As audições aos grandes devedores do Novo Banco vão arrancar em breve no Parlamento português mas Fernando Negrão, presidente da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, confessa que está a sentir dificuldades para chegar ao contacto com algumas das figuras que quer interrogar em sede parlamentar. Negrão não revela nomes mas deixa no ar o lamento para esta situação, até porque se aproxima a data de arranque das inquirições onde quer ver, entre outros, Luís Filipe Vieira, um dos rostos mais mediáticos, ou Joe Berardo a darem a sua versão sobre a situação desta entidade bancária.
Depois de confirmar que os trabalhos devem arrancar "na última semana de abril", altura em que "começarão a ser ouvidos os grandes devedores do Novo Banco", Fernando Negrão explicou que já chegou ao contacto com algumas dessas figuras que espera interrogar juntamente com a Comissão de Inquérito. Só que nem todos têm respondido à chamada.
"Algumas destas pessoas já foram contactadas e demonstraram total disponibilidade. Já com outros o contacto está a ser difícil", revelou Fernando Negrão, esperando que até começarem as audições estas dificuldades fiquem ultrapassadas. "Contamos que será levado a bom porto", vaticinou o responsável social-democrata Fernando Negrão, em declarações prestadas à agência Lusa.
No dia 8 de abril, recorde-se, o antigo diretor de auditoria interna do Novo Banco revelou no parlamento que o Fundo de Resolução avançou com um pedido de uma autoria específica acerca da exposição do Novo Banco ao construtor José Guilherme via Invesfundo, à semelhança do que já tinha feito com a Promovalor de Luís Filipe Vieira. Relativamente à empresa de Vieira, foi afirmado nessa altura que "desde o início era a opção privilegiada" para perceber os negócios feitos entre a empresa e esta entidade bancária, que foi salva pelos dinheiros dos contribuintes.
Em 15 de setembro de 2020, numa audição na comissão de orçamento e finanças, o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, já tinha referido que havia uma auditoria específica do Fundo de Resolução à reestruturação de créditos em dívida da empresa de Luís Filipe Vieira que, segundo o jornal de Negócios, entre agosto de 2014 e dezembro de 2018, provocou ao Novo Banco perdas de 225,1 milhões de euros com o grupo económico liderado por Luís Filipe Vieira. Uma auditoria feita pela Deloitte, citada pelo Correio da Manhã, em setembro de 2020, revelava que o buraco financeiro resultava de "imparidades e desvalorização de dívida que fora convertida em VMOC, no âmbito da reestruturação feita em 2011; e desvalorização de ativos imobiliários".
Além do atual presidente do Benfica, entre os grandes devedores do Novo Banco, estão a Martifer, o construtor José Guilherme, o empresário José Berardo. Entre os nomes que a comissão de inquérito quer ouvir estão Luís Filipe Vieira, Nuno Gaioso Ribeiro (Promovalor e C2 Capital Partners), Nuno Vasconcellos (Ongoing), João Gama Leão (Prebuild) e Bernardo Moniz da Maia.