Prolongamento
“Plano exposto em 2018 no Football Leaks torna-se realidade", comenta Rui Pinto
2021-04-19 17:45:00
Hacker reage ao anúncio da Superliga europeia com elogios à "intransigência" da UEFA e das federações

O anúncio da criação da Superliga europeia, ontem feito por 12 clubes, com Real Madrid à cabeça, tomou de assalto o mundo do futebol no dia em que a UEFA ia apresentar o novo formato da Liga dos Campeões, tema que assim passou para segundo plano. Mas Rui Pinto, o criador do portal Football Leaks, garantiu que não ficou surpreendido.

Em comunicado, os “clubes fundadores” indicaram que Florentino Perez, o presidente do Real Madrid, vai liderar a Superliga, com John Glazer, o responsável máximo do Manchester United, a ser apontado como vice-presidente. Também aqui, não houve qualquer surpresa para Rui Pinto, que desde 2018 vem a alertar para os perigos de uma competição exclusiva para os clubes mais ricos favorecer os crimes económicos.

“O plano exposto em 2018 no Football Leaks torna-se hoje uma realidade, nos mesmos moldes e com os mesmos intervenientes. É um dia triste para o futebol mundial”, comentou o hacker, através das redes sociais, partilhando uma notícia divulgada por um jornalista da rede noticiosa francesa RMC Sport. Posteriormente, acrescentaria que o fundo de investimento Capital Partners "está por detrás da Superliga, como revelado pelo Football Leaks em 2018".

A publicação de Rui Pinto surgiu horas depois do criador do Football Leaks ter elogiado a posição “intransigente” da UEFA e das federações de Inglaterra, Espanha e Itália, rápidas a reagir a uma notícia avançada pelo The New York Times sobre a iminente oficialização da criação da Superliga europeia.

“Gostei da posição da UEFA e das federações. Devem permanecer intransigentes. O futebol é baseado na competição aberta e no mérito desportivo e não se pode ignorar o que os adeptos do futebol querem”, escreveu Rui Pinto, classificando o modelo de uma Superliga exclusiva para os clubes mais ricos como “americano”.

Foi ao final do dia de ontem que 12 clubes anunciaram a Superliga europeia, horas depois de um artigo de Tariq Panja (o mesmo jornalista que apontou o Benfica como “uma instituição mais poderosa do que qualquer governo” em Portugal e criticou Pinto da Costa por escolher Rui Moreira para o Conselho Superior do FC Porto, entre outros artigos dedicados ao futebol português) no The New York Times revelar que tal anúncio estava iminente. A oficialização da Superliga retirou por completo as atenções da remodelação da Liga dos Campeões, hoje anunciada pela UEFA. A prova aumenta de 32 para 36 equipas, num modelo sem fase de grupos, passando para uma liga única. 

As reações não tardaram. A UEFA condenou a “ganância” dos ‘clubes fundadores’, com o presidente, Aleksander Ceferin, a realçar que “toda a sociedade e os governos estão unidos contra estes planos cínicos”. A FIFA pediu “diálogo calmo, construtivo e equilibrado”, mas avisou de imediato que “desaprova uma liga europeia fechada e dissidente”. Até a Comissão Europeia se pronunciou sobre o assunto, referindo que “não há margem" para um modelo de desporto "reservado aos poucos clubes ricos”.

Em Portugal, as reações também foram de repúdios. Ainda a Superliga não tinha sido oficialmente anunciada e já o presidente da Liga, Pedro Proença, alertava que a mesma “colocaria em causa os alicerces" do futebol. Pinto da Costa garantiu que o FC Porto quer “continuar na Champions por muitos anos”, Frederico Varandas (Sporting) defendeu que a Superliga “vai contra princípios democráticos e de mérito” e o Benfica recuperou palavras do administrador Domingos Soares de Oliveira para salientar que se mantém contra uma Superliga europeia.

Surgiu, ainda assim, uma dúvida, por intermédio de Bruno de Carvalho, presidente destituído do Sporting. Nas redes sociais, o ex-dirigente desafiou os seguidores a “adivinhar qual foi o clube português que andou anos a fazer jogos de bastidores” para entrar na Superliga europeia.