para que não se levantem dúvidas ou suspeitas. O presidente do FC Porto disse que não renovava com ninguém por seis milhões de euros e agora aparece aqui esta verba na renovação do Otávio. Há aqui alguma coisa que não bate certo. Pinto da Costa e SAD têm de explicar. Julgo, mas é apenas uma interpretação minha, que tem ver com manobras contabilísticas", destaca José Fernando Rio.

"Pode ser uma verba que não está associada a um prémio pago ao Otávio para renovar mas ser a massa salarial ao longo dos quatro anos que dura este novo contrato, mais uma verba para intermediação", refere o ex-candidato à presidência portista.

"Se é assim, há uma manobra dos valores que deviam estar numa categoria mas estão noutra. A ser verdade que o salário do Otávio está nesta verba, e não nos salários, quer dizer que se fosse transportada para os salários a massa salarial do FC Porto anda perto dos 100 milhões de euros".

De qualquer modo, José Fernando Rio diz que é necessária uma explicação. "É preciso que o presidente do FC Porto ou o administrador financeiro da SAD digam o que isto quer dizer. Se não houver uma explicação, cada um é livre de pensar o que quiser. E sabemos como são os comentadores."

Em todo o caso, José Fernando Rio diz que tira uma conclusão sobre o que foi dado a conhecer. "Que houve uma manipulação parece-me evidente".

Em declarações no Portal dos Dragões, José Fernando Rio analisou ainda o relatório e contas do FC Porto, que foi divulgado recentemente, e que teve o melhor resultado de sempre.

"Eu diria que esse seria um resultado fantástico se não fosse estar em cima de 526 milhões de euros de passivo, e que aumentou mais uma vez, se não estivesse em cima de uma divida de 300 milhões de euros, que mais uma vez aumentou em relação ao último exercício, e, atenção, estes 300 milhões de euros representam juros anuais de 22 milhões de euros. É um peso, um fardo enorme sobre a SAD e que tem de ser resolvido com muita urgência".

E José Fernando Rio continua na mesma linha de pensamento enquanto refere que "os 33 milhões de euros seriam ótimos se não estivessem em cima de capitais próprios que são negativos em 118 milhões de euros".

"A SAD continua em situação de falência técnica. A situação melhorou mas continua em falência técnica. A massa salarial aumentou e está em 92 milhões de euros o que, para uma SAD como a do FC Porto, é incomportável a curto, médio e longo prazo".

Além disso, para o antigo candidato à presidência do FC Porto, "estes 33 milhões de euros podiam ser muito positivos se os proveitos operacionais não fossem apenas os 150 milhões atuais."

"Há uma melhoria clara em relação ao último exercício mas esse foi mais afetado pela pandemia. Este também é afetado ainda, claramente, pela pandemia."

Aos adeptos do FC Porto, José Fernando Rio deixa ainda um alerta em relação à análise que faz dos números financeiros revelados pelo clube da Invicta. "Se se comparar com outros clubes nacionais do nível do FC Porto vemos que têm o dobro, nas mesmas circunstâncias, dos proveitos operacionais. Há algo a fazer neste capítulo por parte da SAD".

"É uma vez sem exemplo [estes 33 milhões de euros]. Temos por baixo estes problemas todos. Este relatório e contas demonstra que a vida da SAD depende cada vez mais das receitas da UEFA, do apuramento para a Liga dos Campeões e das mais-valias realizadas com vendas de jogadores."

"Estas vendas foram feitas no mercado do ano passado. São as vendas do Fábio Silva, do Danilo, do Tiquinho Soares, do Alex Telles. E, portanto, já foram no verão do ano passado e não neste que sabemos que correu como correu", acrescentou José Fernando Rio, notando que a SAD portista faz uma gestão de "risco" ao estar tão dependente da venda de jogadores e a entrada na Liga dos Campeões.

"É uma gestão de risco porque qualquer um deles pode falhar. Há duas temporadas o FC Porto falhou o apuramento para a Liga dos Campeões e vimos o prejuízo. Se este é o melhor exercício de sempre o anterior foi o pior. É uma gestão de risco. Pode correr bem a vida toda mas pode correr mal".

Até porque, na visão de José Fernando Rio, o mercado não está para grandes negócios no que a transferências dizem respeito. "O administrador financeiro já colocou a fasquia de que o FC Porto tem de, no mínimo, realizar 50 milhões em mais-valias. Não é fácil vender jogadores, obter grandes verbas. Há dificuldades financeiras".

José Fernando Rio lamenta ainda que, atualmente, o FC Porto não consiga tirar proveito financeiro dos jogadores depois de tirar proveito desportivo como identifica que chegou a existir no passado.

"Hoje, o FC Porto já não dá lições a ninguém nesse capítulo, bem pelo contrário", disse o ex-candidato à presidência do FC Porto em relação aos tempos que identifica na história azul e branca nos quais os dragões tinham proveitos desportivos e financeiros com vendas de jogadores.

"Há problemas de fundo que não mudaram e que é preciso atacar de frente", aconselhou José Fernando Rio, que deixa algumas questões à SAD liderada por Pinto da Costa, depois de apelar a uma maior aposta na formação.

"É com tristeza que volto a perguntar: onde está a academia do FC Porto? Foi prometida uma academia mas também uma cidade desportiva em campanha eleitoral. Não saiu do papel, que se saiba. Nunca mais ouvi falar dessa academia, dessa cidade desportiva. Era urgente que a direção do FC Porto ou a administração da SAD pudessem dar uma palavra".

O antigo candidato à presidência do FC Porto diz ainda que o emblema do Dragão "tem que diminuir os custos" na balança de gastos. "Um tem que ver com a redução da massa salarial. E, por outro lado, [outro] tem que ver com fornecimentos e serviços externos".