Prolongamento
“O povo foi espoliado em milhões e só oiço falar do futebol”, acusa Octávio
2020-10-15 11:10:00
Antigo dirigente do Sporting lamenta cerco apertado desporto-rei com impunidade noutras áreas

Depois de ser ouvido como testemunha, chamado pelo Ministério Público, na 12.ª sessão do julgamento do processo Football Leaks, Octávio Machado manifestou mágoa por ver o futebol servir para, na sua opinião, esconder todos os problemas do país.

Em declarações aos jornalistas, à porta do Tribunal Central Criminal de Lisboa, o antigo dirigente do Sporting aludiu aos casos que afetam a banca e que levaram à intervenção do Estado, com custos para o erário público.

“O futebol, como outras atividades, quer-se moralizado. Mas esta tentativa, com a moralização do futebol, de se tapar tudo o que se faz neste país é uma vergonha”, começou por dizer Octávio Machado,

O antigo futebolista, treinador e dirigente tem sido uma voz ativa na defesa do desporto-rei, considerando que existe um forte escrutínio sobre esta atividade (algo que saúda), mas sem que se verifique igual procedimento, por parte das autoridades judiciais, noutras áreas.

“Estranho só se falar no futebol e não se falar em casos que todos os dias estão na comunicação social. O povo português foi espoliado de milhares de milhões e não vejo nada. Só oiço falar de futebol, futebol, futebol”, reiterou.

Octávio Machado reconhece que há aspetos que devem ser alvo de atenção, por parte das entidades que gerem este desporto, mas repete a ideia e chega até a instar Ana Gomes, candidata a Presidente da República e voz ativa na luta contra a corrupção, a olhar para esse fenómeno, mas noutras atividades.

“Naturalmente que há coisas que têm de ser corrigidas, há coisas que têm de ser punidas, mas todos os que roubaram e espoliaram o povo português – desapareceram milhares de milhões – que sejam responsabilizados”, afirmou.

Para Octávio Machado, “não é o futebol que é o mal deste país” e "nem sequer foi o futebol que pôs o povo a fazer estes sacrifícios”.

Na audição realizada na 12.ª sessão do julgamento que senta Rui Pinto no banco dos réus, Octávio Machado confessou ter ficado “magoado” com o facto de se suspeitar de que o seu endereço eletrónico ter sido invadido, quando era diretor desportivo do Sporting.

O julgamento prossegue hoje, um dia depois das audições de Octávio Machado, Augusto Inácio, Vicente Moura e José Laranjeira.

Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.