Prolongamento
"Os grandes gestores foram no início chamados de loucos", diz Bruno de Carvalho
2021-04-21 13:40:00
Ex-presidente do Sporting recua no tempo para elogiar as “propostas brilhantes” que apresentou

Presidente do Sporting entre março de 2013 e junho de 2018, altura em que foi destituído da liderança, Bruno de Carvalho explicou a importância da gestão desportiva na recuperação financeira do emblema leonino, considerada “um milagre” pelos mesmos que chamavam “louco, demagogo e populista” ao gestor, como realçou o próprio Bruno de Carvalho, licenciado em gestão pelo ISG e mestre em Gestão do Desporto de Organizações Desportivas pela Faculdade de Motricidade Humana e pelo ISEG.

“Comprometemo-nos com objetivos muito rigorosos, a nível de restruturação financeira. E tínhamos de ter a garantia absoluta de que conseguiríamos esse ‘milagre’ - foi assim apelidado por toda a gente – de conseguir demonstrar que a Sporting SAD e o clube poderiam ter lucro e bons resultados desportivos. Todos os comentadores televisivos disseram que eu era um louco, demagogo e populista, porque era impossível consegui-lo. Mas eu percebo, porque todos os grandes gestores foram, no início, chamados de loucos”, comenta o ex-presidente leonino, numa entrevista a um podcast.

Ao nível da gestão, Bruno de Carvalho assumiu ser um “louco”, à imagem de Peter Drucker (1909-2005), um economista e filósofo que é considerado “o guru da gestão” moderna e que, no sem tempo, foi criticado por lançar conceitos que então foram classificados como “disruptivos”, sendo agora um dos autores mais citados no campo das teorias da gestão.

“O Peter Drucker, o pai da gestão moderna, que agora carinhosamente dizem que era irreverente, no início era chamado disruptivo, um exagerado... Agora é irreverente. Mas é o pai da gestão moderna. Quando ele começou a dizer que a gestão teria de se adaptar, também foi apelidado de louco e demagogo. E neste momento é o guru da gestão”, aponta o ex-dirigente do Sporting.

Bruno de Carvalho abordou ainda os ensinamentos que recebeu, já como presidente do Sporting, antes de apresentar propostas para melhoria e modernização do futebol. E assume que não entrou na liderança de um clube com “dogmas de fé”. Refere que tinha as suas “sensações”, mas procurou sempre “dar uma oportunidade ao futebol para demonstrar” que Bruno de Carvalho “estava errado”. Porém, o ex-presidente considera que não estava equivocado. 

“Eu não quis entrar no futebol de pé em riste, sem dar a hipótese de perceber se eu estava certo ou errado, como é que as coisas se movimentavam. E por isso a primeira medida que tomei como presidente do Sporting foi reatar as relações com o Benfica. E toda a gente diz que tenho um ódio descomunal. Mas a primeira coisa que fiz foi reatar. Tínhamos relações com todos os clubes. Não tinha dogmas de fé. Quis intervir de forma positiva no desporto, a nível de gestão e não só”, refere.

Bruno de Carvalho conta também que as suas presenças habituais no banco de suplentes tinham diversos objetivos, entre os quais perceber as movimentações de árbitros assistentes, quartos árbitros, delegados da Liga, “para que serviam, como interagiam com as pessoas”. Com base nessa informação que ia recolhendo, preparou um conjunto de propostos que acabaria por levar às mais altas instâncias do futebol internacional.

“Entrar no negócio e fazer as propostas brilhantes que o Sporting fez durante o meu mandato, quer na FIFA quer na UEFA, na implementação de tecnologia e até nos estatutos da Liga e da Federação, só foi possível porque teve alguém que parou com os dogmas de fé. Vou ver, entender, perceber as dinâmicas e fazer as propostas mais adequadas”, diz.

O ex-presidente do Sporting lembra o acordo assinado com a NOS, por valores recorde, de 515 milhões de euros. E que no dia seguinte falou na centralização dos direitos televisivos. “Fui acusado de ser um homem instável. E sabem o que aí vem? A centralização. Moral da história, eu tinha razão”, complementa, num autoelogio, realçando que as suas decisões e opiniões, como dirigente, foram visionárias.