Prolongamento
“Obter resultados positivos de 33,4 milhões num ano de pandemia é obra”
2021-10-14 10:25:00
As contas do FC Porto escalpelizadas pelo gestor Nuno Encarnação. Com elogios e sinais de alerta

Num artigo de opinião que assina hoje no jornal Record, o gestor e adepto do FC Porto Nuno Encarnação analise em detalhe as contas do clube, que apresentou lucros históricos, no último exercício.

“Obter resultados positivos de 33,4 milhões de euros num ano de pandemia, quando todos os outros grandes clubes apresentaram resultados negativos, é obra”, enquadra Nuno Encarnação. No entanto, o gestor manifesta preocupação pelo facto de esse lucro ter sido conseguido à custa de duas rubricas, apenas: a participação extraordinária na Liga dos Campeões e o encaixe de 74,9 milhões com a transferência de jogadores, neste exercício.

Para Nuno Encarnação, apesar dos números positivos do exercício, o FC Porto continua numa “grave condição financeira”, pelo que a SAD “tem de desenvolver esforços” para não depender da Champions, por exemplo. “Muito dificilmente, no corrente ano, [o FC Porto] repetirá o valor ganho no ano transato na Liga dos Campeões”, escreve.

E Nuno Encarnação faz numa crítica direta a Pinto da Costa, em particular à gestão desportiva, aludindo às palavras do presidente do FC Porto, que se recusou fazer renovações por seis milhões de euros.

“Algo que me deixa ainda mais preocupado, quando ouvi o meu presidente render-se às saídas a custo zero. Esta é uma visão absolutamente errática. Se não há seis milhões (e de facto não há) para renovar com certos craques no último ano de contrato, o FC Porto tem de promover as suas vendas a doi anos do final de contrato”, defende.

Para fazer frente a esta necessidade de evitar os fins de contrato, como irá acontecer com Corona, depois de suceder com Marega, Brahimi, Herrera, Aboubakar, Marcano e Dyego Reyes, jogadores que abandonaram o dragão sem gerarem qualquer retorno financeiro.

Assim, e para combater esse quadro financeiro preocupante e em simultâneo evitar saídas a custo zero, resta ao FC Porto “vender mais jogadores”, em particular aqueles que entram nos últimos anos de contrato. Até porque as necessidades de entrada de capital que Fernando Gomes perspetiva estão, segundo Nuno Encarnação, erradas.

“Fernando Gomes já avisou que precisará de vendas líquidas (valor real a entrar na SAD, expurgando comissões) entre 50 a 80 milhões de euros. Eu diria que precisa de mais”, considera Nuno Encarnação.

Em paralelo, o clube terá necessariamente, segundo o gestor, de reduzir as despesas com o pessoal. “Recordo a vã promessa feita há um ano pelo dr. Fernando Gomes, ao apontar que os custos fixos deveriam descer na ordem dos 15 por cento. O FC Porto apresenta nesta rubrica 92,3 milhões […] Não pode viver com este nível de custos fixos”, alega Nuno Encarnação.

Desde 2018, o passivo subiu abruptamente, de 397,4 milhões para 526,14 milhões de euros. “O sucesso desportivo, de facto, tem havido, mas sempre à conta de ficar a dever mais a alguém. Isto não é vida”, escreve.

A SAD do FC Porto, recorde-se, apresentou um resultado líquido consolidado positivo de 33,405 milhões de euros na época 2020/21, o melhor resultado de sempre. “Apesar do impacto adverso da pandemia [de covid-19], o resultado líquido consolidado apresentado pela Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, em 2020/21, foi positivo em 33,405 ME, o melhor resultado obtido por esta sociedade”, informou a SAD portista, em comunicado divulgado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

“Ao fim de quatro anos, cumprimos todas as regras que a UEFA determinou para sair da alçada do fair-play financeiro. Vamos enviar à UEFA o resultado do exercício para que possa, em breve, declarar que o FC Porto cumpriu e saiu do fair-play financeiro”, referiu Fernando Gomes, na apresentação das contas.

O ativo, que atinge os 407,8 ME, cresceu 107,1 ME face a junho de 2020, principalmente, devido ao aumento dos saldos a receber de clientes, em 71,6 ME, mas também do valor contabilístico do plantel, em 33,9 ME, refletindo o investimento realizado.

O passivo cresceu 74,2 ME, ascendendo a 526,1 ME. De destacar que, apesar do crescimento global dos empréstimos, 59,7 ME da dívida são relativos à antecipação de contas a receber de vendas de passes de jogadores.

Para Fernando Gomes, a manutenção de bons resultados na Liga dos Campeões e a venda de jogadores é essencial para manter as contas do FC Porto equilibradas, pelo que, na janela de transferências de inverno ou no final da época, é fundamental realizar receitas com transferências.

O administrador considerou o ativo “sólido”, embora subvalorizado, devido ao valor atribuído ao plantel, na ordem de 110 ME, quando sítios de referência o avaliam em 265 ME, e formulou o desejo de os exercícios continuarem a apresentar saldo positivo.

Tags: